FICANDO VELHO

É, tenho que confessar, estou ficando velho, o tempo está passando, não ele está voando, o calendário parece virar as páginas sozinho e eu aqui, ainda no tempo do "epa". Acho que sou o último cidadão sem PIX, não tenho e não quero ter, mas um dia serei obrigado a ter. Me achava o último romântico, mas estou ficando é chato mesmo, nem as flores me toleram mais.

Mas não é só por isso que me vejo velho, nem pela minha barba branca e cabelos ralos, mas sim porque ultimamente estou me lembrando de coisas antigas como se tivessem acontecido ainda hoje, nostalgia. Uma das lembranças recorrentes, e nítidas, é a do dia em que, esperando minha mãe na porta das Lojas Americanas em Volta Redonda, eu me dirigi a um policial e disse que ela havia me abandonado ali. Eu só queria andar de viatura, toda criança já quis ser policial e bombeiro, eu também, e queria sentir a experiência, quase fui, mas minha mãe chegou quando eu entrava no fusquinha, que saco, criança sofre! E a PM perdeu um praça.

A velhice está chegando, meu corpo dói aqui e ali, mesmo não fazendo nada, nada mesmo, pode ser pela falta de exercício, mas se faço o mínimo, dói onde ainda não estava doendo, é, estou velho e enferrujado, a barriga cresceu e daí ferrou tudo. Mas nada está perdido, ainda há o que funcione bem, os olhos, apesar da miopia, ainda conseguem enxergar perfeitamente.

Pelo menos ainda consigo escrever, ordenar as letras e as palavras formando um texto possível de ser lido, enquanto houver alguma coerência nesse processo continuo escrevendo, quando começar a ficar meio fora do prumo, paro.

No mais, continuo apreciando as moças bonitas no Calçadão, conversando fiado, tomando uma cerveja e tirando o gosto com torresmo, afinal, a vida continua...