AS ÚLTIMAS BRAÇADAS

Parecia que não ia conseguir. Mas era muito pouco que faltava.

Somente umas dez braçadas. Eram apenas algumas braçadas para alcançar a minha meta de todo dia, meus mil metros.

Eu tinha que chegar, porque nunca fui de me entregar.

Naquele dia confesso que tive um pouco de medo. Começou a bater uma angústia.

Senti-me de repente tão frágil na raia de natação.

Estávamos dividindo-a. A jovem que me fazia companhia devia ser uns vinte anos mais jovem que eu.

Enquanto dava as últimas braçadas para completar a piscina pensava na vida e no quanto eu lutei para chegar aonde cheguei.

Deus, eu pensava, me destes um corpo tão vulnerável. Mas a alma que o habita tem uma energia tão grande.

Ela possui tanta coragem pra se levantar depois de cada tombo que chega a assombrar algumas pessoas. Uma enorme vontade sempre me comandou. Não gosto de ficar lembrando as coisas duras que passei, porque o passado já se foi. Mas existem momentos que recordar é inevitável.

Quando cheguei ao final da piscina fiquei olhando todas as pessoas que lá se encontravam, olhei um a um os que brincavam na parte de recreação. Depois os que participavam ativamente da natação. Enquanto meu corpo relaxava, eu observava tudo.

Lembrei de tantos fatos enquanto fazia este exame minucioso de cada pessoa presente.

Veio-me ao pensamento um médico de cabelos grisalhos. Já se passaram tantos anos e ele me chegou.

Parecia que estava mesmo à minha frente me fitando nos olhos e perguntando: ─ Você tem fé, garota?

─ Claro que tenho ─ respondi.

─ É bom mesmo que tenha, porque vai precisar muito dela. Vou ser bem claro com você. Existe apenas uma possibilidade num milhão de você ficar curada. Acredita que possa conseguir?

─ Se existe esta uma eu vou agarrá-la, doutor ─ eu falei.

Tinha dezessete, quase dezoito anos, e muito já tinha provado da dor e do desespero na vida.

Ele segurou minha mão.

─ Vou voltar a andar, doutor Fábio. Eu quero muito isso.

─ Então vamos lá, minha filha.

A enfermeira foi empurrando a maca em direção ao centro cirúrgico e meus olhos se prenderam no teto.

Existia uma chance de deixar a cadeira de rodas. Uma. E eu ia conseguir.

Acordei horas depois na sala de recuperação, sentindo intensa dor nos dois pés.

Depois de um tempo fui levada para o quarto e minha mãe ficou segurando minha mão, pois eu tremia muitíssimo...

O período pós-operatório se passou... os meses passaram. Exatamente 3 meses depois desta data eu dava os primeiros passos. Foi um reaprender a caminhar, mas em pouco tempo eu já estava bem.

Por muitas outras fases duras passei na vida, mas esta foi marcante. Eu tinha que acreditar com todas as forças de meu ser e acreditei. Depois disso tudo ficou mais fácil em meu viver. Descobri que existia dentro de mim a fé.

SONIA DELSIN
Enviado por SONIA DELSIN em 16/10/2024
Código do texto: T8174756
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