QUANDO DOIS VIRAM UM
Um vira dois quando as almas deixam de ficar desconfiadas e decidem se roçar sem medo.
Um vira dois quando os chãos se aglutinam numa ciranda mágica.
Um vira dois quando o gosto amargo do vazio se dissipa e vira flor.
Um vira dois quando suores se confundem no mesmo tonel.
Um vira dois quando caminhar sem sombra fica insosso, opaco, arredio.
Dois viram um quando as peles começam a se estranhar e deixam de abanar o rabo uma para a outra.
Dois viram um quando os olhares passam a falar línguas estranhas,
Dois viram um quando o querer-bem desafina, descora, rosna sem parar.
Dois viram um quando as rédeas enferrujam e esquecem de passear de mãos dadas.