O imprevisível acontece - o criador acima de tudo.

Frequento a Praça Benedicto Calixto, no bairro de Pinheiros-SP. Trata-se de uma praça aconchegante, onde há barracas de antiguidades e bons restaurantes. Nela há visitantes comuns e outros inusitados. Todos os sábados que posso vou lá vender meus livros. Isso porque a vida de autores independentes aqui nesse país não é fácil. O apoio aos autores independentes como eu pelas editoras, só acontece quando se tem o nome já feito e antes de ser uma estrela na literatura, pouquíssimos, tem o reconhecimento dessas editoras.

Assim, levo a vida como mascate – mascate dos livros que eu mesmo escrevo e produzo.

Mas, meu anjo da guarda é forte: vez ou outra sou surpreendido por situações imprevisíveis, e só explicadas pelas mãos do divino.

Hoje, sábado, dia da feira da Benedito Calixto, como é conhecida, estava eu lá, oferendo boca a boca meus livros, quando um senhor de língua estrangeira, exclamou em inglês – quero todos os seus books. Acredito que nem olhou que eram de temas diferentes: Crônicas, Contos, e um de Poesias...

Um de seus acompanhantes – talvez familiar, ou assistente, ou amigo, se dirigiu a mim, e disse-me o nome dele para que eu os autografasse.

Um por um, fui autografando: Ao Mister Bala, “com carinho”, no outro, ao Mister Bala “com um forte abraço”, e no último não me lembro o que escrevi.

Daí, inexplicavelmente ele tirou um bolo de notas e pagou-me com um valor bem superior ao valor de cada livro. Algo, como o triplo do valor de cada um...

E não parou aí, ele, o mister Bala apresentou – me a sua família, uma neta e um neto, que pediu também, orientado por ele, mais três livros, e seguindo a orientação do avô, pagou-me com um valor, também bem superior.

Senti, naquele momento, que estava na presença de um homem sábio, que não só valorizava a cultura, como queria dar exemplo a sua família. Nas entrelinhas estava dizendo: “cultura não tem preço, e que não é gasto, e sim investimento.

Intrigado, perguntei ao jovem que estava com ele, o nome, deste cidadão, que havia me cativado com este gesto genuíno e com sua expressão da mais pura humanidade.

Feliz, e com os dados em mãos, voltei para minha casa, sem livros (com todos vendidos), e com a intenção de pesquisar sobre este sábio senhor. Descobri que seu nome bem difícil, mister “Balasubramaniau”, nascido na Índia – e que era doutor em química!

Desisti de continuar a pesquisa para não correr o risco de cometer nenhuma gafe com esse ilustre cidadão Britânico, porque o que realmente me interessou, foi a sua simplicidade, seu sorriso meigo, e sua atitude ímpar, somente possível a um intelecto que valoriza o aprendizado, e a cultura, tão deficiente em nosso país.

Recordo-me que meio entusiasmado dei-lhe um beijo na testa de agradecimento, e queria lhe dizer, talvez em inglês (língua que infelizmente não domino), que eu era consciente que seu ato não era simplesmente bondade, mas sim um exemplo de atitude para seus familiares, e para quem teve a felicidade de conhecê-lo.

Obrigado, Dr. Bala, melhor dizendo - Doutor“Balasubramaniau”, ( um sábio. visitando nossa terra), e volte sempre que puder ao Brasil.

jaeder wiler
Enviado por jaeder wiler em 07/10/2024
Reeditado em 07/10/2024
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