Crônica de um Desencontro
...Eu já estava lá há mais de meia hora esperando no shopping, quando ela ligou dizendo que estava a caminho. Fiquei um pouco mais tranqüilo. Mesmo sendo um segundo encontro, aquele deveria ser especial: Seria a primeira vez que ficaríamos sozinhos num quarto de motel.
Quem já ouviu falar de um encontro desses apenas para conversar? Pois é, foi exatamente o que combinamos! Ela combinou; nem eu mesmo acreditava nesta promessa. Na minha cabeça, iríamos muito além disso...
O celular tocou: -"Já estou no shopping", disse ela. - Estou bem a sua frente, respondi, e os olhos dela me encontraram; junto com aquele sorriso que jamais fui capaz de esquecer. -"Vamos?", disse ela e entramos no carro, rumo ao local combinado..
Estava ainda mais linda que da primeira vez, e suas mãos nervosas procuravam uma música qualquer no rádio do carro.
Vinte minutos depois chegamos ao motel às margens da rodovia. Estacionei o carro na garagem, e enquanto ainda subíamos uma pequena escada de acesso a suite, ela lembrou-me do combinado: Estávamos lá pra conversar. - Eu sei, respondi, sem acreditar muito em mim mesmo.
O quarto era coisa de cinema. Daria pra jogar uma partida de futebol de tão grande que era. Contudo, não estávamos lá pra isso.
Havia uma enorme cama espelhada bem ao centro, e tudo mais que sequer imaginávamos. O que mais chamou nossa atenção foi uma piscina coberta logo ao lado, separada por uma porta de vidro. Lugar perfeito para um encontro de amor...
O som ambiente não era a nossa música preferida, mesmo assim, ensaiamos alguns passos bem no meio do quarto. Talvez este tenha sido o melhor momento desse encontro. Pela primeira vez sentimos os corpos um do outro. Ainda hoje, sinto o seu perfume, como se ela estivesse aqui bem ao meu lado.
Sentei numa pequena cadeira e a puxei para meu colo. Ela resistiu um pouco, mas deixou-se conduzir. Perfume, corpos; tudo uma coisa só, e achei que a hora havia chegado, quando ela sentou-se à beira da cama me olhando acanhada.
Deitei sobre seu corpo, ainda vestido, sem ao menos tirar os sapatos. Que me lembre, foi o maior momento de intimidade que tivemos, ainda mais quando peguei sua mão direita e coloquei por dentro da minha roupa, enquanto beijava todo o seu corpo. Nem sei o quer era mais macio: se a cama, ou o toque dos seus dedos.
Impulsivamente, ela jogou seu corpo sobre o meu em movimentos alucinantes, e ali tive certeza de que a conversa combinada ficaria pra depois...
Contudo, o celular tocou insistente em sua bolsa: era o marido querendo saber onde ela estava. Sua fisionomia mudou na mesma hora. Arrumou os cabelos e as roupas desgovernadas e disse: - "Temos quer ir!"...
A conversa que havia ficado pra depois, não começou.
O amor que pensei para antes, nunca aconteceu.
E um outro encontro que sonhei, jamais existiu...