UM AMOR ADOLESCENTE

Sempre fui apaixonada por ele. Desde o tempo em que eu era apenas uma menina e nada entendia de amor. Talvez por isto, jamais tive a oportunidade de tê-lo nos meus braços com a ilusão de que ele me pertencia e poderia ser somente meu. Durante muito tempo ele viveu debaixo do mesmo teto que eu e uma das minhas maiores alegrias era poder vê-lo todos os dias e acariciá-lo de vez em quando.

Meu pai jamais aceitaria qualquer proximidade com ele, uma vez que ele necessitava de uma dedicação exclusiva e de uma atenção que eu naquele ponto da minha vida, jamais poderia oferecer. Afinal, eu era muito jovem e precisava priorizar meus estudos. Pelo menos era esta a explicação que meu pai e os outros adultos da família me davam.

Certo dia, para minha mais profunda tristeza, meu pai resolveu tirá-lo das nossas vidas. E ele partiu deixando um enorme vazio dentro do meu coração. Aliás, posso afirmar, que naquele momento, ele partiu levando um pedaço do meu coração. Foi uma despedida muito triste e sofrida, a qual me fez chorar muito.

Naquele dia fiz um juramento secreto: O de que algum dia eu o encontraria e ficaria com ele para sempre. Ou melhor, ficaria com ele até o dia em que o amor acabasse, porque eu tinha consciência de nada é eterno. Nem mesmo o amor.

Alguns anos se passaram sem que eu tivesse a oportunidade de revê-lo. Mesmo assim, sua lembrança estava sempre viva no meu pensamento e no meu coração.

Saí de Baixa-Verde, minha cidade de nascimento e vim morar em Natal para dar continuidade aos meus estudos. Tinha decidido que seguiria a carreira de Jornalista e precisava me preparar para fazer o Vestibular.

Neste período também comecei a trabalhar e a ganhar meu próprio dinheiro. Sentia-me feliz por estar conquistando todos os objetivos que havia traçado na minha infância, porém, a lembrança dele ainda me atormentava. Já fazia muito tempo que estávamos separados e eu jamais o vira novamente.

Chegou o mês de dezembro e as lojas da cidade se enfeitavam para os festejos natalinos. Eu caminhava olhando a decoração das ruas quando, distraidamente olho para o interior de uma loja e lá estava ele, lindo como sempre. Da mesma forma como eu o recordava.

Puxa Vida, quanta emoção! Fiquei com as pernas trêmulas e o coração batendo descompassado. Uma vontade louca de correr e abraçá-lo tomou conta de mim, mas me contive. A loja estava cheia de pessoas, que certamente pensariam que eu estava ficando louca e freei meu impulso.

Como não havia nada que pudesse impedir, passei a visitar aquela loja todos os dias e ele estava lá sempre no mesmo lugar a me esperar. À medida em que os dias passavam, ele parecia mais bonito aos meus olhos e eu sentia que o meu amor aumentava mais e mais.

Minha vida se resumia àqueles poucos minutos nos quais eu passava diante da loja para vê-lo. Era enorme a minha tristeza por não ter como levá-lo comigo, mas naquele momento eu nada podia fazer. Precisava estudar com afinco para ser aprovada no Vestibular de Jornalismo.

Finalmente o dia com o qual tanto sonhei, chegou. Eu entrei na loja, com a voz cortada pela emoção e disse ao vendedor: Moço, por gentileza, embrulhe este violão. Eu vou levá-lo!