"A AVENTURA DE JONAS NO PEIXE VIP" Crônica de: Flávio Cavalcante
A AVENTURA DE JONAS NO PEIXE VIP
Crônica de:
Flávio Cavalcante
Imagine só a cena. Jonas, aquele profeta que gostava de tirar uma sonequinha entre uma missão e outra, recebe a ordem divina de pregar em Nínive, cidade da Assíria, capital do império assírio, e uma das maiores cidades da região. Atualmente, a cidade de Mossul, no Iraque. Um lugar tão pacato quanto um formigueiro em dia de festa. Mas o que Jonas faz? Resolve dar uma de espertinho e foge. Sim, foge de Deus! Como se Deus fosse aquele amigo distraído que você consegue evitar no supermercado. Ele pega um navio, olha pro horizonte e pensa: "Nínive? Nunca nem vi!"
Aí, claro, Deus, que estava com uma paciência mais curta que corda de violão velho, mandou uma tempestade que fez o barco de Jonas balançar mais que aquelas dançarinas de forró em noite de festa. Os marinheiros, coitados, entraram em pânico. Um jogou água pra fora do barco, o outro rezou pra deuses que até esqueceram o nome. No meio desse caos, cadê Jonas? Dormindo! No maior estilo "Acorda-me só se for urgente", ele foi sacudido pelos marinheiros desesperados, que logo descobriram que o tal do Jonas foi o causador do problema.
"Vamos jogar ele no mar!" decidiram, e o pobre Jonas, antes que pudesse dizer "peraí, galera", foi atirado no oceano. Só que, em vez de morrer afogado ou ser devorado por tubarões, o que acontece? Um peixão, desses dignos de filme de Hollywood, o engoliu. Mas não pense você que o peixe era qualquer um, não. Era um peixe VIP, com sala privativa e tudo.
Dentro do peixão, Jonas teve tempo de sobra pra pensar. Três dias e três noites! Foi quase um retiro espiritual submarino. Imagino ele lá dentro, deitado no estômago do peixe, olhando para as paredes viscosas e pensando: "Meu Deus, o que foi que eu fiz pra merecer isso? Não podia ser uma punição mais seca, tipo uma maré baixa?"
E o peixe? Esse coitado também não estava entendendo nada. "Ora, mas que coisa indigesta é essa que eu comi?", deve ter pensado. "Esse humano não desce nem com azeite!" Depois de três dias com um Jonas entalado no estômago, o peixe decidiu cuspir. E lá vai Jonas, lançado direto na praia, coberto de gosma de peixe e com cara de quem saiu de uma ressaca das brabas.
Ao chegar na areia, Jonas deve ter olhado pro céu e pensado: "Tá bom, Deus, entendi a indireta. Não precisa mandar um cardume todo pra me lembrar da missão, já tô indo pra Nínive!" E assim, lá foi ele, com aquele cheirinho irresistível de frutos do mar e a cara de quem nunca mais ia tentar enrolar uma tarefa divina.
Moral da história? Não adianta correr de Deus. Se ele mandar você fazer algo, ou você vai de boa, ou acaba fazendo do mesmo jeito, só que depois de um tour pelo trato digestivo de um peixe. E cá entre nós, nada deve ser mais desmotivador do que sair de uma barriga de peixe com saudade do tempo em que só tinha que lidar com uma tempestade. Devemos pensar muito, antes de desobedecer às ordens de um superior.
Flávio Cavalcante