A minha poesia
A minha poesia gosta de falar dos sentimentos, que, de tempos em tempos, me arrebatam de mim mesmo, me transportando a outra realidade ou existência. Ela fala quase que sozinha, está viva dentro de mim e se intromete em tudo quanto quero escrever, falar, sentir. É o desvendar de um mundo novo cheio de novas perspectivas e expectativas. Assombram-me, de época a época, esse desejo ardente e fértil de os recriar dentro de mim. Sejam eles monstros ou anjos. E porque monstros e não demônios? Os demônios são muito feios? Mas os monstros também o são. Isto foi só uma escolha de palavras e eu não estou afim de debater sobre tal assunto.
Quero falar dessa engrenagem solta em minha cabeça, que não se cansa em me dizer que há algo de errado e distorcido comigo. Seja a política ou a própria arte. Talvez eu realmente não me importe. Mas deveria!
Mas deveria?
Mal sei resolver este conflito de dieta que me assola neste momento. Não sei o que é pior, o desconforto do sobrepeso ou o desconforto de estar me sentindo “passar fome”. Queria ser capaz de dizer se bem ou pior vivo nisto. Ainda querem que eu fale de política, e pior ainda se faz quando querem que eu discuta minha arte. Uma eu detesto, a outra eu amo. Não sou capaz de opinar devidamente. Sei que minha arte deveria e fala por si mesma, sem esforço.
Apenas sei que a poesia e a crônica são os pensamentos e os sentimentos soltos orbitando em volta de si mesmos, se chocando, me enlouquecendo, alucinando qualquer capacidade de reagir que eu tenha. E o meu conto, que ainda está por nascer, encerra grande quantidade daquelas coisas que eu acredito e gosto em minha vida cotidiana.
Versos, prosas e estórias são o que gosto de sentir, escrever, melhor dizer sentir, mesmo. Eu os sinto transpirar através de mim em uma velocidade e uma ferocidade incomum a qualquer outro ser humano, e isto eu o sei de experiência, pois, quando tento refrear para mudar o foco isto tudo se atropela dentro de mim e me sufoca impiedosamente. Tenho de deixá-lo se esvaziar e se esgotar até a última gota aqui dentro, até o ponto de não o sentir mais. Quando isto ocorre sei que está tudo acabado e pronto.
Psicografia? Não, isto é diferente, as palavras saem sem o sentimento e a realidade que os meus escritos têm em me atormentar. A psicografia é doce e gentil, nela, as palavras simplesmente saem. Noutra, as palavras são sentidas, paridas e matam-me à medida que tento sufocá-las aqui dentro.