O PODER DA IMAGINAÇÃO

O sonho é um atributo comum à maioria das espécies biologicamente mais evoluídas.

Quem já criou cães ou gatos viu que eles, dormindo, fazem movimentos, vocalizam e, muitas vezes, acordam agitados e procuram pelos cantos da casa as imagens que se formaram em suas mentes durante o sonho.

Mas, talvez, nós sejamos os únicos animais capazes de imaginar algo que sirva para melhorar nosso relacionamento com o ambiente e de criar as ferramentas ou as alternativas para que esses desejos se tornem realidade.

- O desejo de voar nos remete a Ícaro, filho de Dédalo da mitologia grega, cujas asas de cera se derreteram sob o calor do Sol, mas o sonho permaneceu e mais de dois milênios depois, Santos Dumont o tornou realidade.

- Mergulhar para conhecer as maravilhas no oceano profundo, levou o Jacques Piccard a desenvolver o submarino e, graças ao aqualung inventado por Jacques-Yves Cousteau podemos respirar debaixo d’água e nadar livremente sem estarmos conectados aos barcos.

- O programa Apolo 11 da NASA, usando as mesmas medidas para os artefatos, realizou o pouso na Lua que Júlio Verne havia idealizado 104 anos antes em seu romance Da Terra à Lua.

- Com as armas brancas, os grandalhões, fortes e valentes impunham pela força as suas vontades sobre os demais, mas com o desenvolvimento das armas de fogo igualaram-se as forças e os valentões podem ser abatidos com uma simples apertar de gatilho.

- Os veículos automotores aposentaram a tração animal, assim como o telégrafo aposentou o mensageiro entre as cidades.

Seria enfadonho enumerar as invenções ou adaptações que tornaram reais tudo aquilo que antes fora imaginado ou sonhado.

O progresso é fruto da necessidade ou da insatisfação com a realidade e a imaginação é a mola mestra do desenvolvimento. Mas para isso é necessário que haja estímulo à criatividade e treinamento das mentes, porque inteligência se ensina e é através dela que se criam as alternativas.

Antes as crianças ouviam as histórias que estimulavam a criatividade, mas essas histórias tradicionais hoje estão proibidas ou adulteradas por imposição de grupelhos sem significância, arautos de ideologias esdrúxulas, porque estamos vivendo tempos de fartura desmedida, ainda que existam bolsões de miséria absoluta, grande parte da população não precisa trabalhar para se manter, porque é mantida por bolsas e auxílios que privilegiam até criminosos reclusos.

A ociosidade obscurece objetivos e inibe o progresso.

Até bem pouco tempo, as crianças eram estimuladas a criar situações com os personagens como o papai-Noel, o lobo mau, a fada do dente, o gnomo do jardim, o Saci Pererê que se pegava com a peneira, o Caipora com os pés voltados para trás, ou a imaginar ambientes como a casa dos 7 anões, ou os adereços dos salões do palácio onde se realizou o baile da Gata Borralheira.

Hoje, quando se contam as histórias tradicionais, o significado lúdico é alterado como fazem com as fábulas de Esopo (Grécia, 620 a.C,) cuja principal característica é a moral contida no enredo.

O castigo merecido para a cigarra, preguiçosa e vadia, que passou o verão todo cantando e está a morrer de fome e frio, agora é alterado para a acolhida da generosa formiga que trabalhou sem descanso, construiu abrigo e juntou o suprimento para o inverno.

No meu entender essa inversão de valores sugere ao ouvinte que não precisamos trabalhar nem sermos previdentes, porque alguém há de fazer isso por nós e estará obrigado, como prega o comunismo, a dividir com os aproveitadores folgados que aparecerem.

Também estão proibidas as histórias, verídicas ou não, da nossa história pátria, as lendas e as festividades comemorativas ligadas às religiões de quaisquer origens, ao folclore e às tradições que herdamos dos povos formadores de nossa etnia.

Nessa semana que antecedeu ao dia das crianças, várias escolas e creches fizeram atividades envolvendo os alunos. Estabeleceram um dia para cada atividade como o dia da balada, festa do pijama, cabelo maluco, festa brega, etc. e isso causou frisson entre essa gente chata, que condena tudo por serem arautos do contrário que priorizam o NÃO para tudo e qualquer coisa com o argumento insustentável de que, nem todos podem participar e que essa não participação causa constrangimento às crianças ou que essas brincadeiras são atentado contra as igrejas que, longe de serem, se proclamam evangélicas.

Quer dizer que por causa de uma hipotética minoria, deixa-se de fazer algo agradável, estimulante e lúdico para a maioria.

A sociedade brasileira está vivendo tempos esquizofrênicos e adotando costumes sem propósitos válidos.

Breve teremos população sem imaginação, robôs de carne e osso guiados por algoritmo, incapazes de desejar coisas novas, apenas repetidores das palavras e ideias dos programadores da inteligência artificial desenvolvida por outros povos