ECLIPSE - Por Gabriel Canela
Todos os dias, Madalena se enciumava dos olhos de Mari, moça que morava do outro lado da rua, eram sempre cobertos, “eclipsícos”, por um véu de escuridão, que a deixavam mística, uma figura misteriosa. Ela era sutil, e não se revelava, olhos que não contavam história, mas traíam uma calma gentileza, sábia inteligência e uma sentimentalidade descomunal, que ela tanto mostrava nas poucas vezes que se encontravam. Madalena, moça simples, ficava obcecada, e nunca entendia em que mundo Mari viveria, para ter um olhar como o dela, e ainda sim, o sorriso doce. Achava-a surreal, tanto que queria ser ela, mas nunca podia. Um dia, Mari mudou-se e ela nunca mais a viu. Com o olhar coberto de tristezas, e um ciúme que agora só vivia em suas memórias, se viu emaranhada em muitos sentimentos que não compreendia, mas se sentiu também um tanto mais viva, deixando-se influenciar um tanto de todas emoções que passavam pelo seu coração, vista a fuga de Mari dela, flor que nunca floresceu, amiga ou algo mais que nunca conheceu, banhou-se em saudade, e logo, sumiu uma receosa inveja que tinha, agora sem motivo se nunca a via. Não sabia o que fazer, então por um momento, acabou por fitar os olhos à casa vazia do outro lado da rua, que era dela. Agora, em seu luto e emaranhado de sentimentos, estava coberta de vida, e nos seus olhos, eclipse.
De Gabriel Canela (23can)