Um candidato do avesso
Caminhei léguas pedindo voto, voltei com punhado de flores.
Já falei que fui candidato a vereador, mas não contei tudo. Entrar para a política foi fácil, o difícil foi sair dela inteiro. Para mim, foi uma experiência valiosa, conheci o mundo e o submundo na mesma proporção. Vi coisas que jamais imaginei pudesse ver nos três meses que andei pelas ruas e casas pedindo voto. É incrível como perdi a vergonha. Entrava e saía das casas como se os moradores fossem velhos e queridos amigos. Uma falsidade de duas vias, mão e contramão.
Quando me informaram que eu era um candidato oficial e legítimo, foi um susto. Examinei-me completamente, sem querer acreditar no que acabara de ouvir, sai meio aturdido do diretório. Ingressei na campanha para apoiar o candidato à prefeitura que era um amigo de longa data. Ele ganhou a eleição.
Ainda me lembro do primeiro casal que passou por mim e que eu nunca tinha visto. Olhei para eles e disse: sou um dos candidatos a vereador, gostaria do voto de vocês. Olhei para dentro de mim e me lembrei do ex-governador Paulo Maluf olhando no espelho: este não sou eu!
Na véspera das eleições, quando pensava que já havia visitado todos os moradores que poderiam votar em mim, fui informado que havia dois rapazes que certamente ninguém teria ido visitá-los. Moravam longe, no meio do cerrado. Marquei de ir lá com um dos moradores que disse que conhecia o caminho, mas que não sabia da existência deles. Fui… Antes não tivesse ido. Uma cena para lá de deprimente. Imagine uma lona preta com um esteio de madeira servindo de pé direito de um suposto barraco. Não havia porta nem janelas. Parecia não ter vida dentro daquela masmorra. Dois seres “desumanos", negros, homossexuais, seminus em cima de uma cama de casal que mais pareciam dois sacos de ossos de mãos dadas. Não tive coragem para pronunciar uma única palavra. Sai de lá menor do que havia entrado. Quando já estava saindo o guia que estava comigo, perguntou: você não vai pedir os votos? Respondi: pedir para quem?
Saía de madrugada para convencer os eleitores de que as minhas propostas eram boas. Só queria ajudar as escolas. Como havia sido professor em uma Universidade, pensava que poderia ser útil para os alunos e a escola. Minha intenção era melhorar o ensino da cidade. O galpão, que eu havia conseguido para construir uma biblioteca pública, virou um grande sacolão.
Essa foi minha primeira e única participação efetiva na política. Confesso, fiquei ultra vacinado.
Quando cheguei em casa uma surpresa...
__ Ganhou?
__ Não!
__ Graças a Deus!