Entre Sem Bater - “Mindset” Vencedor ?

Renato de Faria disse:

"... diferentemente do que dizem os gurus do desenvolvimento pessoal, a filosofia não oferece um ´mindset vencedor'"(1)

O professor Renato Faria defende a ideia de que a filosofia poderia impedir muitas sandices que encontramos nas redes sociais. Eu diria que o trabalho dele é hercúleo e, eventualmente, estas linhas do "Entre Sem Bater" alinham-se com as propostas dele. Por exemplo, a crítica a coaches(1) e coaching(2) possuem uma aproximação enorme nas duas trilhas. Desse modo, neste momento, é necessário desmistificar este tsunami de falsos gurus e mitos na política.

"MINDSET"

Em primeiro lugar, devemos começar por aquilo que chamamos de arrogância dos estrangeirismo no Brasil. O "Complexo de Vira-latas" que assola o país apresenta uma tendência ao infinito que é assustadora. Nos últimos anos, o uso de estrangeirismos na língua portuguesa tornou-se, sem dúvida, uma prática comum, especialmente nas redes sociais.

Um dos termos que mais se destaca nesse contexto, notadamente entre picaretas do subdesenvolvimento pessoal, é “mindset”. Embora a palavra seja relevante no campo da psicologia e do desenvolvimento humano, sua utilização é puro vilipêndio. Coaches e influenciadores digitais exibem uma tendência criminosa: a busca de status e a construção de uma imagem de superioridade.

Podemos traduzir, grosso modo, "mindset" como "mentalidade", ou seja, como uma pessoa pensa e aborda os desafios e situações do cotidiano. No entanto, a popularização desse termo na maioria dos ambientes apresenta-se perniciosa, enganadora e hipócrita. Por exemplo, espaços onde a profundidade do conteúdo é necessária, apresenta-se a superficialidade e gera a banalização do conceito. Coaches e motivadores, em sua maioria, utilizam “mindset” como um jargão para impressionar seguidores. Desse modo, não oferecem um entendimento real ou uma aplicação prática que possa beneficiar verdadeiramente seus ouvintes.

Este comportamento arrogante reflete nos ouvintes e seguidores que não admitem sua ignorância e só conseguem curtir as idiotices. Esta arrogância das redes sociais extrapola para ambientes como a política eleitoral, debates sobre religião e outros, das ciências humanas.

ARROGÂNCIA E SUPERFICIALIDADE

O uso excessivo de estrangeirismos como "mindset" não é apenas desnecessário; é também um sinal de arrogância. Essa prática sugere que quem fala está em um patamar superior. Em outras palavras, é como se o domínio de termos em inglês confere um conhecimento mais profundo ou uma habilidade especial. Essa postura elitista afasta aqueles que não estão familiarizados com o jargão, o que é uma tática para evitar discordâncias. Por outro lado, também perpetua a ideia de que o valor de uma mensagem está diretamente ligado à sua complexidade linguística.

Além disso, o uso deste termo alinha-se com de promessas vazias e soluções simplistas para problemas complexos. Coaches que usam esse tipo de linguagem atraem seguidores em busca de respostas rápidas e simples. Desse modo, acabam oferecendo apenas superficialidades e platitudes. Essa abordagem é prejudicial, pois desvia a atenção das questões concretas para qualquer crescimento pessoal objetivo.

"MINDSET" E POLÍTICA ELEITORAL

As recentes eleições projetaram um destes coaches picaretas (pleonasmo !) que repete o estrangeirismo a cada lixo de ideia que vende. Poderíamos dizer: "pobres daqueles que seguem este sujeito". Entretanto, o que estamos vivenciando nestas eleições é um crescimento absurdo desta mentalidade nos seguidores de enganadores de púlpito.

Como se não bastasse, estes poucos enganadores entraram na mente das pessoas a ponto de se tornarem "mitos" e enriquecerem. O sujeito que ganhou fama nacional nestas eleições tem clones em todo o país, nas prefeituras e câmaras municipais. E, surpreendentemente, muitos eleitores e outros que têm algum grau de politização, surgem dando razão a estes coaches nas redes sociais.

O professor Renato de Faria utiliza um verbo que serve como uma luva para estes sujeitos: coachar(*). Os mais apressados dirão: - coaxar ´com "X" e não com "CH", mas podemos admitir que o professor criou um verbo que merece integrar o "Aurélio". O texto do professor que inspirou esta crônica fala sobre a picaretagem dos coaches, sem se intrometer na política eleitoral. Aqui, na trilha "Entre Sem Bater", vemos que em algumas cidades, como Beagá, o "mindset" do eleitor tem que sofrer um choque de realidade.

CAPITALISMO-COACHING

A crítica ao capitalismo-coaching e ao uso excessivo de estrangeirismos enfrentam enormes desafios e incompreensões. Outrossim, ela levanta questões fundamentais sobre a necessidade de um pensamento crítico e filosófico, especialmente em períodos eleitorais.

O professor Renato de Faria destaca que essas expressões podem servir como trapaças que dificultam a reflexão e a análise da realidade. Este texto, diante de gurus do coaching que prometem soluções simples e mantras motivacionais, reforça a ideia do professor Renato de Faria. Assim sendo, nos voltarmos para a filosofia, como uma ferramenta para a compreensão da complexidade social e política é essencial.

A FILOSOFIA COMO FERRAMENTA CRÍTICA

PENSAMENTO CRÍTICO

A filosofia nos ensina a questionar e analisar as ideias que se apresentam em qualquer espaço, real ou virtual. Em tempos de eleições, quando discursos simplistas e promessas vazias proliferam, é crucial o desenvolvimento de uma postura crítica. A prática filosófica permite que se examine não apenas as propostas políticas, mas também as ideologias subjacentes que as sustentam.

Desse modo, essa análise é vital para evitar a manipulação por discursos populistas ou por coaches que prometem transformações irreais.

REALISMO vs. ILUSIONISMO

O otimismo dos coaches, via apelos como o uso de "mindset", ignora certamente as complexidades da vida real.

A filosofia, por outro lado, nos convida a encarar a realidade e separar os otimistas dos pessimistas. Ao preferir aceitar soluções simplistas, como a ideia da teoria única(3), temos a oportunidade de contraposição com bons fundamentos. Em outras palavras, convidamos a investigar as causas dos problemas sociais e políticos, buscando soluções reais e sustentáveis.

Aristóteles já defendia, antigamente, a importância da virtude da prudência, o que implica em avaliar as consequências das ações antes de tomá-las. Por isso, o açodamento das pessoas em seguir mantras motivacionais está atacando a saúde mental das pessoas.

O PERIGO DOS MANTRAS MOTIVACIONAIS

Os mantras motivacionais dos gurus do coaching, inquestionavelmente, criam uma sensação falsa de segurança e eficácia. Esses discursos fundamentam-se em promessas de sucesso rápidas e fáceis. Dessa forma, desconsideram o esforço necessário para alcançar objetivos e metas reais.

Por isso, surge a desilusão quando os resultados não se concretizam ou quando as metas não atingem limites utópicos. Adicionalmente, a exibição de sinais de riqueza nas redes sociais podem aparentar sucesso, mas não passam de enganação. O caso recente da advogada Deolane é dos exemplos mais lapidares, e o pior é que o número de fiéis seguidores só aumenta. Em outras palavras, quanto mais ela entra na cabecinha oca de seus seguidores, mais fica rica.

A filosofia, certamente, nos alerta sobre a superficialidade dessas promessas, instigando reflexões sobre o sucesso e as realizações pessoais.

TEMPOS DE CRISE

CRISE POLÍTICA E SOCIAL

Em períodos eleitorais, a manipulação da opinião pública através de discursos simplistas é uma realidade irreversível. A filosofia deveria servir como uma balança que pesa as promessas dos candidatos contra os valores éticos e morais de uma sociedade. Um discurso filosófico deveria ser capaz de desmascarar falácias e manipulações, promovendo um debate mais saudável e construtivo.

Contudo, o discurso de que a polícia deve "prender e bater" arrebata até o pobre que vai ver o filho preso ou assassinado. Um pastor pedindo a morte dos que não comungam com seus dogmas é outro exemplo absurdo e criminoso de senso comum.

EDUCAÇÂO PARA O PENSAMENTO CRÍTICO

Assim sendo, é essencial promover a educação filosófica nas escolas e na sociedade em geral, principalmente de jovens e adultos. Isso não apenas capacita os indivíduos a pensar criticamente, mas também os prepara para resistir à influência dos enganadores. Enfim, uma população com opções de informação, verificáveis, é menos suscetível à manipulação.

Se a população vota no preconceito, no racismo e na segregação, está votando contra si própria e a favor do "mindset" dominador.

UM CHAMADO À REFLEXÃO

É hora de refletirmos sobre a nossa comunicação, inclusive e sobretudo nas campanhas políticas e eleitorais. Precisamos valorizar a clareza e a atualização em vez da ostentação linguística. O uso de palavras simples e diretas pode ser muito mais eficaz do que recorrer a estrangeirismos desnecessários. Ao invés de nos deixarmos levar pela onda dos jargões ou impropérios, recomendamos buscar uma comunicação que seja direta.

Em tempos eleitorais, essa prática se torna ainda mais relevante, pois nos ajuda a discernir entre promessas vazias e propostas concretas. Devemos rejeitar o otimismo ilusório dos gurus do coaching e buscar uma compreensão da realidade social, política e econômica que nos cerca.

Em suma, rejeitem políticos que utilizam de técnicas condenáveis nas redes sociais, a vítima será você, com certeza.

"Amanhã tem mais ..."

P. S.

(*) O sapo coaxa, o burro zurra; a ovelha bali, o boi muge e o cavalo relincha. Os coaches só podem coachar ...

(1) "Entre Sem Bater - Renato de Faria - ´Mindset` Vencedor?" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/10/09/entre-sem-bater-renato-de-faria-mindset-vencedor/

(2) "Entre Sem Bater - Jairo Bouer -  Os Coaches" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/01/19/entre-sem-bater-jairo-bouer-os-coaches/

(3) "Coaching - A Concorrência e a Hipocrisia" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2016/11/22/coaching-a-concorrencia-e-a-hipocrisia/

(4) "Entre Sem Bater - Karl Popper - A Teoria Única" em https://evandrooliveira.pro.br/wp/2024/09/03/entre-sem-bater-karl-popper-a-teoria-unica/