Motriz

A pessoa que eu enxergava não era quem me dizia as coisas. Nos sentamos. Bebemos. O tempo era líquido e fumaça, um corredor estreito de concreto pra as estrelas. Estava quase como que em um divã. "Você me chamou" e eu sabia em mim que tinha chamado mesmo.

Ele disse que queria usar uma coisa diferente, falou que era pra buscar. Nós bebemos mais, o tempo era um fractal se misturando em rotação.

Fiquei ouvindo, fiz perguntas. Quis saber sobre amor, se tinha de ser mesmo como estava sendo, e então ouvi uma risada grande e espessa. Bebi mais. Ele me disse que meu caçuá era outro, que tinha que ser assim, disse que as coisas que apareceram em mim tinham a ver com isso, mas que sumiriam logo se eu fizesse o que era pra fazer. Foi um afago ter uma direção, mas também uma dor.

A voz tecia respostas grandes demais pra caber na minha cabeça, e caminhos de uma terra que eu ainda tenho medo de pisar.