O Amor que Cura
Já fiz de tudo na vida, tanto certo quanto errado. E se as memórias se entrelaçam, como folhas caídas no outono, eu as recolho com carinho, como se fossem cada uma uma história. Mas, em meio a essa colcha de retalhos, o que mais brilha, o que mais me faz acreditar, é a moça que chegou sem aviso, a Marcela, que veio do nada.
Ela apareceu como um milagre, um raio de sol após a tempestade, não apenas uma presença, mas uma revelação. Veio para curar as feridas que nem sabia que carregava, feridas invisíveis, marcas deixadas pela vida, que a rotina havia feito parecer normais. Na fragilidade da adolescência, ela trouxe uma força que eu não conhecia, e em seu olhar, a pureza de um amor que transcende tudo.
Marcela, com seu sorriso aberto, transformou o espaço ao nosso redor, tornando a casa um lar, um refúgio de risos e brincadeiras. Ela não só me acolheu; eu, que achava que poderia ser o pai, me tornei o filho, aprendendo com a leveza de sua risada, a doce música que reverbera na alma. Cada abraço dela é como um bálsamo, cada "eu te amo" é um raio de luz que dissolve as sombras que teimavam em permanecer.
Hoje, aos 21 anos, formada como enfermeira, Marcela brilha com a luz própria de quem encontrou seu caminho. Enquanto ela cuida de outras vidas, me recordo da primeira vez que a vi, tão pequena e cheia de sonhos, e de como, ao longo dos anos, ela se tornou essa mulher forte e dedicada. Sua vocação é um reflexo do amor que sempre nos uniu, um amor que ensina, que cura, que transforma.
Agora, quando a vejo exercer sua profissão com paixão, sinto um orgulho que quase dói. É uma mistura de alegria e gratidão, uma emoção tão intensa que é difícil conter as lágrimas. Eu que antes acreditava ter tudo, descobri que a verdadeira riqueza estava na simplicidade de um olhar, na ternura de um abraço. E ao perceber isso, meus olhos se enchem de lágrimas, porque, de fato, o que me deu mais glórias nesta vida foi adotar a menina que veio do nada, a Marcela, que cresceu e se tornou uma enfermeira, que veio para me mostrar o que é amar e, principalmente, o que é ser amado.