Coração de aventureiros

Nas manhãs de sábado, na casa da dona Dina, era uma alegria.  Júnior, Higino e Betinho após seus cafés, quando não tinham muito pra fazer, se permitiam começar o dia com um riso nem sempre aceito pelos outros, que estavam ao redor.

Quando esse estado não gerava confusão,  os três,  após o café com pão saiam pela lateral da casa e ficavam a confabular. Qual arte, qual aventura iriam embarcar?...

Se olhavam e como a fazer a leitura de suas vontades idênticas esperavam só a sugestão de alguém vir à tona.

Quando não era o Júnior era o Higino, a dizer a palavra mágica:

- Bora na ameixeira?...

Exatamente, como se via no sítio do pica pau amarelo, de Monteiro lobato,  nos personages da Emília,  do Pedrinho ou da Narizinho.

Os meninos, iam se esgueirando pelo chagão da dona Nazaré,  corriam pelos vários caminhos, daquele labirinto  a sair aos pés da badalada árvore,  que ficava próximo ao morrinho.

Lá arrumavam um jeito de subir,  para de seus galhos altos,  contemplarem a rua e os quintais.

Não faziam nada, mas só o fato de estarem lá já era o suficiente.

Mesmo não sendo a época dos frutos, amavam estar lá para contemplar a natureza,  curtir a altura, fortalecer suas amizades,  sentir a brisa e em sintonia com a  natureza viverem a essência de uma vida, de um momento único em suas idades, que se fazia em histórias pra contar no futuro.

Aquela versão romântica de traquinagem,  era tão significativa,  que os faziam pairar no ar, como os pássaros nos seios da natureza viva.

Tão envolvente,  que eles,quando lá, perdiam a  hora do almoço ou do jantar e quase sempre a avó deles, Nazaré no rastro das últimas vezes , em que eles estiveram por lá, ia buscá-los a peso de chicote.

Ela procurava  no solo, entoada na voz em gritos assim definidos:

- Higino, Betinho, Júnior onde voces estão seu moleques.

Eles ao ouvirem e verem todo aquele alvoroço, tentavam se esconder por trás das folhas da árvore, para descerem escondidos e fugirem do chicote, que nem sempre, o faziam com sucesso, pois um ou outro, em anarquia,  tomado pelo riso da situação,  acabavam se descobrindo pra ela que cansada e irada, aos identificar correndo em sua frente,  bradava em tom feroz:

- Já pra casa tomar banho pra almoçar, seus sem vergonhas. Estão com a cara lambida de suor. A ficar se arriscando nessa árvore.

E os três, corriam a bessa pra chegarem em casa e fugirem da peia.

Outros, que se encontravam na árvore ao verem a situação, como um alerta geral desciam e iam mais do que depressa pra suas casas.

No outro dia, mal o sol ascendia por detrás dos prédios, que já consumiam a antiga visão, eles traçavam uma nova aventura, apesar dos alertas do dia anterior.