Mãos Bobas e Lições de Vida: Como (Não) Se Tornar Íntimo Sem Querer
Tenho uma mania bizarra, daquelas que nem Freud explica: andar com as mãos cruzadas atrás das costas, igual um senhor de idade que passeia pelo parque analisando a vida e decidindo se hoje é dia de comprar uma bengala ou começar a criar pombos. Não sei de onde tirei isso, mas o fato é que me sinto importante — tipo um sábio filósofo que medita sobre grandes questões da humanidade, como "será que passar manteiga no pão já é o suficiente ou precisa de Nutella também?"
Então, lá estava eu, em mais um desses dias normais (ou assim eu achava). Estava pensando na cafeína regando meu corpo, enquanto ia tranquilamente em direção à porta. Na força do pensamento e absorta no momento, levei a mão para trás do corpo para cruzar minhas mãos de forma estratégica, como sempre faço. Mas, eis que o absurdo acontece, no meio do caminho entre o vácuo e minha outra mão, senti algo... diferente. Algo... anatômico? Alguma coisa que não era a maçaneta.
Virei a cabeça devagar, sentindo o pânico começar a brotar. E lá estava o João, parado, com uma expressão no rosto que era uma mistura perfeita de choque e incredulidade. Aquele olhar fixo, tipo “será que acabei de sentir o que eu acho que senti?”
E eu? Bom, eu ainda estava no processo de entender o que, diabos, minha mão acabara de tocar. A reação normal de qualquer ser humano seria recuar, se desculpar, talvez até correr para o mato e viver como um eremita para nunca mais encarar a sociedade. Mas eu? Fiquei lá, parada, tentando processar.
João, coitado, continuava me encarando. O silêncio entre nós era tão pesado que dava para ouvir o tema de Missão Impossível tocando ao fundo. E foi nesse momento épico que a ficha caiu — eu acabara de, acidentalmente, pegar onde não devia. Eu, atônita, ele, incrédulo. O silêncio preso no arregalar dos nossos olhos quase se tornou palpavelmente constrangedor.
Até que o riso escapou. Primeiro, um sorriso nervoso de minha parte. Depois, ele, sem conseguir segurar, começou a rir também. Era como se nossas gargalhadas fossem o único jeito de lidar com aquela situação tão... absurda. Quanto mais ríamos, mais constrangedor ficava. Mas, ao mesmo tempo, mais hilário também. Em segundos estávamos ambos dobrados de tanto rir, como se a única forma de sobreviver àquela vergonha fosse transformá-la em uma piada.
A partir de então, aprendi algumas lições importantes que, com sorte, podem evitar novas tragédias anatômicas: 1º Evite filosofar enquanto caminha. Quando você começa a achar que é um pensador, a vida trata de te mostrar que você é só mais um trapalhão em potencial; 2º Mantenha as mãos visíveis em público. Assim, você diminui as chances de acidentalmente participar de uma situação que nem Freud conseguiria explicar; 3º Rir de si mesmo é o melhor remédio. A verdade é que se você não rir das suas próprias atrapalhadas, a vida parecerá muito mais dramática do que realmente é.
No fim, o que mais me impressionou não foi o fato de tocar o que não devia (apesar de isso ser material para uma comédia inteira), mas a maneira como o riso nos salvou do constrangimento total. Porque, se tem uma coisa que aprendi nesse dia, é que o riso é o grande amortecedor dos nossos tropeços. Quando a vida te pega desprevenido, o melhor que você pode fazer é rir. E, de preferência, não com as mãos para trás.