PREOCUPAÇÕES

Somos o animal que pensa, que avalia as condições e realiza projetos.

Que sabe fazer as coisas que já inventaram, cria novas e utiliza além de ferramentas, estabelece a ética, a moral e os costumes sob leis aplicáveis a todos indistintamente.

Somos pródigos em boas ações e terríveis nas más, principalmente quando se trata de usar a natureza, seus recursos e os outros seres vivos com destaque para a nossa própria Espécie que, conforme a classificação científica dos seres, somos o homem que tem consciência de que sabe. Homo sapiens sapiens.

Mas essa condição de falíveis, de estarmos sujeitos a toda espécie de imperfeições, inspirou a frase de Sófocles, o dramaturgo grego, “a melhor dádiva que os deuses nos deram foi a qualidade de sermos humanos”, e outro grego, Homero, o poeta cego, chegou à conclusão de que, por sermos como somos “os deuses do Olimpo sentem inveja de nós”.

Se adensássemos a existência do nosso planeta em uma hora, nós estaríamos nos últimos milissegundos antes de se completarem os 60 minutos.

Em outras palavras significa que não temos a mínima importância nem poder de alterar coisa nenhuma.

Somos tão insignificantes quanto aquela mosca que pousa na bosta do cavalo do bandido que morre no trailer do filme de cowboy com mísero orçamento e sem distribuidor interessado na sua divulgação.

Entretanto há aqueles que acham que temos o poder, que somos um tipo de He Man, que tem a força para alterar as condições ambientais, os ciclos de alta e baixa atividade eletromagnéticas e ventos solares, o clima de macrorregiões, temperaturas oceânicas, derretimento das calotas polares, desertificações ou de fazer rebrotar vegetais na Antártica ou derreter o permafrost siberiano.

Qualquer dia desses vão dizer que também interferimos na tectônica de placas e que somos os responsáveis pelas erupções ou surgimento de vulcões, terremotos e tsunamis.

Ciência se faz com observações, coleta de dados, experimentos, formulação de hipóteses, testes repetidos à exaustão, análise dos resultados e, antes de publicar a “novidade”, repetir tudo a partir do início, porque a única coisa que é imutável em ciência é a propriedade de ser mutante.

Até nas ciências consideradas exatas por causa das pequenas variações dos seus resultados, há que se ter a prudência de na publicação dos resultados, colocar a observação: “sob condições normais de temperatura e pressão”.

Há os que dizem que os diamantes são eternos, mas isso só é verdade até que se revertam as condições que fizeram o carbono cristalizar no sistema cúbico.

Todos que já estudaram as eras sabem que as mudanças são cíclicas e que invariavelmente se repetem e que deixaram vestígios das alterações que ocorreram.

Existem bolhas com amostras conservadas nos gelos “eternos” que são capturadas e as suas análises fornecem os dados a fim de se recriar os ambientais da época em que se formaram.

As datações químicas, diferente dos nossos calendários e relógios, dão noção bem aproximada (jamais exata), do tempo transcorrido desde a formação dessas “bolhas” até os nossos dias.

As medidas das distâncias entre os corpos do universo em que estamos inseridos ultrapassa a capacidade de entendimento da maioria de nós, são relacionadas à velocidade da luz/segundo e determinada em milhares ou milhões de anos.

Não sabemos nem temos a mínima ideia do que nos aguarda antes ou depois da próxima curva e é exatamente essa imprevisibilidade que fornece os achismos das mentes férteis em previsões, ameaças e formas de contornar aqueles males que, não é se, mas quando acontecerão.

Portanto exigem vigilância constante.

- Prá quê?

- Prá nada!

A ciência já demonstrou que o nosso planeta, lindo e maravilhosamente azul, já passou muitas mudanças.

As eras se alteraram e deixaram marcas, talvez tenham sido pequenas alterações que desmantelaram o que esteve estabelecido por bom tempo.

A última glaciação que ocorreu perto de dez mil anos atrás se originou na diminuição de 6ºC na média global de temperatura. As calotas polares com centenas de metros de espessura, se estenderam em direção ao Equador até perto dos trópicos de Câncer e Capricórnio e a zona intertidal dos continentes recuou mais de 100 metros dos níveis atuais.

Quando houve o período carbonífero com alta umidade, temperatura amena e atmosfera supercarregada de compostos de Carbono, deu origem às florestas monumentais cuja decomposição resultou no carvão fóssil largamente utilizado na atualidade, mas até agora ninguém sabe dizer se tinha algum ser humano queimando combustíveis fósseis para carregar a atmosfera dos gases de efeito estufa tão badalado e sendo responsabilizado por coisas que estão muito além da sua capacidade.

Apenas para ilustração do que estou querendo dizer é o fato de que, com a implantação da hidrelétrica de Paulo Afonso, fizeram-se barragens, formação de lagos artificiais com extensa lâmina d’água, plantio de incontáveis plantas perenes, etc., mas a Caatinga do entorno não se alterou nem o aporte da umidade relativa do ar serviu para reverter o processo de desertificação no Raso da Catarina/BA, pouco mais a Oeste...

Portanto, façam-me o favor de reconhecer a nossa insignificância diante dos fenômenos naturais e, para ocupar o tempo ocioso, que tal fazer serviço voluntário?