BANG BANG
Meu pai sempre andou armado desde que ficou adulto influenciado pelo meu avô que tinha um Colt SmIith igual dos filmes de faroeste.
A família do meu pai é de um lugar chamado Saturnino Braga que fica em Campos dos Goitacazes. Quando meu avô morreu o compadre da minha avó teve a ideia de deixar um revólver com ela para se proteger, ela vivia com os seis filhos. Meu pai descobriu sobre a arma, um belo dia de domingo dos anos 60 o Flamengo foi campeão, ele pegou a arma e descarregou toda atirando para o alto.
Quando meus pais se conheceram ele trabalha de segurança (leão de chácara) no Forró do Moraes que ficava na avenida Brasil em frente a cemitério do Caju.
Certa vez meu pai quebrou a regra mais importante de quem anda armado, emprestou o revólver para meu tio Sebastião e foi trabalhar. A rotina de um “Leão de Chácara” é bem simples, bota para fora quem arruma confusão. Naquela noite meu pai jogou na rua um nordestino encrenqueiro. No fim do expediente ele voltava sempre para casa a pé, morava num sobrado na rua Bela em São Cristóvão. O “paraíba” que meu pai tinha expulso do forro surgiu de dentro de uma construção armado com uma pá, meu pai conseguiu se defender com o braço do primeiro golpe e correu. No bar perto de casa meu tio estava. “Sebastião você está com o meu revólver?” O homem tremia igual vara verde. Assim que ele pegou o revólver o cara da pá vinha na rua, ele “desceu o aço” no desgraçado que deve estar correndo até hoje.
Na feira de São Cristóvão meu pai bebia, teve um tiroteio, um tiro ricocheteou na parte metálica de um barril e acertou o dedão do pé do meu pai.
Um dos poucos momentos que tínhamos como pai e filho era quando assistíamos filmes de Bang Bang na TV, eu sempre achei de mais aqueles rifles Winchester e as cenas de tiroteio, homens baleados sem sangue.
Outra vez meu pai e minha mãe foram parar na delegacia devido a uma briga no forró, ele deixava o revólver com minha mãe, ela morria de medo daquilo disparar no meio das pernas dela.
Quando eu estava na Escola de Marinheiros em Vitória – ES eu e meu amigos fomos numa festa no bairro da Gloria, a festa estava animada, mas eu não peguei ninguém. Na volta um tiro foi disparado em nossa direção vindo do local da festa, a bala passou pela gente e espatifou numa banca de jornal. Eu nunca corri tanto em minha vida.
Domingo à noite estávamos todos em casa quando morávamos na Vila do Pinheiro no complexo da Maré, quando um barulho distante chamou a atenção do meu tio. “Isso é tiro.” Meu pai respondeu: “Isso é tiro nada...” Depois o tiroteio começou, meu pai saiu engatinhando para se esconder no banheiro. “Mataram um ali, vamos lá ver.” Minha mãe gostava de ver defunto. Não sei pra quê?
Meu pai era taxista, e certa vez uma cliente pediu para ele ajudar a subir com as compras para o apartamento, quando entrou na casa da mulher meu pai tomou um susto, na parede havia um quadro com um revólver idêntico do meu avô, o marido da viúva tinha sido da aeronáutica e colecionava armas. “A senhora vende esse revólver?” A mulher disse que não, era uma lembrança do marido, “ela não podia guardar a parte princiPAU do marido”, então não podia se livrar daquela raridade. ‘Então a senhora guarda bem essa arma, se não, eu roubo da senhora.” Ela riu...
Eu nunca andei armado, talvez esteja na hora de ter um revólver...