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Na vida toda, poucas vezes fui ao cinema. Lembro que a primeira vez foi numa cidadezinha do interior do Paraná onde vivi dos 5 aos 14 anos. Tinha 18 quando voltei para passar férias na casa de tios e primos.

Com a prima fui a primeira vez à discoteca e ao cinema. Esse que antes eu só ouvia as músicas pelos alto-falantes quando menina.

Fomos em grupo assistir um faroeste romântico. Lembro que no meio do filme fui beijada na boca pela primeira vez por um amigo de infância. E que à noite, ao voltar da discoteca o encanto acabou, porque ele queria mais do que um beijo e eu não estava disposta a dar... Sempre fui muito romântica (continuo sendo) e tinha sonhos de amar e ser amada diferentes de um 'ficar'...

Enfim... tudo isso para contar que poucas vezes fui ao cinema. Depois assisti, com minha sogra e meu, na época marido, Evita (com Madona) - aos 25 anos. Fui com meu filho e o filho de uma amiga assistir Nárnia em 2006. Com o filho e o pai dele assisti Shreck... Depois fui algumas vezes ao cinema com meu filho já adolescente. Com o ex duas vezes na vida... agora que me toquei...

Em 2015 conheci uma amiga que, como eu, ama cinema francês. E cada ano lá íamos nós para o cinema assistir a temporada. Pipoca, água mineral e aquele sentimento de fazer parte do filme e da época, do tempo, de tudo. Às vezes, rolava uma pizza (vegetariana) depois.

O tempo passou, veio a pandemia e o cinema com a amiga acabou. Ela mudou para a praia para ter qualidade de vida para ela, o esposo e o filho e eu fiquei com minha vida, minha solidão, meu gato e minha poesia...

O tempo passou, me separei, mudei para um canto só meu, divorciei e... fiquei com minha vida, minha solidão e minha poesia...

Então ela teve uma conquista bonita na vida. E pensou: se eu estivesse lá seria com Maria que eu iria comemorar. E iríamos ao cinema e comeríamos pipocas e depois do filme conversaríamos por mil horas. Como isso não era possível me enviou uma mensagem:

- Maria, quero te dar um presente. Um ingresso para o cinema. Escolhe o filme.

Eu aceitei, mas disse para ela escolher já que o presente era dela. Ela sabe que amo filmes impactantes de amores, romances, dramas, tragédias, lágrimas... enfim... não precisa ter um final feliz, basta impactar e me fazer pensar e sentir por dias, semanas a fio assim como um bom livro...

Em meio às opões do dia, ela escolheu "Não fale o Mal" (baita filme gente - faz refletir muiiiiitoooo - uma surpresa mesmo), um filme de terror (sim, eu gosto de filmes de terror). Não durmo depois, mas gosto do medo, do susto, me escondo, fecho os olhos, mas assisto. Não vou falar do filme, mas dou um spoiler do final: cara! a cena final está cravada em minha alma até hoje! Quer saber? Vai lá assistir - até o fim!

Junto com o ingresso um pix pra comprar o arsenal de sobrevivência. Lá me fui ao cinema. (Era a primeira vez na vida que ia sozinha ao cinema e acho que o décimo filme que assisti no cinema...) Ao invés da pipoca optei pelas "baboseiras". Bilhete na mão era hora de conferir a bagagem de sobrevivência: água, salgados, algo doce, haribo's suficientes para todo o filme... Lá me fui para entrar à sala do filme... 

Não podia, me disse o cara da bilheteria.

- Por quê não?, perguntei.

- Não é hora! 

Bah! Diacho! Que droga! Fazer o quê? Fiquei por ali, rondando... olhando as propagandas de outros filmes. Nisso entrou um moço com um copo enorme de pipocas e foi espalhando pipocas pelo chão. Ele via, mas nem ligou... foi pra fila e entrou para a sua sala com a multidão que foi junto... Eu fiquei sozinha aguardando 'a minha hora'. Comigo no espaço, só o cara da bilheteria... Pouca gente assiste filme de terror - isso se confirmou lá dentro da sala depois. 'Quase" sozinha lá também. 

Sem saber o que fazer comecei a ajuntar as pipocas que caíram do copo do moço. Ao recolher todas me dirigi à lixeira e joguei tudo lá dentro. Nem bem tinha feito isso ouvi uma voz:

- Moça! Ah, eu adoro quando me chamam de moça (e fazem isso sempre porque mesmo aos meus quase 80 anos pareço ter apenas 35 - não acredito, mas é o que me dizem rsr). Olhei, mas não fui. Não era 'hora' - quem me conhece sabe que sou 'teimosa'... ... é... sou sim... não podia dar o braço a torcer. 'Não era a hora'. 

- Moça! ele chamou mais uma vez.

Fui lá perto dele ver o que cargas d'água ele queria. Ao chegar perto ele me disse:

- Ainda não é hora, mas já podes entrar na sala! E me olhou com um sorriso querido.

Na hora não saquei, mas depois, mastigando meus haribo's já dentro da sala 'quase' vazia, refletindo melhor entendi: gentileza, gera gentilezas!