Amenidades 

Amenidades 

 

 

Vou começar assim, não sei se você sabe, mas quando os portugueses oficialmente desembarcaram nessas plagas em 1.500, eles davam uns cacos de vidro para os Pataxós em troca de, digamos 1.500, abacaxis, e assim por diante. Anos depois, Anhanguera e Caramuru se notabilizaram demonstrando aos nativos tecnologia que não lhes era familiar. E o brother Marechal Rondon, ou no finalzinho do séc. XIX ou início do sec. XX, por carregar um cantil amarrado a uma tira de couro, ficou imune a flechada com veneno dos aborígenes da região que hoje engloba norte do estado do Mato Grosso e sul da Rondônia. Eles praticamente o idolatravam. Assim, cultura e consciência andam as vezes de mãos dadas, e saiba, ambas se dilatam. Já o gosto pessoal, também sujeito a alargamentos, é um tanto mais misterioso. Porém, comparar "Let Them All Talk" com filminho B de Netflix traveste-se de heresia que, se plasmada em 1.500, seria punida com açoite. 

 

Deborah Eisenberg, nascida em 1945, é uma contista, atriz e professora americana. Ela leciona escrita na Universidade de Columbia e escreveu o roteiro, pelo que compreendi o primeiro e único "Let Them All Talk", filme de 2020 dirigido por Steven Soderbergh, resumindo, um passeio curioso e repleto filigranas sobre um mundo inventado da literatura com Meryl Streep, Dianne Wiest, Candice Bergen, etc.

 

Um amigo uruguaio me conta que ouve periodicamente o podcast de um argentino que destila uma lista de filmes sem destaque, mas dignos de todo o mérito. Ao dar uma espiada constatei serem todos dotados de aridez, violência, tensos, fiquei matutando e de repente pensei: espera um pouco, eu também tenho uma lista. São trabalhos de outro naipe, e por livre associação subiu na mente o filme "The Holdovers" (2023), que virou uma categoria criada por mim e que já possui 2 adeptos. A coisa só funciona para quem viu. Um exemplo rápido, Ray Romano (Everybody Loves Raymond), escreveu, produziu e dirigiu - pela primeira vez (2022) - "Somewhere in Queens". Redondo. A senhora Diablo Cody, ela assina assim, nascida em 1978, faturou um Oscar de Melhor Roteiro pelo filme “Juno”, eis mais um filme Holdover, e eu acrescentaria mais três de autoria dela. Cody significa “helpful person”.

 

Brincalhona, a moça, boa de escrita. Eu teria uma vastidão para inserir aqui, porém, convenhamos, seria muito maçante. Enquanto não faço podcasts penso em estudar o Método de Trachtenberg e talvez, não que uma coisa tenha relação com outra, me tornar Planejador de rotas da rede neural. 

 

E, palavra, nessa montanha russa que se tornou a realidade, prefiro observar San Lorenzo que, ao ser intimado a entregar os tesouros da igreja, reuniu os pobres, os doentes e os leprosos… Impossível não se admirar com a coragem e o senso de humor dele. Decorridos oitocentos anos os poderosos daqui não estão tão diferentes do imperador Valeriano. A discrepância entre Lourenço de Huesca e a mulher condenada a 17 anos de prisão por escrever, com um batom, "Perdeu, Mané" em Brasília, é que o primeiro sabia das consequências da sua pilhéria e ela até hoje não viu a chapa do carro. E nós, os brasileiros que procuram andar no lado claro da vida, vimos depois e calamos a boca, senão…

Enfim, a matemática dos tiranos não tem a bossa justa dos aventureiros. 

 

Fazer o que?

 

A Gigafactory Texas começou a ser construída em 2020, dois anos depois os 930.000 m2 foram entregues numa cerimônia batizada de “Cyber Rodeo”. Elon Musk ordenou, a título de comicidade, que seus engenheiros fizessem uma conta peculiar. Na giga fábrica da Tesla, no Texas, cabem 194 bilhões de Hamsters. 

 

 

(Imagem: New York.1956. Photographed by Gordon Parks)

Bernard Gontier
Enviado por Bernard Gontier em 03/10/2024
Reeditado em 04/10/2024
Código do texto: T8165679
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