Primavera: ciclo do otimismo
Para tudo há uma ocasião certa;
há um tempo certo para cada propósito
debaixo do céu:
Tempo de nascer e tempo de morrer,
tempo de plantar
e tempo de arrancar o que se plantou…
(Eclesiastes, 3)
Há quem afirme que os segredos da vida estão dentro de cada um de nós; no entanto, o homem sempre buscou fora dele as respostas para as suas dúvidas existenciais. Ao longo dos tempos, mesmo conhecedor da célebre frase do sacerdote alquímico Hermes Trismegisto, afirmando que: “Tudo o que está em baixo está em cima”, ele, o homem, tem procurado no Universo respostas para tais enigmas que o compõem e o circundam.
Nessa eterna busca muito já se descobriu ou, pelo menos, se acredita nessa afirmativa. Contudo os questionamentos sobre as leis naturais que regem a vida no Universo são infindos.
Uma das muitas curiosidades descobertas nessa senda é que, no Universo, e nele nos incluímos, tudo está em constante movimento evolutivo, nada é estático, embora às vezes, assim o pareça. O processo de evolução e involução é mais corriqueiro do que se imagina.
Mas será que, de fato, é assim que a coisa funciona? Ou são apenas especulações?
Estudos mais aprofundados nos mostram fatos que justificam essa ideia. Os ciclos são os mais comuns dos exemplos desse processo. Alguns são longos, quase não se percebe o desenrolar do mesmo; outros curtos, portanto visíveis e mais fáceis de se notar, mas a característica fundamental que os evidenciam são a sequência cíclica de: começo, meio e fim; ou seja, um estágio de recomeço, um de continuidade e um de repouso. Como sempre, o ciclo se fazendo operar na lei natural do Universo!
Focando no assunto em questão, eu citarei o ciclo das estações do ano, estas, por sinal, englobam outros quatro ciclos menores: primavera, verão, outono e inverno.
Esse grande processo compreende os trezentos e sessenta e cinco dias do ano cristão, subdividido, como já enunciado, em quatro ciclos menores. As mudanças ocorridas em cada período desse grande ciclo estão ligadas aos movimentos da Terra em torno do próprio eixo – rotação, e em torno do Sol – translação. De acordo com a quantidade de luz e calor recebidos, as estações se completam e, peculiarmente, se fazem presentes aos nossos olhos.
Vale salientar que esses períodos naturais das estações do ano nem sempre são totalmente observáveis, pois, em algumas regiões próximas à linha do Equador, devido a incidência maior dos raios solares, elas atingem temperaturas mais altas, por isso são mais quentes, interferindo diretamente no clima e na vegetação. Assim sendo, percebe-se apenas dois períodos distintos: um de chuvas e outro de estiagens. Embora, para aqueles mais atentos, sutilmente distingue-se algumas diferenças na natureza nos citados períodos.
É incrível como, a cada estação, naturalmente tudo vai se modificando. Embora nem sempre a olhos nus, a vida vai despertando devagar, buscando, na memória de cada célula, a essência a ser acionada.
É notório que cada uma das estações do ano traz consigo uma beleza própria, mas não há quem conteste que a primavera é a mais apreciada de todas.
Estudos constatam: na primavera os seres vivos, em sua maioria, renovam suas expectativas de evolução. Sentem-se mais otimistas em relação à vida.
Talvez por ser entre as estações a mais amena, ou porque chega de mansinho e mexe com tudo e com todos. Não sei.
Acredito que a alegria que se apodera de cada espaço da natureza, tornando-a mais harmoniosa, seja também a responsável pela verve poética que se instala na alma de todo ser vivente.
Tornamo-nos poetas, mesmo sem possuir tal dom, pois é impossível observar tamanha beleza, sem se deixar levar pela emoção!
A natureza se reveste de flores, oferecendo aos nossos olhos um colorido fascinante e, ao nosso olfato, perfumes para todos os gostos. Suas ramagens verdejantes e os brotos em evidência convidam a passarada – que parece ansiar por esse momento – a empoleirar-se nos galhos.
Sem falar nas coloridas borboletas que, além de darem o toque final no layout dos jardins, polinizam as plantas. Essas aguardam pacientemente essa visita faceira para reproduzirem suas flores, mais e mais…
E os seres humanos? Ah!... Estes gostam tanto dela, que a reproduzem nas estampas de seus objetos de uso pessoal e do próprio ambiente, para que não se percam de vista.
Fato é que, independente da minha vontade ou de outrem, citando Cecília Meireles: “A primavera chegará, mesmo que ninguém mais saiba seu nome, nem acredite no calendário, nem possua jardim para recebê-la. A inclinação do sol vai marcando outras sombras”. Os ciclos continuarão a existir, cumprindo com o propósito de Deus no Universo.
O melhor a se fazer, haja vista sermos parte do todo, é estar em uníssono com o pulsar do planeta.
Preste mais atenção ao sussurro dos ventos entre as folhas, ouça o chilrear dos pássaros, sinta o perfume do mato, das flores, do ar. Enfim, curta cada instante dessa primavera: ela é única no mundo, e aos seus sentidos!