RECORDAÇÕES DE UM TEMPO LINDO

Ontem, Dia das Crianças, passei muito perto dos meus netos Arthur e Davi e, por circunstâncias, longe da minha Princesa Rafaela, mas com a certeza de que, independentemente da distância, ela passou, como passa, todo o dia, presente no meu coração.

À noite, foi impossível não pensar no tempo em que fomos crianças – em Rosário do Sul, eu e meus irmãos.

Naquele tempo a gente não tinha esta quantidade de brinquedos e divertimentos que os meus netos e todas as criança tem.

A nossa vida, lá anos finais de 1950, se dividia entre o colégio primário e o trabalho.

Eu, como o mais velho era o encarregado de vender as peças artesanato e bordados que a minha fazia e que eram e são os trabalhos mais espetaculares que vi na minha vida.

Eu estudava no Patronato e depois colégio do Padre, pela manhã e a tarde saia com sacolas cheias de capas de travesseiro, jogos de mesa, guardanapos de cozinha, toalhas de rosto e alguns lençóis todos bordados à mão com detalhes de flores tridimensionais ou frases e, arrematados, em todos os lados, com pontos regulares e perfeitos de Tricô.

Por orientação de colegas de aula que, também, eram vendedores de doces ou de outros trabalhos feitos por suas mães, encontrei na Zona do Meretrício, nos estabelecimentos do seu Anacleto Ramos, da Dona Isaura, do seu Dadá, da dona Iracema e, no Café Apagado, o meu público-alvo-mulheres jovens e de meia idade- com dinheiro disponível e muita sede de consumo.

Quase sempre, voltava para casa, com a sacola vazia e com o dinheiro suficiente para a comida da familia, durante uma semana.

Assim a minha mãe a Dona Zeli, foi a minha primeira Patroa.

Lá pelo início de 1960, nos mudamos para Rua Canabarro de fronte a estação Ferroviária de Rosario do Sul, cujos pátios serviam de depósitos, para as cargas de areia que caminhões e as carroças traziam em grandes quantidades.

Essas areias retiradas do meu rio Santa Maria eram compradas por empresários, e transportadas em vagões de trem e vendidas para Santa Ana do Livramento para serem usadas na construção Civil.

Nesse tempo eu já estava cursando o primeiro ano do ginasial no meu Eterno Placido de Castro e como, também, as aulas eram pela manhã eu empreitava perante o seu Negrito Argemi, vagões de areia onde cabiam 20 metros cúbicos e que eu junto com o Zepelin, o Camundongo e o Osvaldo Loco, começávamos a carregar, utilizando-nos de grandes pás de paliar, às 14 horas e às 18 horas dávamos por encerrado o serviço e recebíamos o valor acordado, pela carga do vagão, o qual dividíamos, igualmente, entre os quatro.

À noite, depois de ouvir com meu pai, o Reporter Esso, eu me recolhia a um canto da sala e fazia os meus temas de aula e relia, nos respectivos livros, o que tinha sido dado nas aulas de latim, inglês e Frances.

Trabalhei um dois anos com o seu Negrito que me dispensava grande atenção e incentivo por ser, eu, o único de seus trabalhadores, que estudava.

Nos fins de semana eu com meus amigos- dos quais faço referência ao Nêgo Pinga e ao Adauri- jogamos bolita, bilboquê, ou três Marias a troco de cigarro...

Em 1963, já adolescente trabalhei, por pouco tempo, com o seu Anacleto Ramos como responsável pela arrecadação de sua banca de jogo de bicho.

Foi pouco tempo, mas o suficiente para eu admirar a bondade do coração daquele homem de poucas letras, mas que a vida tinha transformado em cavalheiro educado e de palavras cordiais, no trato com seus colaboradores e amigos.

No final do Ano nos mudamos para o Beco dos Pintos, ali na Coronel Sabino de Araujo e neste ano eu já Cursava o Técnico de Contabilidade no inesquecível Visconde Mauá que funcionava à noite no Prédio da escola Marçal Pacheco.

Como às aulas eram de noite eu me ajustei com o seu Ataídes Aquino, como cortador de lenha, na lenharia que ele tinha na Andrade Neves atrás da Avenida Coronel Sabino.

Ali fiquei até 15 de outubro de 1964 quando- já com 17 anos- fui admitido como contínuo externo contratado do Banco da Provincia com a incumbência de limpar banheiros, fazer cafezinho, encerar o piso com cera Parquetina e fazer tudo o que gerente, o contador, o chefe de Serviço e os escriturários me mandavam.

Quem me indicou foi o contínuo mais antigo do Banco -o seu Ari Josende - ao qual fui, sou e serei grato ,por toda a minha vida.

Ali, sempre, respeitei e fui respeitado e de adolescente virei adulto, galgando postos e sendo promovido e já era subcontador, quando sai para o Banco da Amazonia, em 1970, aos 23 anos por ter passando em concurso publico no qual tinha 18 vagas e eu, por sorte e por Deus ter atendido às orações de minha mãe tirei o 18 º lugar.

Em 1970, sai da Fronteira e vim para Capital mas a minha Rosário do Sul e a minha fronteira, nunca saíram e nunca saíram do meu coração e da minha memória porque, lá passei os melhores dias como criança, como adolescente e como adulto.

Foram estas as lembranças que tive ontem a noite- do meu tempo de guri- as quais, embora, diferentes das lembranças que um dia terão os meus netos e os guris e gurias de seu tempo, me fizeram feliz e sou grato aos meus patrões do meu tempo de guri, do meu tempo de adolescente e de adulto que, com seus exemplos de trabalho, honestidade, de dedicação e fraternidade me ensinaram a me portar sempre, na minha caminhada, com dedicação, profissionalismo, educação, respeito e honestidade, valores que guardo e guardarei, para sempre.

(Recanto da Ana e do Erner 13/10/2024- Capão Novo)

ERNER MACHADO
Enviado por ERNER MACHADO em 13/10/2024
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