O pão dela
Quando chegava a sua casa, lá do velho portão de ferro, o cheiro penetrava as narinas, o estômago roncava, as lombrigas ficavam alvoroçadas .. . era um misto de sentimentos: fome, desejo, fascínio. Ah aquele pão. Amassado com as mãos precocemente enrugadas, calejadas, de tanto sol e labuta, às vezes com e, às vezes, sem cilindro, no muque mesmo, nas manhãs quentes de verão... depois iam para o forno à lenha que meu pai construíra no quintal , com tijolos, argamassa, técnicas rudimentares, caseiras da engenharia, uma obra de arte da arquitetura rural... Dona Chiquita era mestra, tinha todo um ritual para assar o pão: primeiro os gravetos que achava ao fundo do quintal, colocados como uma fogueirinha ao fundo do forno, depois, só um pouco de paciência, logo as brasas brilhantes, como seus olhos, surgiam: hora de colocar as folhas imensas da bananeira, para não queimar a base do pão. Uma hora, e a missão estava cumprida. Os filhos vinham pelo cheiro... nunca comi nada igual. Nem nos Cafés de Paris. E ela não fazia só pães de sal não... suas roscas doces, simples, caipiras, -- fazia apenas um melado de açúcar e água, e, ainda quente, passava sobre elas, para deixá-las bonitas e macias -- tinham sabor inigualável! De mãe. Fazia broas de fubá, fatias húngaras, sequilhos, tudo para agradar os filhos e netos, nas tardes alegres de sábado, ou domingo. Banquete dos deuses , acompanhado de um delicioso café preto, grãos selecionados, colhidos ali mesmo, no quintal, pelo velho Dega, secados na varanda da casa, socados no Pilão de madeira, moídos no velho moinho preto de parede, passados no bule de alumínio, em coador de pano, coisas de mestre, sem curso de barita, Q-Grader, que nada, meu pai fora criado na roça, com a enxada nas mãos, nas viçosas lavouras de café de Londrina, de terra roxa, fértil ; conhecia como ninguém a arte. E hoje, no dia do pão, vou ficar só com o cheiro afetivo e a saudade que invade meu coração...
@palmabenvinda