A INVEJA E SUAS CONSEQUÊNCIAS - Por José Geraldo de Paula

Há um sussurro que atravessa os séculos, uma sombra que rasteja por entre os passos da humanidade: a inveja. Ela não se manifesta com o estrondo da guerra ou o rugido de um vendaval, mas com o silêncio traiçoeiro de um olhar enviesado, um desejo velado de ter o que não se pode. Desde que o homem olhou para o seu irmão e viu nele algo mais brilhante, mais grandioso, o ciclo começou. Caim e Abel, o ouro de Midas, as asas de Ícaro — todos, de algum modo, intoxicados pelo desejo de possuir ou ser o que não lhes pertencia.

A inveja é uma chama fria, um fogo que não aquece, mas queima a alma. Ela torna o que é belo insuportável, pois o que deveria ser motivo de admiração se transforma em espinho. A rosa do vizinho sempre parece mais viva, como se o jardim alheio fosse regado por uma chuva mais pura. E nós, mortais, passamos a vida tentando capturar essa beleza alheia, como se, ao tomarmos o que é do outro, pudéssemos finalmente preencher o vazio que a inveja cavou em nosso peito.

Histórias de impérios caídos, de traições fraternas e amores desfeitos nos mostram que a inveja é uma serpente de muitas cabeças. Ela se esconde nas ambições desmedidas de reis que cobiçam terras estrangeiras, nas intrigas de cortes que desejam o poder de seus senhores, nas desilusões de amantes que se comparam com rivais. E, no entanto, a inveja é tão humana quanto o riso e o choro. Ela é o reflexo de nossas inseguranças, de nossa fragilidade diante da grandiosidade do outro.

Mas o que seria de nós sem a inveja? Talvez seríamos mais tranquilos, mais plenos. Talvez, ao invés de nos perdermos em comparações, aprenderíamos a celebrar o brilho alheio, como estrelas que, apesar de solitárias no firmamento, constroem juntas a imensidão do céu. Talvez, em vez de desejar o que não temos, aprenderíamos a cultivar o que já floresce em nosso próprio jardim.

A inveja, no fundo, é uma tentativa desesperada de escapar da própria sombra. E enquanto não aprendermos a nos reconciliar com quem somos, continuaremos a olhar para o outro com olhos vazios de gratidão e cheios de desejo.

JOSE GERALDO DE PAULA

Natural de Alpinópolis/MG - publicou em 2023 o livro O Mundo Em Seus Momentos-Deveres e Direitos Difusos-Livro Digital, integra a Associação dos Escritores de Passos e Região

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ESCRITORES E CIA
Enviado por ESCRITORES E CIA em 03/10/2024
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