Amor eterno

Minha mãe hoje comemoraria mais um ano de vida. Lembro dela todos os dias. Com seu olhar terno e suas mãos sempre ocupadas em cuidar do mundo ao seu redor, minha mãe deixou gravado em mim um amor que nem o tempo consegue apagar. Ela tinha uma habilidade única: fazia cada momento parecer uma pequena obra de arte. Fosse o simples gesto de preparar uma refeição ou o cuidado atento de quem sabia que a vida é cheia de fragilidades, ela entendia que o amor é o que realmente nos mantém de pé.

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Certa vez, ainda criança, vivi um episódio que me marcou profundamente. Estávamos no ônibus e, em um momento de distração, acabei caindo do veículo em movimento. A imagem daquele dia permanece viva em minha memória: o desespero no rosto dela, a aflição enquanto corria ao meu encontro, e o misto de alívio e lágrimas ao me encontrar machucado, assustado, mas a salvo. Naquele instante, compreendi algo além da dor física: o coração de uma mãe não se abala com pequenas quedas, mas se despedaça ao ver o sofrimento do filho. Aquele abraço apertado que veio depois é um dos maiores tesouros que guardo da nossa história.

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Havia também aqueles dias em que a saúde falhava — uma gripe leve, uma indisposição ou uma febre. Ela estava sempre presente, com seus diagnósticos de mãe, pronta para cuidar de mim com a paciência de quem domina uma cura que vai muito além dos remédios. A comida simples, mas sempre saborosa, parecia ter um toque mágico. Nenhuma febre resistia ao carinho que acompanhava cada prato, ao aroma acolhedor vindo da cozinha, à sua presença constante no meu mundo.

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Mas o que mais dói, o que mais pesa no meu peito, é a lembrança do último adeus. Ela me acenava com um sorriso, um daqueles sorrisos que parecem prometer que a vida seguirá em frente, que tudo ficará bem. Eu, sem entender o verdadeiro significado daquele gesto, acenei de volta, inocente diante da despedida iminente. Não sabia que seria a última vez que a veria, a última vez que aquele sorriso seria direcionado a mim.

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Hoje, quando penso nela, sinto uma mistura de saudade e gratidão. A saudade é inevitável, como uma brisa suave que nunca se vai, sempre me tocando de leve, lembrando-me de que um pedaço de mim permanece no passado, junto dela. Mas a gratidão, essa é maior. Sou grato por cada momento vivido ao seu lado, por cada cuidado, por cada gesto de amor, por cada sorriso que ela me deu, até no último aceno.

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Minha mãe já não está mais aqui, e posso te afirmar: já se passaram quase três décadas desde que ela partiu, mas sua força ainda vive em mim — nas minhas lembranças, no amor que carrego e na pessoa que me tornei. Embora tenha partido, ela jamais deixará de ser uma parte essencial de quem sou...

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MMXXIV