Idoso, Eu?
É noite. Um homem caminha numa calçada pelas ruas de Curitiba carregando uma sacola. De repente passa mal, perde o equilíbrio, seu corpo tomba e fica metade para fora do meio fio. Um dos sapatos saindo dos seus pés fica na minha memória (por que sempre se perde um sapato em acidentes?). Apesar de muito visível, quarenta e sete pessoas notaram o corpo caído e passam, indiferentes (segundo a reportagem em que li e assisti ao vídeo sobre o caso e trazia a manchete: – “Idoso passa mal, cai na rua e é atropelado; 47 testemunhas e motorista não prestam socorro” ). Em alguns momentos o trânsito torna-se lento – obviamente pela curiosidade dos passantes, e até dois ônibus diminuem a velocidade e absolutamente ninguém, nem o que o atropelou após a queda, teve um mínimo de humanidade para prestar ajuda.
Em pouco mais de um mês também me tornarei um idoso. Pelas leis brasileiras, ao completar 60 anos qualquer cidadão é um “idoso”. Não consigo imaginar o que acontecerá de “tão mágico” quando sair dos meus 59 para os 60. Serei um idoso “ainda com a mente de quem tem 59” ou algo estupeficante acontecerá e me transformará em alguém que caminha com bengala e começa a tremer as mãos, ou algo do gênero? Idoso! Eles não cansam de registrar a palavra com um ar de apreensão e pesar absurdos. É um clamor sem igual – Talvez isso comova e venda mais jornal, eu suspeito.
Mas o idoso em questão tinha mais, cinquenta por cento mais que sessenta anos: ele tinha (ou ainda tem, tomara!) noventa anos! Temeroso alguém dessa idade estar sozinho nas ruas, mas, como saber as necessidades de cada um? Teria ido à padaria comprar pão, à farmácia? Enfim, acho que nessa idade já precisamos, verdadeiramente, de uma bengala e já podemos ter tremores nas mãos. É a natureza do corpo humano ir perdendo o seu controle. Isto é Envelhecer!
E, indo além da questão da idade, esta crônica visa falar da humanidade ou, melhor dizendo, da desumanidade nossa de cada dia.
Que fique para nós a reflexão: quarenta e sete pessoas ignoraram alguém caído no chão, correndo este alguém – não importa se de 30, 60 ou 90 anos, o risco de ser (e sendo!) atropelado, e ninguém prestou ajuda. Isso é absurdamente desumano!