Novos planos
Hoje, enquanto aguardava a vez num consultório médico – não se admire, consulta de rotina –, me vi folheando uma revista de arquitetura. Me dei conta, de repente, que meus olhos percorriam avidamente cada projeto ali exposto e, diante de tão belas e arrojadas ideias, minha alma se extasiava de prazer. Voltei sem querer no tempo, quando o sonho da casa própria ainda povoava os meus dias – há muito já realizado. Repassei, na mente, cada plano arquitetado.
Em meados dos anos oitenta, vim para esses lados em busca de novos ares. Aqui cheguei, “sem eira nem beira”, mas movida de muita esperança. Para minha surpresa, encontrei muito mais do que esperava. O tempo parecia pouco para acomodar todos os meus sonhos acumulados e crescentes a cada dia.
Alugamos uma casa no Conjunto Habitacional Ponta Negra, onde permanecemos por três adoráveis anos.
A alegria permeava as nossas manhãs que, por obrigação, respirávamos a brisa marítima logo cedo. A chegada de barcos de pesca na praia era uma verdadeira festa. Meus dois filhos reinavam num espaço pouco habitado nos cinco primeiros dias da semana. Juntavam, em qualquer recipiente, os peixinhos que eram descartados pelos pescadores; para, depois, brincarem com os bonequinhos do playmobil. Nessa época, a praia de Ponta Negra era praticamente de pescadores – uma belezura! Nos finais de semana é que se observava um movimento maior.
Uma rotina deliciosa ocupava os meus dias. Recordo-me de que, enquanto eles construíam os castelos na areia, eu arquitetava os meus no pensamento.
De volta à casa, o quadro mudava de figura, cada qual com a sua obrigação – banho, almoço, escola, arrumação da casa. Enfim, íamos nos organizando para o segundo expediente.
As tardes – quase sempre ociosas – despertaram em mim a vontade de voltar aos estudos. Resolvi dar continuidade a eles através do Ensino Supletivo. Comprava os jornais e assistia às aulas do Telecurso do 1º Grau, pela TV. Tive um pouco de dificuldade com a Geografia e a História do RN, mas nada que não fosse superado com livros regionais. Concluí, com êxito, o Fundamental Maior. Esse foi um dos muitos sonhos sonhados e realizado. Outros tantos rodeavam a minha vida.
Ali no consultório, passou pela minha mente a alegria vivida quando da aquisição do nosso primeiro carro, em terras potiguares. Um Opala cor de laranja que, embora de segunda mão, nos foi muito útil durante um bom tempo. Não era bonito, mas confortável; e, além de instrumento de trabalho do meu marido, com ele passeamos muito e conhecemos lugares maravilhosos.
Entretanto, o desejo da casa própria ainda latejava na mente. E, não sem muito esforço, o grande dia chegou. Apareceu uma proposta do tamanho do nosso bolso e lá fomos nós olhar a casa. Acostumados com grandes espaços, num primeiro momento ficamos meio decepcionados, mas compramos assim mesmo. A ideia de reformas nos acompanhava. E foi nessa época que comecei a comprar revistas de arquitetura, com o objetivo de recriar o nosso futuro espaço.
Passamos a incluir, nos nossos passeios, uma visita semanal a casa. O terreno era grande o suficiente para todas as reformas previstas. Nele já havia algumas árvores frutíferas – manga, coco, goiaba, pinha, mamão e limão – nosso maior sonho de consumo.
Situação inesperada, sem nenhum planejamento engravidei de minha filha caçula e, assim que ela nasceu, meu esposo veio transferido aqui para a cidade de Mossoró. Como uma avalanche, as coisas foram acontecendo inesperadamente. Quando se é mais jovem, ficam mais fáceis as adaptações, graças a Deus!
Assim sendo, meses depois, mudamos todos para cá. Deixamos para trás nossa casinha, nossos projetos e alguns sonhos. Agora, tudo era diferente: contato maior com os parentes mais próximos, novos vizinhos, novos amigos, continuidade dos estudos. Enfim, a jornada continua.
Vida nova! Novos planos!