MOSAICO

A cada dia amanheço concluindo que sei bem menos que antes e necessito urgente aprender muito mais. Ou seja: ontem eu nada sabia, hoje sei ainda menos. Certamente nunca vou conhecer tudo como gostaria. O conhecimento é um universo incomensurável e inatingível em toda a sua plenitude. Absolutamente ninguém, imagino, está apto a dizer que é mestre em tudo. Poucos sabem muito sobre alguma ciência, não seu tudo, o que não é quase nada; a maioria tem conhecimento meridiano do mínimo, e isso é menos que nada. Um pouco escabreado, porém consciente dessa verdade, confesso: nada sei.

Veja, por exemplo, uma equipe de cirurgia se preparando para uma operação de alta complexidade, digamos um transplante de coração: é formada pelo cirurgião e seus ajudantes, anestesistas, enfermeiros, especialistas nessa ou naquela área e tantos outros, cada um respondendo pelo conhecimento que detém em determinada especialidade para a perfeita consecução do objetivo. Em conjunto, eles vão executar um trabalho de alto nível esperando que todos estejam realmente preparados e sejam peritos no seu saber específico para que a tarefa abraçada seja concluída com sucesso. É evidente. Além da necessidade de outros cirurgiões e ajudantes, o responsável pelo transplante com certeza não estaria apto a fazer todos os procedimentos para alcançar a ambiciosa meta proposta.

As crianças, inclusive, têm muito a nos ensinar. Bem assim os filósofos, os escritores, os poetas, os bêbados – claro, os bêbados também, ora! - os simples, todos enfim. De uma maneira ou de outra, somos todos experientes professores da vida. Alguém já percebeu como as criaturas ingênuas estão cheias de ensinamentos importantes para o nosso viver? Os próprios mendigos, com sua vidinha sem rumo e sem espaço para o porvir, sempre encontram no âmago de si mesmos, malgrado a agonia de não ser ninguém em meio à sociedade, repentina frase contendo um mundo de estranhas verdades. E, por vezes, calam fundo no coração de seus ouvintes. E alguns bêbados? Nem sempre, é claro, mas por trás de suas incongruências etílicas, às vezes, achamos algo diferente, ainda que difuso e um tanto pueril, sabemos, capaz de servir de alguma forma benéfica para acomodar-se nas pedrinhas desse mosaico esplendoroso que é a existência humana.

Por outro lado, quem diria que nas frases de pára-choques de caminhões encontraríamos verdadeiras lições de vida escondidas em termos nada comuns? Verdades ocultas nas entrelinhas daquela filosofia prosaica poderiam ser divisadas? Depende muito dos ângulos e pontos de vista, em todo caso, deveras. Um estudo mais aprofundado precisa algum dia ser realizado para descobrir as pepitas de ouro ali escondidas. Lapidadas ao ponto, certamente visualizaremos bem mais do que querem expressar. E aprenderemos muito mais, também, com elas, é óbvio.

Sócrates, eminente filósofo da antiguidade, afirmou “saber que nada sabia”. Quando um grande pensador como ele chegou a fazer tamanha declaração - nossa! -, quem teria coragem de afirmar que sabe algo? Decerto ele percebeu ser impossível ao simples ser humano armazenar todo esse universo de conhecimento espalhado nos quatro cantos do mundo entre todos os homens. Isto é, por conclusão: todos nós temos qualquer lição para ensinar ao nosso semelhante, ainda que essa lição seja pequena, mínima até, porém valiosa para ampliar a sabedoria humana. Todos nós temos relativo conhecimento de alguma ciência, popular ou não, quase nada do todo, é vero, mas de modo que juntos, unidos como um enorme feixe de lenha, nos tornamos o conjunto do saber. Ninguém, ninguém mesmo, sabe a complexidade do todo, mas todos nós conhecemos um pouco desse tudo para que o homem saiba o necessário.

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 14/01/2008
Código do texto: T816800
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.