Esmaltes, Especiarias e a vida...
Estive pensando em como as pequenas coisas nos enganam. Na semana passada, fui a uma perfumaria para comprar esmaltes. (Nota mental: da próxima vez, tirar uma foto dos esmaltes que já tenho para não comprar cores repetidas.) Na trivialidade daquele momento de escolher um esmalte, fui tomada por um pensamento inquietante: como o esmalte é caro! Mas, sem dar muita importância a esse pensamento intrusivo, continuei minha escolha. Contudo, a indignação permaneceu em minha mente.
Em uma conversa com minha mãe, manifestei minha perplexidade: "Mainha, como esmalte é caro!" E, na mesma hora, fui repreendida, dizendo ela que era um absurdo eu achar R$ 5,00 ou R$ 6,00 caro. Acontece que não são apenas R$ 5,00 ou R$ 6,00. Pense comigo: é um vidrinho com 5, 6 ou, com muita sorte, 10 ml. Da marca que eu compro, o frasquinho costuma vir com 8 preciosos mililitros (dos quais eu só uso metade, e olhe lá, porque sempre fica grosso e impossível de usar). Agora, se formos fazer a proporção desse preço para 1 litro, teremos uma média de R$ 750,00 por litro! Veja só! Quantos de nós estaríamos dispostos a pagar R$ 750,00 no litro de uma bebida ordinária? Contudo, milhares e milhares de mulheres pagam esse preço proporcional diariamente enquanto escolhem seus esmaltes.
Nós nunca nos atentamos a isso porque é tão... tão... tão pequeno, não é? O mesmo se repete quando vamos à casa de produtos naturais e compramos temperos: páprica, pimenta-do-reino, cominho, dentre outros. Pesamos poucas gramas, e o valor parece pouco. Quando nos damos conta do valor do quilo, percebemos como são caras essas especiarias.
Talvez isso diga muito a respeito de nós mesmos e de como tratamos as trivialidades do dia a dia, sabe? Aquelas coisas comuns, pequenas, quase que... sem valor. Veja só, quantas vezes você realmente parou para analisar o funcionamento do seu corpo? Ainda não o fez? Te convido a parar por alguns segundos, respirar fundo e sentir o ar entrando. Sinta sua caixa torácica se expandir à medida que o ar entra. Ou ainda, o perfeito funcionamento de sua bexiga, intestinos, coração, pulmões, rins...
Enquanto escrevo esse texto, mal percebo que meus dedos se movem rapidamente, sem nenhuma dificuldade, graças a um comando dado pelo meu cérebro, em milhares de sinapses que acontecem sem que eu sequer perceba. Mas não é só.
O bom dia de quem te cerca, o cuidado, o "eu te amo"... o café da manhã daquele jeito que você gosta, aquela roupa cheirosa e bem passada que alguém preparou para você, ou ainda, aquele iogurte que seu companheiro comprou, sabendo que você gosta. Ah, e aquela mensagem de um amigo, no meio da tarde, só para saber como você está?
Poder deitar em uma confortável cama, se entreter com algum filme, comer algo que gosta, dormir bem, acordar vivo, ter um emprego, uma família, amigos... São coisas que no dia a dia quase não percebemos, porque parece que pagamos tão pouco por elas..., mas façamos a conta de quanto isso soma ao longo de uma vida!
Quanto vale essa cama confortável, esse café fresco e essa mensagem do amigo ao longo de uma vida? Qual o impacto de tudo isso em você, em quem você é e em quem está se tornando? Qual o valor disso, se somarmos em grande escala?
Que possamos aprender a dar valor às pequenas coisas que nos cercam. Cada esmalte, especiaria, mensagem carinhosa, cada momento simples de alegria contribui para a tapeçaria de nossa vida que está sendo tecida. Afinal, é a atenção a esses detalhes que pode transformar o ordinário em extraordinário.
Bom, talvez eu só esteja em uma fase “Pollyanna”, querendo ver com otimismo a vida que me cerca, enquanto o mundo está se afundando em um caos. Mas, considerando que o valor das pequenas coisas é muito maior do que damos na maioria das vezes, julgo ser bem melhor enxergar a vida pelas lentes da doce Pollyanna e continuar escolhendo meus esmaltes pelo valor que eles representam e não apenas pelo preço que eu pago em cada um...
Kelly Priscila
14/10/2024
Primavera