DEVE TER DEIXADO O EINSTEIN BEM ORGULHOSO
Uma reportagem na revista Veja há um bom tempo relatou todos passos do primeiro transplante multivisceral do Brasil, realizado pela equipe do cirurgião Ben-Hur Ferraz Neto, do Hospital Israelita Albert Einstein, de São Paulo. O transplante multivisceral consistiu na substituição de vários órgãos ao mesmo tempo, nesse caso estômago, duodeno, pâncreas, fígado e intestino delgado. Durante muitas horas, Ben-Hur e seus colegas, ao todo 22 pessoas, cumpriram os procedimentos para superar as inúmeras etapas daquela empreitada complexa, iniciada com a retirada dos órgãos da doadora, de 39 anos, que havia morrido de derrame cerebral. Este procedimento durou cerca de duas horas num hospital público da periferia paulista. A revista descreveu em minúcias o empenho de todos os envolvidos, obstinados profissionais que ficaram desempenhando suas funções ao longo de 13 horas sem comer nada, certamente também inspirados e movidos por mãos que não estavam fisicamente ali, mas que guiavam cada procedimento de melhor forma. Fica difícll para nós, leigos, imaginar o que se passa na cabeça e no coração desses cirurgiões, anestesistas, instrumentadores, enfermeiros, assistentes e até do técnico de informática (caso alguma máquina entrasse em pane) durante o desenvolvimento do seu trabalho. Os 14 profissionais tiveram que sincronizar cada movimento, já que um gesto incorreto poderia colocar todos os esforços por água abaixo. Um trabalho exemplar de equipe, envolvendo técnica, organização, foco, sensibilidade e, sobretudo, paixão pelo seu ofício. Alguns segundos antes de começar os procedimentos no Einstein, Ben-Hur desejou emocionado aos presentes: "Que Deus abençoe a todos". Mais do que palavras de incentivo para aqueles desbravadores do conhecimento humano, ele estava endossando a ajuda divina que certamente estaria de plantão naquele local. Não dá para ficar impassível diante destes fatos tão marcantes, que comprovam o quanto a raça humana pode ser eficiente e produtiva quando decide unir suas forçar para ajudar o próximo. Diria até que são atitudes assim que fazem a raça humana valer a pena, contrastando com todas injustiças, barbaridades e crueldades que vêm marcando a nossa história desde os mais remotos tempos. Quando fizeram a retirada dos órgãos da doadora, um cheiro nauseante invadiu a sala, resultado do sangue misturado à gordura queimada pelo bisturi. Na hora do transplante, ficou ainda pior, somando-se ao cheiro deteriorado emitido pelo órgão da paciente receptora. Mas nem isso interferiu na concentração e precisão nos gestos da equipe do Dr. Ben-Hur. Nos procedimentos, foram utilizados 790 compressas, doze tesouras e 120 pinças, tendo sido aplicados 3.000 pontos! Vale lembrar que, somente no nosso país, 400 pessoas deverão se beneficiar desta técnica naquela época. Segundo a Veja, até a quinta-feira seguinte à cirurgia, a condição da paciente receptora, vítima de cirrose, era considerada satisfatória. Certamente o físico e matemático Albert Einstein, autor da Teoria da Relatividade, deve estar se sentindo orgulhoso, gratificado e feliz por terem escolhido o seu nome para este hospital, referência mundial em diversas áreas e que coloca o nosso país na linha de frente em diversos campos da medicina. Um sentimento que também enche de orgulho toda comunidade judaica brasileira, que idealizou e concretizou este respeitável empreendimento na área da saúde, com reconhecimento internacional, que vem gerando sopros de vida e esperança para milhares de pessoas há vários anos. É fundamental agradecermos aquela anônima doadora de 39 anos, cuja participação involuntária foi fundamental para o sucesso obtido pela equipe do hospital israelita. Pensando melhor, será que a sua participação foi mesmo involuntária?