Carência
Tem uma frase que diz mais ou menos assim: Não se deve ir ao mercado com fome, nem se relacionar estando carente, no primeiro suas compram sairão caras, no segundo seu relacionamento sairá barato.
Há momentos na vida em que nos sentimos sós, sem um propósito claro, com tempo de sobra para pensar nas coisas ruins da vida e em como podemos sair desse marasmo.
Somos seres humanos e momentos como esses fazem parte da vivência humana, esse não é o problema. Como também dizem: um problema não é o problema, a forma como reagimos a ele é.
Mente vazia não é só oficina do diabo, é fator determinante para mudar de lugar a régua do que acreditamos merecer, merecer como pessoa, como amante, como amor, mas não é só a mente vazia que funciona assim, o coração vazio tem o poder de potencializar essa mudança da régua de local, de forma exponencial.
Nos sentimos sós, mesmo com uma multidão ao lado, assim buscamos preencher essa dor, esse vazio no peito, na alma, com tudo e qualquer coisa que encontramos do lado, com isso duas situações perigosas podem acontecer:
Ou sufocamos aquele a quem direcionamos nosso foco de interesse, transferindo a ele a responsabilidade por preencher esse vazio e cobramos dele que dê conta do recado, cobramos atenção, cuidado, dedicação e exclusividade, não levando em conta a vida individual desse outro ser, sua rotina, seus anseios, seus limites, seus desejos, queremos tudo e queremos agora, buscamos intensidade, rapidez, vontade e não aceitamos menos, uma palavra fora de ordem, um silêncio mal colocado, uma visualização não respondida, um on line sem comunicação, tudo e nada vira razão para a mente e o coração se encherem de dúvidas e pressão.
Ou, mudamos tanto a posição da régua do que definimos como limite do que merecemos, nos sentimos tão sozinhos, que aceitamos qualquer migalha, qualquer sinal mínimo de interesse como suficiente, negociamos nossos sentimentos pelo menor preço ofertado, por não nos sentirmos inteiros, qualquer metade de qualquer coisa serve para aplacar a dor e o vazio que carregamos no peito.
Essas duas situações são perigosas porque em uma...
Queremos tanto suprir a falta que sentimos de nós mesmos que não percebemos que o outro, mesmo que queira, se esforce e tente, jamais será capaz de assumir a responsabilidade pela nossa felicidade, colocamos nele uma carga emocional tão grande, com exigências tão pesadas, que a física basica explica o final, a pressão não pode ser suportada e uma explosão não pode ser evitada, sentimos que o outro é insuficiente e o descartamos no primeira rompante de dor, ou esse não irá aguentar a pressão e simplesmente não encontrará razão para ficar.
Na outra, ficamos expostos e dispostos a nada, esperamos o mínimo, mas aceitamos menos ainda, a migalha de pão que cai sem sequer ser dada nos parece um banquete real que degustamos com todo cuidado com receio de não haver mais nada, nos doamos com a intenção de multiplicar, mas tudo vezes nada é nada, e se, ou quando, nos damos conta disso é tarde demais, o barato para o qual nos entregamos já é caro demais, a tendência é nos sentirmos ainda mais sós, o choro, o pedantismo são as moedas que usamos para demonstrar que aquilo não é suficiente, mas na conversão no cambio do sentimento, não possuem valor algum para colocarmos um basta e nos afundamos no mais profundo poço de nossa própria consciência.
Os momentos de carência, são os piores conselheiros para o amor, a teoria da caverna de Platão, para esses casos, é a melhor explicação, ficamos tão absortos pelas sombras do que inventamos, que vemos e sentimos coisas que jamais existiram ou existirão e perceber isso está simplesmente fora de cogitação, enxergamos desprezo, escassez, ausência, onde a rotina apenas se faz presente ditando a convivência, no contrassenso, enxergamos paixão, onde não existe afinidade, enxergamos tesão, onde a pele sequer se arrepia, enxergamos conexão com alguém que não significa absolutamente nada para nós, seguimos vendados pela enorme vontade de ter alguém do lado, por não suportarmos nos sentirmos sós.
Passados esses momentos, após recuperarmos nossa consciência, vemos que perdemos pessoas incríveis por termos colocado sobre seus ombros o peso insuportável de nós mesmos, já é difícil para si imagina para o outro que já carrega o peso de sua própria existência.
Ou, nos perdemos de nós, nos anulando de tal forma, para caber no mundo do outro, que ao olharmos no espelho não reconhecemos a sombra do reflexo do que somos, buscamos o amor fora e morremos por dentro por não termos nos amado primeiro.
Percebemos que tudo não passou de fantasia de uma mente turva e um coração cansado de se sentir só, o outro, sem culpa, pois fomos nós que nós infligimos esse martírio, não entenderá onde errou, sairá tão destruído quanto nós e não entenderemos o sentido de como tudo isso começou.