TRAÍA DIZENDO IR NO TEMPLO?

A esposa toda semana, religiosamente, fazia visita ao templo de sua igreja, voltando algumas horas depois literalmente de alma lavada. O marido entendia aquela rotina como prova de fé e devoção, respeitando esses valores e princípios sem questionar ou interferir. Certo dia, pensou com seus botões: e se o tal templo fosse um motel e a tal prova de fé fosse uma safadeza a dois, ou a duas, acobertada por um álibi irrefutável? Queria dizer que, anos a fio, a devotada cônjuge lhe metia frondosos chifres na testa que ele, otário traído, nem desconfiava. Numa dessas saídas da mulher, quando ela tomava banho (seria pra disfarçar, é claro, porque na banheira de hidromassagem já teria feito sua higiene), foi vasculhar nas coisas dela, louco pra achar alguma pista que desmascarasse aquela beata farsante. Procura daqui, procura dali, nada de relevante foi encontrado. Talvez ela, precavida, tivesse feito uma limpeza criteriosa de todos possíveis vestígios da sua escapada semanal ilícita. É claro, seria ingenuidade e burrice extremas, deixar num canto da bolsa aquele sabonetinho com a inscrição Motel Chateau em baixo relevo. Foi cheirar suas roupas na certeza de que lá teria algum aroma do sexo praticado com lascívia naquele antro de perdição. Só sentiu o cheiro dela, sem qualquer ingrediente pecaminoso a mais. Sua pulga atrás da orelha não sossegava. Tinha que ter algo que escancarasse aquelas saídas a pretexto de cumprir certo mandamento divino. Mas que, de fato, era o passe-livre pra dar vazão a momentos de prazer que não tinha na própria cama com o companheiro de tanto tempo. Apesar da frustração do insucesso da sua busca pela prova da traição da esposa, o marido não desistiu de achar chifre na cabeça do cavalo. Certamente sua mulher pensava na possibilidade de trocar a ida ao templo por uma fogosa tarde num motel. Era isso! Por trás daquele rosto tranquilo e sereno que ela ostentava no retorno das saídas semanais, reflexo de ter cumprido a missão ordenada pelos céus, havia uma devassa com a mente entulhada de fantasias eróticas que deixariam Kama Sutra de cabelos em pé. Assim o marido descansou em paz, sabendo que era traído mentalmente por aquela que lhe jurava amor fiel e eterno e que nunca deu qualquer prova em contrário disso.

 

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 12/10/2024
Código do texto: T8171760
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.