O "burrinho" do padeiro - BVIW
Calma, calma, não estou ofendendo o padeiro nem menosprezando sua inteligência. Já vou explicar a expressão de antanho, para não errar a mão nem o caminho.
Até meados do século passado, em muitas cidades havia o costume da entrega do pão e do leite, de manhã cedo, à porta das casas. O freguês acertava a entrega na padaria de sua preferência e pagava por mês, pela comodidade.
O entregador – que não era o próprio padeiro, obviamente – fazia o trajeto em uma pequena carroça puxada por um burrinho. Era um precursor do “delivery”.
Numa época sem GPS, o trajeto era previamente montado, segundo a proximidade e as conveniências. E todos os dias era o mesmo, sem alterações.
Ocorre que, às vezes, um freguês se ausentava e cancelava temporariamente a entrega. Mas o burrinho, pela força do hábito, não se desviava do caminho traçado, estacava na frente da porta da casa do ausente e de lá não saía enquanto entregador não descesse e subisse novamente na carroça. Burrinho ou não, era responsável e cônscio de seus deveres.
Daí que os antigos, quando se defrontavam com alguém que não aceitava mudanças, diziam: “parece o burrinho do padeiro, não muda o caminho.”
Brincadeiras à parte, creio que algumas vezes em nossas vidas, devemos agir como o burrinho e seguir o trajeto previamente determinado, sem desvios. A muitas dores nos pouparíamos, pois evitaríamos enveredar por caminhos tortos e enganosos.
Lu Narbot
Tema: Caminhos Tortos - Crônica