Coisas de adolescente - Dormindo na casa da amiga
Enrolada dos pés a cabeça no cobertor vermelho e felpudo, dificultando andar e enxergar.
Com os passos noturnos, lentos e trôpegos, percorria o corredor que ligava um quarto ao outro, bem em frente à escadaria de mármore.
Possuía a obstinação jocosa de quem se determina a surpreender.
A dar o maior susto para depois se sufocar em risos contidos, sob o olhar apavorado da vítima, e próprios de quem não quer acordar mais ninguém.
Este era o ritual.
E, acontecia sempre que uma amiga dormia lá em casa.
Chegou a vez de Isadora.
Desilusão ao convidá-la.
Substimei-lhe a rapidez de raciocínio e a proporção de minha fama de fantasma.
Ela já sabia sobre o meu mórbido passatempo.
Eram lendas ou piadas os gritos que arrancava das outras meninas.
Ela estava preparada para o confronto.
E quando, ao passar no já citado corredor, enroladinha felpuda e vermelha, bem em frente à escadaria, ela surge feito aparição e grita: Não gosto desta brincadeira de susto não!
Estava nada habituada a ser pega desprevenida.
Quase morri de susto.
Quase rolei pelas escadas abaixo.
O coração saltou do meu peito, abocanhado para não fugir de mim.
Restou-me, então, o trabalho de passar fio dental para limpar as farpinhas da carne do meu coração mordido.