Mundos distintos

A morte nos deixa assustados, pois nunca estamos preparados para viver divididos e em outros planos. O medo nos bloqueia, nos trava, nos deixa mergulhados numa solidão que não tem fim. Perdemos o chão, a luz, a graça, ficamos órfão do amor e ninguém mais pode nos dar as mãos e nos acompanhar nessa estrada tão triste e solitária. E uma auréola de sentimento nos envolve como num todo, nos aprisiona nessa energia e ficamos sem saber o que fazer.

Essa mistura de dor e saudade não ameniza o sofrimento, apenas distrai e faz crescer dentro de nós, como numa onda gigante e nos faz sentir como se tivéssemos mais de um coração. Nem o tempo, por mais longo que seja, poderá tirar esse amor que vive enraizado no peito.

A morte é, como dizem os espiritualistas e divergem os filósofos, uma passagem, mas não dizem que esse túnel que nos levará é de mão única e nem nos informam, se tem outro túnel que nos traz de volta. Formam filas de almas nesse túnel que nos separa, sendo que uma delas é o amor, túnel esse construído com lágrimas chorosas e tristonhas.

Os momentos que antecedem o desligamento do corpo são infinitos e mexem com a emoção. Ficamos sensível e nada parece nos consolar. A alma padece de amor que enlouquece. É impossível aceitar a partida do amor que tanto sonhou e esperou. Mas não se pode fazer nada, a não ser orar. Mas mesmo quando ora, a dor permanece a fazer sofrer. Paradoxalmente, sente arrepios e alívios e se entregue à dor e a saudade.

Não se consegue imaginar viver sem esse amor, que por toda a vida esperançou e moveu por todos os lugares e ambientes de beleza e paz. A morte é cruel, não tem piedade, fere o coração tentando arrancar de dentro a única razão de viver. É impossível de a alma não derramar um rio de lágrimas quando vê tudo consumado.

E nesse rio, o sentimento é o de canoa sem remo e sem rumo, como se não tivesse destino e nenhum cais para desembarcar. Cada lágrima se junta com as águas desse rio que deságua no mar, onde não mais poderá ver o amor.

“Oh morte porque me escolhestes como seu inimigo? Não vê que estou sofrendo e ainda ri de mim! O que fiz para merecer tamanha dor? Porque não foges? Ninguém notará sua ausência. Apenas vá, não precisa se despedir de mim. Eu não levarei isso como desfeita. E se algum dia voltar, me perdoe, não me procure, pois estarei com meu amor, e quando estou com ela, estou sonhando, vivendo, não quero ser incomodado”.

E assim, vivemos entre dois mundos distintos: um cheio de vida, provas e expiações, necessárias para a evolução da alma e outro de mistério, solidão, dor e saudade, com gosto de morte. O amor é vida em abundância e o destino e a despedida uma interrogação. A fé lhe motiva a seguir, mesmo solitariamente.

Seja um poeta, encare a morte. Jamais dê as costas para a morte pois ela o golpeará e não haverá segunda chance. Ame não importa se haverá o amanhã, o importante é que amou hoje e esse amor permanecerá depois da morte, pois a vida continua em outras dimensões. O amor lhe esperará não importa o quanto tempo mas o quanto amou!