MUNDO MÁGICO.

Não me esqueço da fazenda Lindóia, já tantas vezes mencionada em minhas crônicas. O período da minha infância até aos doze anos foi vivido nesse pequeno reino encantado, não vou me cansar de falar do meu pedacinho de chão, quantas saudades tenho. Há momentos em que essas memórias são ativadas por gatilhos, nesses momentos entro dentro de meus próprios pensamentos na tentativa de reviver e de sentir toda aquela mágica que envolveu a minha infância e de meus irmãos. Dizem por aí que recordar é viver, sendo assim, hoje estou vivendo um pouco mais por força dos pensamentos e das boas lembranças.

O gatilho que motivou tais lembranças é o resultado de uma recente leitura. O livro em questão é da talentosíssima escritora, Nara Vidal, minha conterrânea. O livro que estou lendo é "Lugar Comum", uma coletânea de crônicas e contos. Na verdade, não era exatamente esse o livro que eu desejava ler da autora e sim o seu novo romance, por título, "Eva", contudo, como me utilizo da biblioteca eletrônica do Estado de São Paulo, "Biblion", o título que almejava estava emprestado, fiz a reserva, porém, como eu não havia lido nada da autora achei esse título disponível, "Lugar comum". Foi o meu primeiro contato com a autora, confesso que fiquei encantado com sua literatura.

Como eu disse antes, Nara Vidal é mineira, e nesse apanhado de crônicas ela visita suas lembranças de infância, as suas histórias repletas de aventuras no interior Mineiro. As descrições de sua cidade, curiosidades da pequena Nara, as brincadeiras, os personagens que marcou a infância, aventuras e travessuras com os amigos e primos. O seu jeito de narrar me encantou. O seu texto é simples, fluido e encantador. Como eu disse, o meu livro pretendido era outro, contudo, agradeço por ter lido essas crônicas primeiramente, o que me deixa com ainda mais vontade de ler o seu último romance.

O livro de Nara me transportou automaticamente para o meu reino encantado através de suas histórias, me levou diretamente para minha querida fazenda Lindóia, com suas terras vastas e suas montanhas, a sede da fazenda, a usina de aguardente - local onde meu pai trabalhou por anos - são tantas lembranças que nem sei sobre o que exatamente falar. Hoje, esse reino encantado já não existe. Talvez por esse motivo nunca tive vontade de retornar, prefiro ficar com aquela imagem da infância preservada. A casa onde morávamos, eu, minha irmã e meu irmão. Um quintal enorme, espaço para correr, o pequeno ribeirão que passava ao fundo, palco de tantas pescarias. Não tínhamos nenhum luxo, entretanto, a liberdade e alegria eram transbordantes em nossas vidas enchendo nossos olhos de uma inocência única.

Infelizmente, tudo passou, a vida trouxe novos ares, roubou a inocência, tirou a liberdade, o espaço, tudo. As pescarias no ribeirão ficaram apenas na memória. São Paulo me deu certo luxo do qual eu não tinha antes, todavia, o preço foi a ausência da liberdade, coisa rara por aqui. Talvez em outro momento eu fale mais desse meu mundo mágico. Não posso terminar essa crônica sem antes deixar os meus agradecimentos à talentosa Nara Vidal. Os seus textos simples e poderosos fez esse cronista desavisado voltar a ser criança novamente.

Tiago Macedo Pena
Enviado por Tiago Macedo Pena em 13/10/2024
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