Um bom fim para um bom (re) começo: uma crônica sobre as "ironias" da política

Passadas as eleições, escorrem pelo rosto as lágrimas com o gosto de alegria pelo triunfo, de tristeza pelo revés, de alívio pelo suplício e de êxtase pela (des)esperança

“Curaçá vai retroceder”, dizem/torcem os derrotados; “Curaçá vai avançar”, almejam/profetizam os vitoriosos que fizeram a (des)necessária e legítima mudança

E vida que segue, sempre em frente, queiramos ou não, o tempo (s)urge, não admite mais atrasos/retrocessos e exerce com a maestria dum rei a sua pujança

Insultos proferidos (re)abriram feridas para o futuro, coisas que agora maduro, já aturo, enquanto os perdões concedidos cicatrizaram os cortes de outrora, feitos com língua afiada, e que ainda sangrarão, pois o poder cíclico (como de fato deve ser) sempre pairar sob(re) uma nova/velha aliança

A política é assim mesmo: “une e separa”, já dizia uma velha amiga, portanto, repare que não vale(ria) a pena crucificar/condenar as pessoas por suas posições (des)espontâneas/momentâneas, pois elas estarão novamente (des)unidas (ou não) numa próxima andança

Vi tanta gente desconjurar e falar mal dum (in)certo partido/presidente, mas que no final se rendeu ao bendito bandido (aquele ladrão de corações), e lançou ao alto a sua moeda da “sorte/azar”, ergueu bem a crista e cantou/agiu na rinha como um bom galo de briga, com a sua (in)falível (des)confiança

Ouvi tanta bobagem sobre os (des)importantes, os bêbados e os “doidos”, que foram submetidos ao ódio escuso/evidente de pessoas já obcecadas/transtornadas pelas ideias de seus pseudo-heróis, que se acham a quintessência da sociedade, que menosprezam, que não possuem empatia e que agem com destemperança

Vi tantos sonhos transformados em realidade serem inter(rompidos) pela vaidade, vi as luzes e a escuridão da cidade, desfilei altivo no tapete asfáltico da avenida, já sem a sombra de outras dú(vidas), e caí na lama dos esgotos que ainda escorrem a céu aberto, vibrei com cada conquista, mas quando fui barrado no baile, chorei que nem uma criança

Memórias foram des(construídas), desde a praça s(em) graça, agora sem o som dos pássaros e a ojeriza aos “bebim”, até o miado da gata no cio, o anúncio do cachorro peludo perdido e sapo cururu inchado por causa tanto “sal” que lhe fora lançado nas costas, tudo isso um dia virará lembrança

Assim como o “ui, ui, ui”, o “aceita que dói menos”, o “é um piseiro só” e o “gira, gira, girou”, a Paula “do céu”, que pre(viu) lá de cima/baixo a derrota, o “vai tomar pau”, o “vai ser tranquilo”, “o malvadão”, as “marolinhas”, as grandes ondas e tantas outras expressões como o “pegou pressão” e o “tchau, tchau, tchau…” que deixou todo mundo se tremendo, ficarão marcados, bem como as músicas do Lambasaia e toda a lambança

Os comportamentos “indecentes”, as interpretassões enviesadas, as (in)convicções da vitória, as mentiras propagadas como verdades para iludir os (des)esperançosos, as ingratidões e as traições (de quem mesmo?), o choro enviado por áudio, as imagens das caminhadas captadas/arquitetadas pelos drones e montadas/distorcidas a bel-prazer pra tentar engabelar o eleitorado, tudo isso pesou na balança

De um lado estava jovem simpático, educado, um servo de Deus, um ser iluminado, escolhido com o propósito de levar adiante o legado do seu antecessor e, como um Josué, guiar o povo; do outro estava um homem simples, sonhador, um verdadeiro beligerante que batalhou por anos, que foi derrotado anteriormente, mas que permaneceu em luta e que agora saiu vencedor por causa da constância de sua perseverança

Já era um pleito histórico para os dois, uma vez que ambos não possuíam grandes trajetórias na vida pública, nem eram herdeiros dos “velhos lobos” da política, embora estivessem acompanhados/apoiados por alguns deles; Enfim, venceu aquele que o povo quis, literalmente levado nos braços da multidão, donde emana o poder, venceu quem suportou as intempéries do longo percurso e que agora faz valer aquele velho ditado popular, também sustentado em salmo profético, que “depois da tempestade, vem a bonança”

Sinceramente, desejo que sigamos progredindo, que realmente seja “daqui pra frente”, que avance cada vez mais para um futuro próspero para todos, mas que também preserve e valorize a sua história, que reconheça o trabalho e a contribuição de quem já conduziu nossos destinos, e que os erros do passado, permaneçam no passado, agora é hora de desmontar o palanque, reatar os laços de amizade desatados em vão e unir forças, e que, com o bom fim da/na gestão, Curaçá possa, mais que princesa, tornar-se numa mãe/rainha para cuidar bem/melhor dos seus súditos/filhos, exercendo com primor e sabedoria a sua liderança/governança