Eleição

Cada voto é uma sentença, não sei se para o bem ou para o mal.

Considerando que estamos em época eleitoral, vou compartilhar um pouco da minha vivência como candidato a vereador em uma cidade do interior de Minas Gerais no ano de 2000, que elegeria o prefeito pela primeira vez. Assumo que trabalhei bastante para transformar o povoado em cidade. Naquela época, isso era consideravelmente mais simples. Atualmente, não tenho certeza se faria isso devido ao tamanho da cidade, que pouco mudou desde aquela época. Ainda hoje, não consigo entender o que é mais desafiador: transformar um povoado em cidade ou expandir a mentalidade de um povo.

Na minha inocência como candidato que fui, acreditava que seria eleito com uma certa tranquilidade, assim diziam as pesquisas que realizávamos periodicamente. Ledo engano! Visitei centenas de casas e fazendas, isso sem contar com as igrejas onde ia expor as minhas ideias para os religiosos.

Na véspera da eleição, durante o último comício, em cima de um caminhão inoperante, joguei tudo por água a baixo. Eu disse: não bebo água desta cidade, sinto pena de vocês! Vou lutar para remover o depósito de lixo situado ao lado da nascente; a pocilga localizada acima do olho d'água, bem como todas as casas de pau a pique localizadas à margem direita do córrego. Elas estão com o esgoto correndo ao ar livre bem na entrada da cidade. Um terrível cartão-postal. Além disso, vamos proibir lavar carroças e cavalos na bacia da nascente.

Naquele instante, o candidato à prefeitura me disse: você acabou de perder a eleição.

No dia seguinte, as conversas nas ruas e botecos eram: o candidato Pedro Cardoso afirmou que vai derrubar todas as casas dos pobres que moram perto do córrego.

Vinte e quatro anos se foram e as tais casas continuam de pé, firmes e fortes. O lixão e pocilga foram removidos. As carroças desapareceram. Os cavalos não entram mais na nascente nem mesmo para beber água.

Um episódio curioso que sempre me intrigava e me deixava perplexo: todos os candidatos se dirigiam ao cemitério quando um residente morria, independentemente de haver chuva ou sol. Todos faziam questão absoluta de cumprimentar os parentes do infeliz. Isso mais se assemelhava a uma comemoração, um genuíno Beija-mão. Aquele que não estivesse presente seria excomungado publicamente. Certamente eu também estava imerso neste emaranhado cadavérico. O falecido, não tinha descanso nem em sua última viagem. Na maioria das vezes eu nem sabia quem era o dito-cujo.

Depois daquele fatídico comício voltei para casa com o seguinte pensamento batucando em minha cabeça: perdi a eleição, mas um dia contarei essa e outras histórias para os meus amigos e netos.

Pedro Cardoso DF
Enviado por Pedro Cardoso DF em 12/10/2024
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