Do telephone ao telefone
Quando Alexander Graham Bell inventou o telefone não sabia o incômodo que traria à família Padilha. Tudo porque Ênio é um usuário contumaz. Usa o telefone o tempo todo, para tudo e para todos.
Chega a ficar com o fone no ouvido durante três horas, como naquela madrugada de carnaval. O pai, Zito, procurou a prestadora de serviço para saber se não havia algum equívoco. Não foi preciso. Ênio na plenitude da jovialidade, apenas namorou durante essas três horas. Dois dias depois o romance havia desmoronado.
Depois passou a fazer umas quarenta ligações interurbanas por mês. Ligações locais, mais de noventa, sendo vinte para celulares. Não considerando as ligações locais para telefones convencionais, ele faz duas ligações interurbanas por dia.
Ênio, quando jovem, gastava horas ao telefone, repetindo: “tranquilaize”, aquela parada, tá dez, falou, falou.
Ao contrário dele, o pai até hoje tem alergia a telefone. Conta que quando jovem foi à cidade grande, paquerou uma garota que lhe passou o número do telefone. Como ele nunca havia usado aquele aparelho pensou que a jovem era uma mulher da vida.
O pai dificilmente recebe uma ligação. Ele chegou a comentar: “Qualquer dia desses vou ao orelhão da esquina, telefono aqui para casa, corro e eu mesmo atendo. Será a única maneira de alguém ligar pra mim.
Ênio ao se tornar um homem de verdade, profissional de respeito, não perdeu a mania do telefone. Ganhou um celular da empresa na cidade em que estava lotado. Dois meses depois o gerente o tomou de volta porque o gasto era exorbitante.
Quando viajava, sempre ligava cedo para sua chefia. Um colega seu, que costumava chegar antes do chefe, o atendia: “Bom dia, Ênio”. Do outro lado da linha, Ênio boquiaberto: “Como é que sabes que sou eu? ”
Certo dia, alguém perguntou:
- “Ênio, se tu fosses deixado numa ilha, quem tu irias querer para te fazer companhia? A Sandy, a Ana Paula Arósio ou a Vera Fischer?”
Ele prontamente respondeu: “Eu iria querer a companhia de um telefone celular, com carga e créditos infinitos”.
Aroldo Arão de Medeiros
12/12/2001