O garoto Bob esponja
Por um tempo em minha vida convivi com o Valdomiro.
Um garoto magrinho, dentuço, meio branco e meio pardo.
Era um bagualzinho xarope desde os tempos de piá.
Filho da dona Alzira a lavadeira (de roupas) do lugar.
Coitada, partiu cedo para as estâncias de São Pedro.
E deixou o “Miro” atentando a paciência dos viventes.
De tudo ele queria saber o porquê e o pra quê.
Ás vezes levava um pé na bunda de tanto encher o saco.
Parecia o Bob esponja!
Já mocito foi morar em Santo Ângelo. Um alívio.
Assim, nunca mais o vi e segui minha vida.
Estudei, me empreguei, capitalizei e montei família e uma boa vida.
Eu gostava de me ver no espelho, feito pavão.
Eu, alto executivo de uma empresa de engenharia.
Assim, achei que nada mais me surpreenderia na vida.
Ledo engano.
Pois, um certo dia, me caiu os butiás do bolso.
Num evento internacional em São Paulo, quem era o ilustre palestrante?
Isso mesmo, ele, o Valdomiro, o garoto bisbilhoteiro e grudento.
Na hora dos aperitivos e petiscos lá veio ele prosear.
Cumprimentamo-nos.
És do ramo da engenharia? – perguntei.
Não. Tenho vários interesses e a engenharia é um deles.
Aceitei palestrar, mas sigo para Dubai amanhã no meu jato particular.
Engoli a saliva. Trancou o facão no toco.
Frequentei a PUC e a UFRGS. – falei num fiapo de voz.
Só tirei um curso técnico, sabe como é sempre fui um autodidata.
Fui e ainda sou o perfeito garoto Bob esponja – falou ele piscando um olho.
Ao se afastar me esticou um cartão de linho com letras de ouro.
Quando quiser dar uma esticadinha pelo mundo me liga.
Acenei com a cabeça, pensando nas viagens em promoção para Punta del Este.
Assim que pude acessei a internet e lá estava o Valdomiro.
No perfil havia uma foto dele sorrindo.
Nem dentuço ele era mais, aliás, juro que vi um deboche naquele sorriso de porcelana.