SUPERSTIÇÕES

“Há mais coisas entre o céu e a terra do que pode sonhar a nossa vã filosofia”

W Shakespeare.

Desde sempre ouvimos falar em premunições, déjà vu em francês (em português é já visto mesmo), coincidências, promessas, simpatias, adivinhações, leitura das cartas, runas antigas, bolas de cristal, linhas das mãos, vísceras de animais, facas virgens em bananeiras, pedaços de papel ou gotejamento de cera na bacia com água nas vésperas dos dias dos santos casamenteiros, fitas, amuletos e outros artifícios a fim de esclarecer o por vir.

A cultura japonesa rica em superstições objetivando boa sorte, felicidade, vida longa, abundância e paz, criou o amuleto Daruma (pronuncia-se darumã) que representa o monge budista Bodhidharma, a quem se atribui a criação da seita Zen do budismo japonês.

Bodhidharma passou nove anos em profunda meditação e essa inércia atrofiou os seus membros superiores e inferiores e lhe emprestou formado quase redondo. O fato da base do boneco ser larga, faz com que ele sempre volte à mesma posição e esse fato deu origem ao ditado japonês: “caia 7 vezes, mas levante-se 8”.

A cor vermelha de suas vestes simboliza sorte.

O boneco daruma tem os olhos sem as pupilas. Devemos pintar uma delas ao fazermos o pedido.

Quando o desejo se realizar, pintamos a outra pupila e mantemos a estatueta em local de destaque dentro de casa.

Recomenda-se queimar alguns paus de incenso como forma de agradecimento...

No altiplano andino, entre a Bolívia e o Perú, os povos tiwanaku – pré-incaicos - criaram o Ekeko, divindade da abundância, prosperidade e principalmente da fertilidade, possivelmente ligada ao equinócio de verão.

As mais antigas representações eram despidas e com pênis proeminente, mas pela influência dos colonizadores que tentaram, mas não conseguiram eliminar a devoção, as imagens recentes do Ekeko estão vestidas com as roupas tradicionais ou as atuais usadas no ocidente.

É um homem gordo, sorridente a quem se faz o pedido e promete algo em troca.

O dia ideal para tal barganha é a sexta-feira quando se deve fornecer ao Ekeko, uma dose de licor, alimento pronto e cigarro aceso que ficará em sua boca.

Se o cigarro apagar antes da metade, algo de muito ruim irá acontecer, caso contrário as demandas serão atendidas.

Faz parte do ritual, cobrir a estatueta e só mostrar o resto da casa depois que os pedidos forem atendidos.

Para que não haja dúvida quanto ao pedido, deve-se juntar a imagens do desejo. Casa, carro, viagens, roupas, dinheiro, alimentos, ferramentas, gado, ou qualquer outra coisa que for pedida e, caso o desejo seja conseguir um verdadeiro amor, deve-se pendurar na estatueta, representações de galos ou galinhas.

As estatuetas atuais já vêm enfeitadas com a maior parte dessas representações.

Quem vai a Roma, obrigatoriamente visitará a Fontana di Trevi, final do aqueduto instalado no entroncamento de três estradas (tre via), na época de esplendor do império romano e, seguindo a tradição, com a mão direita por sobre o ombro esquerdo, jogará uma moeda, ao mesmo tempo em que fará um pedido com forte esperança, quase certeza, de que será atendido.

Ninguém sabe dizer a origem desse costume. Presume-se que seja adaptação do mesmo ritual com o poço dos desejos das lendas politeístas.

Em minhas andanças, joguei a moeda na Fontana de Trevi, comprei o daruma e o ekeko, afinal como dizem os castelhanos, “Yo no creo en las brujas, pero que las hay, las hay”...