O SENADINHO

Francisco de Paula Melo Aguiar

Quem quisesse ouvir às notícias do dia dos jornais: O Norte, Correio da Paraiba e A União, dentre outros de menor importância, espécies de cópias dos primeiros, bastava passar e parar para conversar com o nosso Zezinho Aleixo, de saudosa memória, estabelecido na calçada da oficina do rádio técnico João Maciel, de frente para a Cadeia Pública de Santa Rita.

Isto é fato ocorrido lá pelas décadas de 60, 70, 80 e 90 do século XX.

O nosso homenageado Zezinho assim denominou sua barraca: O Senadinho, inclusive escreveu com tinta a óleo em sua latária.

E quem frequenta o senadinho de Zezinho Aleixo?

A população em geral, com raríssimas exceções, uma vez que a barraca de pequenas dimensões estava implantada na metade da calçada antes citada, feita de madeira e zinco, com um pequeno balcão móvel e um taborete pé de priquito, ali ele sentava e atendia seus clientes que iam lá fazer suas apostas no jogo do bicho, outros pedir um copo com água para matar a sede, outros para comprar cigarros de pobre e outros de rico, um isqueiro e o que vendia mesmo eram as noticias faladas do dia publicadas nos jornais e bem assim o boca a boca dos pronunciamentos dos vereadores ( Francisco Aguiar, Anibal Limeira, Israel Diniz, João Gadelha, Oildo Soares, Lula Chinês, etc) na Câmara Municipal de Santa Rita e ou dos deputados de Santa Rita com assento na Casa de Epitácio Pessoa.

Por outro lado, quem quisesse se atualizar sobre o que aconteceu ou ia acontecer na cidade, bastava frequentar o senadinho, e até porque naquele tempo ainda não existia por aqui o telefone celular e muito menos a internet com suas redes sociais cheias de bondades e maldades da vida alheia.

Existiam muitos panfletos ou boletins anônimos botados ou jogados debaixo das portas das casas de nossa população, principalmente em épocas de eleições falando da vida alheia dos candidatos concorrentes.

Em Santa Rita eram poucas as pessoas que compravam os jornais, via assinaturas e entregas diárias domiciliares na banca de jornais e revistas de José Alves (Zé de Tôto), in memoriam, inclusive quem fazia a entrega domiciliar dos jornais era seu Tôto, o pai de Zé de Tôto, que assim a cidade carinhosamente aprendeu o chamar.

Ressaltamos de que no senadinho de Zezinho Aleixo, saiam as noticias boas e ruins também que fluiam naturalmente, sem perfidias e maldades direcionadas, lá era uma espécie de ponto e contraponto das falas da cidade para gregos e troianos.

Em outras palavras, lá frequentemente passava a elite e o rústico, a exemplo, de dona Izabel Bandeira Brasileira, ora a pé e ou montada no seu cavalo, segurando a bandeira do Brasil e dizendo que ia e ia mesmo ser recebida pelo governador João Agripino, no Palácio da Redenção.

Zezinho Aleixo, ouvia todos bons e ou maus depoimentos da situação ou da oposição local, dos políticos/lideres dos partidos MDB e ARENA, ambos nascidos com a Revoluçãode 1964, a exemplo de Heraldo Gadelha, Antonio Teixeira, Egidio Madruga e por fim Marcus Odilon, dentre outros, não fazia "leva e trás". Eravuma espéciede "minha boca é um túmulo" de nosso Chico Anissio, o humorista nacional. Lá no senadino era uma espécie de não tô vendo nada, em embora tô vendo e ouvindo tudo.

Quem não tinha a assinatura dos jornais vendidas pela banda de Zé de Tôto, bastava passar no senadinho, comprar uma aposta do jogo do bicho ou uma carteira de cigarros ou um confeito rasga boca, ouvia todas as noticias nas entrelinhas durante o atendimento.

O senadinho era em si a crônica santaritense diária, sem páginas e atalhos, que começava, ouvia, discutia, terminava e recomeçava tudo, "n" vezes sem briga ou confusão com apenas um simples "bom dia" e depois de um "até amanhã".

Todos expunham suas mágoas e alegrias diárias sem nada vender ou comprar, direta e indiretamente falando.

Quem não sabia ler ou que comprava jornais e revistas apenas para se amostrar, não tinha problema, no senadinho ouvia tudo de graça, não precisava nem ouvir as reportagens do rádio BBC de Londres, da Tabajara, da Arapuan com Enoc Pelagio na área policial cruficando e ressuscitando quem ele quisesse e de José Otávio de Arruda Melo, na crônica politica e social, dentre outros radialistas importantes.

Isto em uma época que ainda se estava instalando os primitivos canais de televisão na Paraiba, porque antes assistíamos os canais televisivos em preto e branco, proveniente de Recife.

Neste tempo, ainda funcionava e o povo frequentava às bibliotecas municipais Américo Falcão, na rua Juarez Távora, bem como a biblioteca da extinta Escola Municipal Santo Antônio, na rua professor Severo Rodrigues, mo bairro Popular, que posteriormente foi chamada de Biblioteca Otávio Amorim, ambas atualmente extintas. Em ambas bibliotecas que eram expostos os jornais diários para o povo interessado fazer suas leituras, além de livros e revistas.

Afinal das contas, a nossa vida é curta demais e "escrever é a maneira de falar sem ser interrompido", segundo nos ensina o escritor e dramaturgo francês Jules Renard (1864-1910), portanto, não temos tempo para dar conta das leituras de todos os livros, revistas, jornais, etc, existentes ou a existirem, porém, do que ouvimos e vimos no Senadinho santaritense, sim, temos tempo de sobra, é nossa trilha sem trilho.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 05/10/2024
Reeditado em 05/10/2024
Código do texto: T8166703
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2024. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.