Decifrando Cinderela.

 

Resumo: O conto da Cinderela[1], conta a história de uma bela moça filha de um  comerciante rico, que ao morrer a madrasta e suas duas filhas a fizeram de criada.  Um dia houve um baile, mas a Cinderela não poderia ir, pois tinha que limpar a casa  e não tinha nenhum vestido bonito para usar na festa. Sua fada madrinha apareceu  e limpou toda a casa num piscar de olhos e deu um vestido lindo para Cinderela,  porém, ele só duraria até meia noite. O príncipe se apaixonou por Cinderela e, na  meia noite ao voltar depressa para casa antes que o encanto terminasse, ela deixou  cair na escada seu sapatinho de cristal. Querendo encontrá-la, o príncipe ordenou  que todas as moças do reino experimentassem o sapato. Cinderela experimentou e  o sapato serviu. A jovem e o príncipe se casaram e viveram felizes para sempre. Diante desse contexto narrativa, verifica-se análises com base em Freud, Lacan, Bettelheim e Corso e Corso. Além de confrontar a versão de Cinderela em Perrault e  a dos Irmãos Grimm. Além de toda percepção psicanalítica há também como refletir sobre a evolução do perfil feminino ao longo do tempo.

Palavras-chave: Psicanálise. História. Feminino. Ódio. Inveja. Família. Sociologia.

 

 

A partir do conto de fadas Cinderela[2], traça-se uma análise psicanalítica onde se identifica os reflexos e influências na fantasia e imaginação de leitores e ouvintes. Com base em textos de Bettelheim, Corso e Corso e Freud.  Positivamente, os contos de fadas são reiteradamente usados desde período de alfabetização e estão intimamente associado ao desenvolvimento psíquico e emocional dos educandos e, seus conteúdos serve para analisar como as fantasias existentes  e a influência no desenvolvimento psicológico de crianças e adolescentes.

Bettelheim se dedicou a examinar diversos contos de fadas do ponto de vista da psicanálise, e também Corso e Corso que seguiram a mesma averiguação e, também se utilizou Freud. 

No seu formato os referidos contos exibem aspectos particulares, como o uso de magia, encantamento, e, normalmente, existe, um dilema de cunho existencial que, ao longo da história se manifesta no herói ou heroína que busca alguma consumação de cunho pessoal e, há protagonistas que conseguem a superação de diversos obstáculos.

Todo esse processo enfatiza a relevância da fantasia para o desenvolvimento salutar da criança. Frise-se que tais contos nem sempre precisam de ter a figura de uma fada como principal personagem, atuando sim, como conteúdo encantador que provoque admiração, espanto e atiçam a imaginação das crianças.

Destacou-se, especialmente, Charles Perrault[3] que possuiu contos mais conhecidos como: Contos da Mamãe Gansa, Chapeuzinho Vermelho, A Bela Adormecida, Barba Azul, O Gato de Botas, As Fadas e Cinderela. Inclusive, apesar dos contos terem conquistado seu espaço e importância no universo infantil, em seu primeiro momento eles eram voltados para o público adulto.

Conforme Schneider (2009) destacou: “[...] histórias eram recheadas de cenas de adultério, canibalismo, incesto, mortes hediondas e outros componentes do imaginário dos adultos também...”

Conforme bem observou Ariès a infância conhecida na atualidade, não era a percebida da mesma forma que no período em que Perrault escreveu os contos. A criança era desconsideradas em suas básicas peculiaridades, sendo geralmente tratada como um adulto em miniatura, o que chamo de "adultinho". Havia uma olhar insipiente sobre a infância e, foi exatamente nesse período que os contos se tornaram brincadeira e motivo de entretenimento e educação.

Corso e Corso destacaram é que tais contos ou textos adquiriram com o tempo, em função das questões sociais, culturais e históricas o que trouxeram provavelmente alterações de termos e/ou expressões e até no enredo, principalmente, no teor pedagógico das chamadas adequações para a infância.

Por isso, há diversas versões sobre os mesmos contos, é o caso da versão da "A Gata Borralheira", dos Irmãos Grimm que se destacou na Alemanha, durante o combate ao paganismo, e enfatizaram os personagens como bruxas, magos, duendes, feiticeiros, naturalmente tais seres não apareceram nas estórias dos Irmãos Grimm, a não ser como representação de personagens más.

Eram vilões encarnados que acenam com múltiplos simbolismos e alertas.  Quando dotado os textos com fins  comerciais, perderam sua essência, que era mostrar os exemplos de superação como heróis, heroínas  a atuar na imaginação da criança e a contribuir para seu amadurecimento saudável.

É verdade que as crianças, em seu desenvolvimento, passam por diversos dilemas, tais como as rivalidades fraternas, autoestima, a iniciação de questões morais, a rejeição e mesmo o abandono como foi o caso de "João e Maria" e possuem relevância na estruturação subjetiva das crianças e no dimensionamento de sua imaginação.

De acordo com o Dicionário de Psicanálise, de Laplanche e Pontalis (2001), a fantasia é, in litteris:

   "Roteiro imaginário em que o sujeito está presente e que representa de modo mais ou menos deformado pelos processos defensivos, a realização de um desejo e, em última análise, de um desejo inconsciente. A fantasia apresenta-se sob diversas modalidades: fantasias conscientes ou sonhos diurnos; fantasias inconscientes com o as que a análise revela, com as estruturas subjacentes a um conteúdo manifesto; fantasias originárias".

Já segundo Freud (1919) que destacou que a fantasia pode emergir no contexto de vergonha/culpa, ainda na infância, e pode refletir de maneira traumática no indivíduo. No entanto, Freud (1919) salienta que a fantasia pode ocorrer no contexto imaginário, ou a partir dos vislumbres do cotidiano. Em alguns casos, pode ser algo que traga excitação/prazer para um único indivíduo.

Corso e Corso cogitaram da existência de dois tipos de fantasias, a saber: queles que ocorrem por meio do sonho diurno, os quais permitem ao sujeito assumir o papel que lhe convém e deseja. Corso e Corso(2006) descreveram alguns: “[...] conquistas amorosas ou profissionais, vinganças pessoais e projeções de futuro [...]".

Isto é, por meio da imaginação, o inconsciente permite a consumação de desejos que, em muitos casos, são reprimidos ou camuflados. Já o outro tipo de fantasia, é o brincar, esse ato funciona como algo libertador, pois, conforme Corso e Corso (2006, ), “[...] brincando é possível vingar-se da autoridade dos pais, derrotar o rival do mesmo sexo e edipicamente, ser escolhido pelo pai ou pela mãe para namorar [...]". Brincar faz com que a criança derrube as limitações. 

Afinal, o lúdico tem essa capacidade de envolver e de permitir que a pessoa se expresse ao ponto de sair do plano da realidade, e assim, possa melhor observar os limites.

Para Freud (1907) a fantasia relaciona-se à atividade mental associada ao desejo. E, por meio desta, ocorre o desencarceramento da realidade não cumprida. Assim, a fantasia expressa a realidade psíquica da pessoa, pois nesta, refletem-se os desejos e angústias que podem estar no inconsciente, com reflexos no consciente, podendo até por meio de um desejo reprimido ser expresso através da fantasia.

Observa-se que Freud abordou a fantasia com certa incongruência, pois, ao mesmo tempo que gera prazer, também pode provocar repugnância, isto é, desprazer que estão no mesmo plano (da fantasia).

Outra concepção é a de Melanie Klein, à qual é destaque na segunda geração psicanalítica e, para quem, a atividade de fantasiar se faz presente desde o nascimento, pois está associada com o instinto. No ato de mamar, a criança ao ser alimentada por outros objetos como as mamadeiras, a fantasia lhe remete ao seio materno.

E, Corso e Corso (2006) afirmam in litteris: "A paixão pela fantasia começa muito cedo, não existe infância sem ela, e a fantasia se alimenta da ficção, portanto, não existe infância sem ficção”.

Em outras fases da vida, a fantasia pode ser simbolizada por meio de brincadeiras, jogos, ou seja, o lúdico é a forma de expressar/lançar as fantasias, e quando são coibidas/contidos deixam de exercer atividade fantasmática". (KLEIN apud OLIVEIRA, 2008), ainda destaca que a imaginação se faz presente em toda história de vida dos indivíduos, em cada fase, à sua maneira.

Os adultos, por exemplo, podem ser inspirados pelas fantasias inconscientes, seja por meio das artes, trabalhos científicos ou até mesmo pela vida corriqueira.

Outra análise é de Vygotsky[4] (2009) que afirmou que a criança assimila os elementos/acontecimentos da sua realidade com que é narrado, isto é, a narração estimula o pensamento e a imaginação, portanto, ocorre a associação entre a fantasia e a realidade.  E, nessa perspectiva se amplia já que para ele tudo o que nos cerca, é feito pela mão do homem, todo mundo da cultura, diferentemente, do mundo da natureza, tudo isso é produto da imaginação e criação humana.

O conto Gata Borralheira é também referido como Cinderela.  A versão mais antiga é originária da China, datada de 860 a.C., tendo sido ocidentalizada pelo italiano Giambattista Basile  - La gatta cenerentola - e foi neste conto que Charles Perrault e os Irmãos Grimm se basearam para escreverem as suas próprias versões, que me levaram erradamente a acreditar que se tratava de histórias distintas.

A título de exemplo, a versão da Disney de 1950[5] é bastante fiel à de Perrault. Como viria a descobrir mais tarde ambas as designações estariam corretas, visto que surgiram das traduções que foram efetuadas.

As palavras cenerentola (italiana, versão de Giambattista Basile “La gatta cenerentola” e cendrillon (francesa, versão de Charles Perrault Cendrillon), cujos significados remetem para "pequenas cinzas", deram origem a cinderela.

A palavra borralheira deriva de borralho, "brasido coberto com a própria cinza", visto que a personagem principal era assim descrita, como estando suja de cinzas, devido aos trabalhos domésticos que fazia.

Esta significação, a de uma mulher que vem das cinzas, é importante não só na simbologia da história, mas também no próprio conceito social que se generalizou, demasiadas vezes extrapolado e deturpado.

A Gata Borralheira é provavelmente um dos contos mais conhecidos em todo o mundo. A protagonista deste conto, Cinderela, é uma menina órfã de mãe. A madrasta e as filhas desta desprezam-na e fazem dela uma criada. Contudo, a Gata Borralheira acaba por superar todas as dificuldades e termina muito feliz.

A figura materna na história é multifacetada, a Cinderela teve uma mãe bondosa. Por outro lado, a madrasta é exigente e cruel. A fada está presente para ajudar a nossa heroína a concretizar os seus sonhos.

Bettelheim (2009) estabeleceu que existe importante relação entre Freud e os contos de fadas. Argumentou que o homem precisa lutar contra as adversidades  que surgem, dessa maneira, consegue entender o porquê de sua existência.

E, nos contos de fadas, essas são as mensagens mais difundidas, isto é, no transcorrer da vida podem surgir situações inesperadas, as quais acarretam inconvenientes, mas aqueles quee não se amedrontam diante do inesperado, mesmo que indevido, superam os embaraçados, e, no fim, saem vitoriosos.

In litteris, complementando essa noção, informaram Corso e Corso (2006): "Muitas vezes, o que sentimos é indefinido, é uma angústia, um sofrimento difuso. Uma história pode nos emprestar um sentido que a princípio não é nosso, mas dá um contorno ao nosso sofrimento.

Nesse caso, não seria uma verdade do sujeito que se elabora através da trama ficcional, mas por um tempo funcionaria como se fosse. Ou seja, um conto de fada pode nos emprestar um sentido sem que haja uma correspondência com um problema real".

O conto de fadas Cinderela existe em várias versões. Entretanto, as mais conhecidas são a de Charles Perrault (1697), Irmãos Grimm (1812/2011), e, na perspectiva contemporânea, a da Walt Disney (1950), que foi produzida com base na de Perrault (CORSO; CORSO, 2006). A seguir, pode-se verificar como as versões de Perrault e Grimm possuem diferenças marcantes.

Na versão de Perrault, a estória se inicia anunciando que um pai comerciante que vivia em companhia de sua filha, os dois se amavam muito e viviam de maneira harmoniosa, até que seu pai resolve se casar novamente com uma viúva que tinha duas filhas.

Após a morte do pai, a menina passou a ser tratada como empregada/criada, trabalhando de manhã até a noite, além disso, era zombada e motivo de piadas para as irmãs e a madrasta.[6]

Certo dia, o Rei convidou todas as moças da região para um baile no palácio, com o propósito de o Príncipe escolher sua esposa.

Entretanto, Cinderela foi impedida de ir e ficou em casa triste, chorando e realizando inúmeros afazeres. Viveu esse dilema até que, de repente, aparece uma luz vinda do céu em direção da cozinha.

Era sua fada madrinha, a qual limpou tudo com seus dons e ainda a arrumou para a festa, mas a moça não poderia passar da meia noite no baile, pois o encanto acabaria. Ao chegar ao evento, o príncipe se apaixonou por Cinderela e, na correria para ir embora e obedecer ao horário, a moça deixa cair o sapato[7].

Depois da festa, o Príncipe passou por várias casas até encontrar, finalmente, a dona do sapato. E, ao chegar à casa de Cinderela, suas irmãs tentaram escondê-la, mas não teve jeito, pois o Príncipe a encontrou e a levou para o palácio, casou-se com ela e novamente, ocorreram novas comemorações para todo reino e viveram felizes para sempre.

Já na versão dos Irmãos Grimm, Cinderela era filha de um comerciante rico, ao visitar a mãe em seu leito de morte, fora orientada a sempre ser piedosa e bondosa, pois, fazendo isso, Deus sempre a protegeria. E, depois do falecimento de sua mãe, a menina visitou o túmulo por longo temo, até que se pai veio a casar-se novamente.

E, a madrasta tinha duas filhas. A moça, após a morte do pai, passa a ser tratada como empregada da casa e, amenizando suador, resolveu visitar o túmulo da mãe, onde plantou um pé de avelã, o qual nasceu, cresceu e tornou-se local de reza, choros e lamentos de Cinderela, e também de encontro com os pássaros brancos, os quais acompanhavam seu dilema.

Entretanto, em um determinado dia, o Rei proclamou que aconteceria um baile no Palácio Real, com duração de três dias, onde o príncipe dançaria com as moças a fim de encontrar sua noiva.

Ao saber disso, Cinderela falou com sua madrasta sobre o desejo de participar, a qual arremessou duas tigelas cheias de lentilhas sobre cinzas/poeira no chão da cozinha. Caso ela conseguisse limpar tudo, poderia ir ao baile.

A menina, com ajuda dos pombos, conseguiu limpar todas as lentilhas, mas a madrasta novamente foi maldosa e não a deixou participar, pois Cinderela não tinha vestido e ainda precisava realizar as demais tarefas que lhe foram impostas.

Em meio ao dilema, ela foi ao túmulo da mãe, onde é arrumada pela magia das pombas que frequentavam o local. Esse ritual se repete durante todos os dias de festa. Durante todo baile, o príncipe dança e fica ao lado de Cinderela, a qual não foi reconhecida pelas irmãs, pois estava tão bonita que elas achavam que era alguém de outra cidade.

Após o terceiro dia de baile, ao descer as escadas do palácio Cinderela deixa seu sapato dourado cair. Após o baile, iniciou o período de procura pela escolhida do Príncipe, e suas irmãs fizeram de tudo para estar nesse lugar; as irmãs se automutilaram, chegam a cortar parte de seus pés para que coubessem no sapato.

Além desse trecho, no desfecho da estória, as irmãs, após o casamento de Cinderela, momento em que elas ainda tentam se reaproximar, por interesse, acabam ficando cegas em função de todas as maldades cometidas no decorrer da vida.

Corso e Corso (2006) afirmam que a Cinderela de Perrault assumiu um papel mais voltado para a bondade e os aspectos humanos, e ele se apropriou mais de magias e encantos, e as coisas boas simplesmente acontecem e vão até Cinderela. Em Grimm, a personagem possui uma postura mais travessa, toma certas iniciativas; para que o encanto ocorresse, foi até o túmulo da mãe e realizou seus apelos, ou seja, possuía iniciativa.

E, com Bettelheim (2009), o conto apresenta a questão da disputa fraternal, conflitos familiares, angústias da protagonista. As crianças se sentem preteridas, menos amadas quando surgem outros que também têm a atenção dos pais.

Ou seja, os anseios de Cinderela são desconsiderados em função das “irmãs”, caracterizando uma rivalidade familiar. Além disso, retrata a exclusão, pois, ela tem compromissos/responsabilidades/cobranças que as irmãs não têm.

Apesar de normalmente os conflitos fraternais não serem tão intensos como os de Cinderela, a criança que está vivendo esses problemas, ao ouvir a história, consegue identificar suas emoções e entender que essa aflição vai passar.

Este complexo fraterno é assim definido por Kaës (2005, p. 141):[...] uma organização fundamental dos desejos amorosos, narcísicos e objetais, do ódio e da agressividade com relação a este outro que um sujeito reconhece como irmão ou como irmã.

Esse complexo inscreve-se, também, na estrutura das relações intersubjetivas organizadas pela representação inconsciente das localizações correlativas ocupadas pelo sujeito, o irmão e a irmã em relação ao objeto de desejo da mãe e/ou do pai. Ele qualifica, para todo sujeito, a criança única ou membro de uma frátria, uma experiência fundamental da psiquê humana.

A pergunta de Sócrates no Fedro de Platão já enuncia uma questão fundamental sobre a natureza humana, que atravessa toda a história da antropologia filosófica: o ser humano é naturalmente inclinado para o bem ou se caracteriza por uma tendência inexorável para o mal? Formulando-a em outros termos: qual paixão domina mais decisivamente a natureza humana, o ódio ou o amor?

É claro que o problema é mais complexo e que não se pode simplesmente identificar o amor com o bem e o ódio com o mal. Mesmo assim, a questão sobre a precedência e sobre qual tendência é originária e mais fundamental pode ser claramente formulada: o que vem primeiro, o ódio ou o amor?

O ódio é o resultado de uma frustração ou distorção de uma tendência inicial para o bem, ou é o amor que só pode resultar do apaziguamento e da neutralização de uma destrutividade primordial?

Historicamente, a primeira alternativa prevaleceu no percurso do pensamento filosófico. De Platão ao Iluminismo, Eros - a personificação do amor e, foi considerado o motor fundamental da ação humana, inclusive no campo do conhecimento.

O ódio só emergiria a partir de um fracasso de Eros, fosse por fraqueza, fosse por omissão. Mesmo que, periodicamente, em tempos de crise, uma visão mais sombria e maligna da natureza humana viesse à tona, ela ainda assim resultaria de uma neutralização de Eros pelas forças destrutivas à solta no mundo (Solomon, 2008; Stearns, 2008).

A visão psicanalítica, pelo menos nas suas origens freudianas, é mais pessimista. Como se verá, Freud foi levado a considerar o ódio uma paixão, no limite, mais fundamental e originária do que o amor.

Contudo, mesmo que o pessimismo, tanto social quanto clínico e científico, do pensamento mais tardio de Freud seja notório, essa posição não conduz necessariamente a uma visão infernal da vida humana. Isso porque, para Freud e para muitos daqueles que levaram adiante sua reflexão sobre essas questões, o ódio pode perfeitamente cumprir uma função construtiva na vida mental.

Em outras palavras, o ódio não é necessariamente um mal. Antes, a malignidade usualmente associada a esse conceito é uma expressão de suas formas excessivas, distorcidas ou patológicas.

Não, por acaso, o título do referido ensaio faz referência ao pensamento de Nietzsche (1886/2005): este foi, de fato, um dos poucos autores da tradição filosófica a atribuir uma significação positiva ao ódio, ainda que não em todas as suas formas e manifestações. Freud, nesse ponto, como em tantos outros, faz-se um herdeiro de certos aspectos do pensamento nietzschiano, ainda que essa herança tenha sido recebida frequentemente por vias indiretas .

É o ódio como uma experiência - sobretudo, como uma experiência primitiva e fundamental para a constituição do sujeito psíquico - que fica frequentemente em segundo plano na abordagem freudiana. Por isso, os momentos em que essa análise específica de fato aparece precisam ser explorados com detalhe.

A agressão é abordada por Freud em dois momentos, que correspondem às duas grandes etapas do desenvolvimento de sua teoria instintual. No quadro inicial da oposição entre os instintos egóicos de autoconservação e os instintos sexuais, a agressão aparece relacionada aos primeiros. Ela exprime o trabalho do ego para defender-se ou manter afastados os perigos externos, entendido num contexto biológico e adaptativo (Freud, 1910/1975n, 1915/1975j; Simanke, 2014)

O locus classicus em que se encontra expressa a visão freudiana do ódio são as últimas páginas do ensaio metapsicológico de 1915 "Os instintos e seus destinos" (1975).

Essa também é a passagem em que Freud, pela primeira vez, discute mais longamente o problema da agressividade, mas, ao contrário do que acontece depois, os dois problemas são claramente distinguidos.

Isso se deve, pelo menos em parte, ao fato de que Freud está aí empenhado em separar o problema da agressividade do sadismo, que até então dominara suas preocupações sobre os aspectos mais destrutivos do funcionamento mental.

Enquanto Freud pensara as relações entre amor e ódio exclusivamente do ponto de vista instintual, o amor aparecera como a paixão primordial, a expressão do fluxo total dos instintos sexuais.

O ódio, considerado quase que exclusivamente algo derivado do sadismo, era visto como uma das vicissitudes do instinto sexual e, nesse sentido, como secundário ao amor e tendo neste sua condição.

Contudo, quando o processo de formação do ego entra em questão, na esteira da formulação da teoria do narcisismo na primeira metade dos anos 1910, a relação vai, ao fim e ao cabo, se inverter. Freud aborda as relações entre amor e ódio em "Os instintos e seus destinos" como ilustração de um destino (Schicksal) em particular, a saber, a reversão em seu contrário.

Nietzsche é, com certeza, quanto à questão do ódio, o autor da tradição filosófica que mais se aproxima de Freud, não se podendo descartar alguma influência direta, embora não pareça haver evidências disso com relação a esse ponto específico.

Se Freud, com efeito, articula uma das grandes teorias do ódio na história do pensamento filosófico ocidental, para qual visão geral da natureza humana essa teoria aponta?

Qual é a antropologia que Freud legou aos seus seguidores, dos quais alguns desenvolvimentos foram recapitulados aqui? Como se viu, na contramão da posição mais frequente em quase toda a história da filosofia, Freud atribui primazia ao ódio, e não ao amor. O ódio é uma paixão primária, que introduz a distinção entre o ego e os objetos, entre o si mesmo e o outro, e torna possível o amor.

O ódio, portanto, faz parte da bagagem instintiva e relacional de todo ser humano. Embora Freud tenha, ele mesmo, evoluído rumo a uma visão mais pessimista da condição humana e da possibilidade de felicidade, é possível se perguntar se essa primazia do ódio tem necessariamente consequências destrutivas.

Ainda que autores como Lacan e Klein pareçam ter se inclinado para um prognóstico negativo, outros retomaram os aspectos mais positivos das elaborações freudianas e as exploraram em diversas direções, tanto no plano clínico quanto no metapsicológico. Kernberg, como visto, reconhece o caráter inato, biológico e adaptativo da agressão, que tem no ódio seu afeto nuclear.

Mas a destrutividade doentia encontrada nas patologias narcísicas graves requer fatores suplementares para ser justificada, sejam eles traumáticos ou ambientais.

Com isso, Kernberg se aproxima de concepções biológicas mais recentes, as quais, mesmo reconhecendo o caráter inato e evolutivamente determinado da agressão humana, colocam o homem numa posição apenas intermediária na destrutividade das espécies (Wilson, 1978), na contramão das visões mais sanguinárias da natureza humana que se podiam encontrar antes, seja na biologia do comportamento (Lorenz, 1963/2002), seja no próprio campo psicanalítico (Fromm, 1973).

A psicanálise poderia talvez alinhar-se com outros campos do conhecimento científico em que se argumenta que, submetida a um exame objetivo, baseado em dados e em evidências empíricas rigorosas e quantificáveis, a violência tem decrescido na história humana recente, ao contrário do que uma percepção mais impressionista dos acontecimentos das últimas décadas poderia fazer crer (Pinker, 2011).

O sentimento destacado no texto é a inveja, a qual também pode se fazer presente no eixo familiar, escolar e em outros grupos sociais que as crianças participam.

No caso de Cinderela, ocorre porque ela possui uma beleza diferenciada, que suas irmãs não possuíam. Inclusive, a madrasta percebe isso e tenta sabotar, vestindo-a de roupas velhas/trapos, sapatos de madeira, e deixando suas filhas na zona de conforto, se vestindo com luxo e isentas das tarefas domésticas.

A intenção da madrasta era desfavorecer Cinderela para que suas filhas triunfassem (CORSO; CORSO, 2006). Ainda acerca dessa competição, Bettelheim (2009) afirma que, mesmo em filhos únicos, esse sentimento pode ocorrer, pois, a criança se coloca na condição de comparação com outras famílias, normalmente se vangloriam, se colocando em posição de destaque com relação ao outro.

Esse aspecto pode estar vinculado à questão do narcisismo, e Freud nomeia dois momentos da infância em que esse sentimento se apresenta.

No primeiro, o bebê satisfaz do seu próprio corpo, ou seja, ele não precisa buscar isso fora. E, posterior a isso, existe a fase do narcisismo secundário, ou do ego, ele está vinculado às questões parentais, ao primeiro formato de afeto/amor que o sujeito conhece, neste caso, a mãe, ou quem cuida diretamente. Os dois estão presentes na composição da personalidade do sujeito.

Posteriormente, no período em que a criança passa a receber certas orientações/educação referentes à socialização, quando é orientada a como se comportar, nessa fase passa acreditar que não é mais amada pelos pais e começa a desenvolver sentimentos de raiva/angústia diante desses ensinamentos, ou seja, ocorre profusão de sentimentos.

A questão edipiana revelada até aqui pode ser dividida em dois momentos. No primeiro, Cinderela vive uma excelente relação com o pai, o qual supriu a perda da mãe, e convivem de maneira harmoniosa, o pai é só dela.

Entretanto, essa mesma ligação que a coloca em condição confortável, no segundo momento vai lhe trazer sérios problemas, pois o pai se casa novamente, e o amor/atenção, que era todo dela, passa ser compartilhado/divido pela madrasta e suas filhas, ou seja, aborda os desejos e angústias de uma menina frente às questões edipianas, o pai que deixou de ser exclusivo (BETTELHEIM, 2009).

Essas questões são verificadas na idade de três a cinco anos, de acordo com Freud, período em que ocorre o complexo de Édipo, que é definida por Stratton (2002), como: Na teoria freudiana, um processo que ocorre durante o estágio fálico, em torno de 3 a 5anos, de acordo com o qual a criança deseja possuir o pai do sexo oposto e, por isso, vê o pai do mesmo sexo como um rival.

Como esta figura paterna é também poderosa e bem-sucedida, a criança sente-se ameaçada, mas tende também a resolver o conflito pela identificação como pai rival.

A experiência de vida de Cinderela atinge diretamente as fantasias das crianças em relação aos seus pais. Desse modo, ao mesmo tempo em que dá impulsos ao Id, permite ao Ego estabelecer controle. A história torna-se expectativa, o ouvinte se espelha no triunfo da personagem, como esperança para solução das questões familiares.

 

Outro aspecto que ecoa nas crianças é a bondade de Cinderela. Por mais que seja perseguida, desrespeitada, fato que justificaria pensamentos e desejos tempestuosos, a sua inculpabilidade é inquestionável. O leitor/ouvinte, ao se deparar com essa história, entende que não precisa ter pensamentos de raiva/contrários, ou desejar e agir com vingança, pois a justiça e a razão acabam acontecendo

Corso e Corso (2006) apontaram que as birras, implicâncias, mau humor, preguiça e orgulho das irmãs de Cinderela, que eram opostos ao seu comportamento, são destacados no conto, os quais simbolizam para as crianças que atitudes como essas, seja para conseguir atenção dos pais/pessoas, ou até mesmo presentes, certa autorização, não são vistos de maneira favorável por quem acompanha tal atitude, e é entendido pelas crianças como algo mau, chato e que não se deva fazer, ou seja, despertam para o entendimento de que esta não é a maneira para conquistar nada.

Bettelheim (2009) reiterou o quão o conto permite criar um paralelo com a história da criança, permitindo compreender que a turbulência envolvendo ciúmes e conflitos é pequena diante da estória de Cinderela, e ainda rememora o como sua vida é mais feliz do que a dela. Nesse aspecto, o texto trabalha no inconsciente e permite a expressão na forma de emoções.

O conto de fadas é apontado por Corso e Corso (2006) como uma psicanálise resolutiva, a qual, por meio da fantasia, age no emocional e pode resolver conflitos de identidade, psíquicos e até treinar as crianças para enfrentar o medo.

Há outra interpretação da diferença de sentimentos/amor, principalmente quando é realizada por crianças na pré-adolescência, pois, inicialmente é abordado o amor de pai e filha, também da madrasta pelas filhas, ou seja, tudo no âmbito familiar. Porém, quando ocorre o baile e Cinderela é a escolhida, o encantamento/sentimento do príncipe foi tão intenso que ele só tinha olhos para ela, praticamente desconsiderou a presença de todas as outras moças.

Diante disso, o leitor/ouvinte entende que, além do amor paterno/familiar, existe o de uma relação amorosa, o qual possui grande intensidade na vida dos envolvidos. Além disso, passam a compreender que o amor dos pais não é o único sentimento acentuado. (CORSO; CORSO, 2006)

Algo destacado em comum por Perrault e irmãos Grimm é a presença simbólica da mãe, que, nos momentos de angústia, é quem acolhe Cinderela e a tranquiliza, propiciando o consolo para seu sofrimento.

Essa perspectiva é observada em Perrault: quando Cinderela está vivendo um momento de dor e sem alento, surge a fada, a qual tem a missão de proteger e sanar essa agonia.

Já em Grimm, amenina continua indo ao túmulo da mãe chorar, rezar e, no ápice de sua angústia, ela se dirige a esse lugar, e é lá onde tudo acontece - de trajes de trapo para futura princesa (CORSO; CORSO, 2006).

Portanto, o citado autor aponta que os contos de fadas, normalmente, trazem relatos de sofrimentos e problemas substanciais, entretanto, os finais sempre retratam soluções, superação. Seguindo esse ângulo, ao escutar a história a criança consegue se apropriar e aplacar a sua própria angústia.

Os contos, que tiveram influências das contações de histórias da tradição oral, nem sempre foram desenvolvidos para o universo infantil, incialmente eles eram ferramenta de diversão dos adultos.

Foi, então, no século XVII, que Perrault se habilita a entrar no universo infantil e começa a escrever para crianças, que até então eram identificadas como adultos mirins e não

 tinham suas peculiaridades respeitadas

No conto Cinderela, por meio da fantasia, a criança se identifica em vários contextos com a história de vida da personagem, com evidências para as questões edipianas, quando a personagem viveu intensas angústias.

Além disso, o conto foi escrito em várias versões, com destaque para Perrault e Grimm, e, no século XX, Walt Disney também apresentou sua interpretação, baseando-se na versão do primeiro autor, pois, considerando o contexto atual, as adequações pedagógicas e reconhecimento da infância, não seria admitido narrar para elas a mutilação das irmãs e o fato de não terem sido boas no decorrer da vida e, por essa razão, acabaram cegas. Por conseguinte, ao ler o conto, a criança é levada a compreender os seus sentimentos, além designificá-los.

Além disso, o conto traz uma linguagem simbólica, a qual está diretamente vinculada ao inconsciente. Portanto, esses textos, mesmo com o passar do tempo, continuam despertando curiosidade em leitores, pois narram aspectos da vida cotidiana, tais como: disputas fraternais, vingança, superação, dificuldades, desejos, injustiças, agonias, angústias.

Diante dessas circunstâncias, os textos incitam a habilidade de fantasiar/imaginar, a qual está envolvida no processo de desenvolvimento psíquico e emocional.

Concorda-se com Corso e Corso (2006, p. 326):Para todos os humanos, a fantasia é um território onde treinamos, é uma vida virtual, onde experimentamos desempenhar a personagem que gostaríamos de ser. Dessas viagens fantásticas nunca voltamos exatamente iguais, pois nelas tivemos uma visão: ade nossos mais prezados desejos.

Ao estabelecer regras de comportamento humano tem-se a preocupação persistente na história por meio da ideologia dominante. Afinal, ao ditar regras de comportamento feminino, dentro do discurso patriarcal vigente que perpassa muitos séculos, impondo o que seria o "modelo ideal de mulher".

E, os meios de comunicação são mecanismos de propagação dessa ideologia patriarcal, ainda nos dias contemporâneos, é difundida por meio do que Louis Althusser denominou de "aparelhos ideológicos do Estado que são: o próprio Estado, a Igreja, a família, a escola, sindicatos, clubes e entidades afins. São instituições atreladas aos conhecidos "bons modos" e que disseminam modos de ser e ainda os valores morais para naturalizar os papéis sociais.

 

Diante do exposto, analisa-se a subjetivação em relação ao feminino tão presente nos objetos culturais e da constituição subjetiva dos cidadãos. O conto A Gata Borralheira foi escrito originalmente no século XVII por Charles Perrault e, teve posteriores versões, e (re)leituras advindas desse conto, como as dos Irmãos Grimm e, ainda, duas produções cinematográficas recentes que se configuram como paródias (“Deu a louca na Cinderela” e “A Cinderela”).

Segundo Affonso Romano de Sant'Anna (1985) o termo paródia refere-se a uma releitura crítica de um texto preexistente. In litteris: "[…] a paródia é um ruído, a tentação, a quebra da norma. Ética misticamente a paródia só poderia estar do lado demoníaco e do inferno. Marca a expulsão da linguagem de seu espaço celeste. Instaura o conflito. Mais ainda: é um trabalho humano, um esforço de condenados pensando o discurso celestial paterno".(SANT’ANNA, 1985).

O conceito contemporâneo de paródia abordado por Linda Hutcheon (1985). Para ela, “A paródia é, pois, na sua irônica transcontextualização e inversão, repetição com a diferença. Está implícita uma distanciação crítica entre o texto em fundo a ser parodiado e a nova obra que incorpora, distância geralmente assinalada pela ironia.” (HUTCHEON, 1985). Dessa forma, compreendemos que nesse conceito contemporâneo, o texto base não é criticado, mas ressignificado.

A primeira versão do conto Cinderela que é conhecida mundialmente é do autor francês Charles Perrault, publicada na obra Contos da Mamãe Gansa, em 1697. Perrault imprimiu em sua literatura em geral características nacionalistas, já que se apropriava de contos populares a fim de civilizar e doutrinar as crianças e adultos conforme os padrões/valores desejados pela corte de Luís XIV.

Com isso, os papéis sociais desempenhados por homens e mulheres são claramente determinados: os homens são vistos como racionais, inteligentes e ativos; as mulheres como emotivas, passivas, deveriam ser belas, dóceis, polidas, laboriosas e saber como controlar seus anseios sexuais. Essas eram as imagens comportamentais desejadas pela sociedade aristocrata-burguesa de que Perrault fazia parte.

 

Perrault enfocou na personagem Cinderela o estereótipo feminino de mulher trabalhadora, doce, recatada, bela e passiva; conformada com a situação infeliz que vivia, segundo a seguinte descrição retirada do conto supracitado: “sofria com paciência e não se atrevia a queixar-se ao pai, que lhe teria ralhado, pois a mulher governava-o inteiramente.

Dotada de doçura e bondade exemplar, dons que recebera de sua mãe, que era a melhor criatura deste mundo. Era mil vezes mais bonita que as irmãs.” (PERRAULT, 1997)

Ressaltamos que a figura feminina representada pela mãe biológica de Cinderela é comentada apenas no início do conto como uma mulher dotada das mesmas características da filha. Porém, em nenhum momento cita-se a causa de sua morte, ou seja, Cinderela já é retrata sem a presença do amor materno.

O que se pode inferir sobre a causa da morte da mãe seriam complicações durante o parto, algo que frequentemente levava as gestante ao óbito no contexto histórico em que o conto foi escrito. (Warner, 1989).

Por sua vez, a madrasta é caracterizada como “soberba e orgulhosa”. E tais características semelhantes possuem as filhas dela. Elas sentem grande inveja da beleza de Cinderela e, por isso, sobrecarregam-na de trabalho doméstico.

Salientamos, também, que a madrasta domina completamente as ações do pai de Cinderela, este é dotado de pouca inteligência e nenhuma compaixão, já que em nenhum momento defende a filha frente aos infortúnios que sofria.

Perrault demonstrou, por meio da moralidade, o papel indesejado de homem naquele período, já que na sociedade burguesa de Luís XIV jamais o homem seria submisso a uma mulher.

Há, também, a presença da madrinha que concede o desejo de Cinderela ir ao baile. Temos que a madrinha é, segundo os preceitos cristãos, a imagem feminina que deve ajudar e educar a(o) enteada(o) na falta da mãe biológica.

Esse é o caso de Cinderela. Contudo, a madrinha de Cinderela era uma fada, ou seja, um ser dotado de poderes sobrenaturais a serviço do bem. A madrinha só concedeu o desejo de Cinderela porque ela é “boa menina” (PERRAULT, 1989).

A dualidade do bem versus o mal é representada neste conto por meio das figuras femininas da fada madrinha e da Cinderela em contraponto à Madrasta e suas filhas. Um típico maniqueísmo de contos de fada.

No final da narrativa de Perrault, temos uma lição de moral, as irmãs pedem perdão pelas maldades que fizeram com Cinderela. A protagonista, como boa moça que é, as perdoa e casa-as com dois fidalgos da corte. A madrasta, no decorrer da trama, simplesmente desaparece e não é penalizada pelos seus atos.

A versão do conto Cinderella publicada pelos Irmãos Grimm no século XIX também compõe nosso corpus de trabalho. Esses autores utilizaram-se do mesmo tema proposto por Perrault dois séculos antes de maneira diferente.

Lembremos que eram guiados pelos preceitos da Igreja Protestante, os autores disseminam em seus contos valores como: família, ética, trabalho e pátria; bem como a determinação dos gêneros da classe média patriarcal.

A moral e a punição são temas recorrentes na literatura dos Irmãos Grimm e, no caso do conto Cinderela, não é diferente. Cinderela é uma personagem que, após o falecimento da mãe biológica, passa por grandes privações e injustiças na convivência com as filhas de sua madrasta. Contudo, depois de muito sofrimento e luta, ela realiza o seu sonho, que é se casar com o príncipe.

Dessa forma, observamos que Cinderela representa a imagem de mulher resignada; que chora pelos cantos e que vê no casamento a salvação da vida sofrida que levava.

Além disso, a figura materna de Cinderela é apresentada como a mãe protetora que promete sempre proteger a filha mesmo depois de morta. Isso se comprova ao longo da narrativa, já que Cinderela sempre realiza seus desejos ao pé do túmulo da mãe.

Encontramos uma controvérsia na imagem representada pelo pai de Cinderela. Os Grimm descrevem um homem que não se manifesta diante das maldades da madrasta e das enteadas à sua filha e, quando o faz, não é a favor de Cinderela.

Essa imagem de homem foge aos modelos comportamentais patriarcais, já que o homem, sendo o chefe da família, deveria ser respeitado, dominar a casa e, consequentemente, as mulheres a sua volta.

Enfim, acredita-se que essa representação da imagem paterna seja, como em Perrault, uma forma de demonstrar à sociedade em geral o modo de ser não desejado à figura masculina.

As filhas da madrasta são caracterizadas como “bonitas e agradáveis de rosto, mas más e feias de coração” (GRIMM, 1989). Pelas maldades que fizeram, elas são brutamente castigadas ao fim do conto. Como em Perrault, a madrasta não é punida, apesar de exercer papel importante no sofrimento de Cinderela.

Nos contos dos Grimm, temos a inserção de fatos violentos de punição aos maus. Cenas fortes são descritas de modo a empregar o comportamento desejado e repudiar aqueles que não o seguem.

E, então, por sua maldade e falsidade, elas foram punidas com a cegueira até o fim de suas vidas.” (GRIMM, 1989). Nesse recorte, é possível verificar a forma como os autores empregam os castigos aos maus.

Salientamos que entre as duas versões trabalhadas deste conto não há paródia, visto que não há a intenção de um texto comunicar-se com o outro, ou seja, os Irmãos Grimm não tinham por intuito, se é que é possível assim afirmar, ressignificar o texto de Perrault.

Diante do exposto, verificamos outra dualidade estabelecida na história, não entre as personagens, mas entre a dura realidade de Cinderela e os seus sonhos.

O caráter simbólico que demarca esses dois universos é o relógio e o que os une é o sapatinho de cristal perdido por Cinderela. Nos momentos de descontração e devaneios, Cinderela é chamada à realidade sempre pelas badalas de um relógio que marcam as obrigações domésticas da moça. O significado literal de "o relógio bater doze badaladas" é simplesmente indicar que são doze horas. É um momento de transição entre o dia e à noite, e muitas culturas consideram a meia-noite como um momento especial

Além disso, é o relógio que determina o fim da magia que permitiu a sua ida ao baile e, consequentemente, seu encontro com o príncipe. Salientamos a interdiscursividade que associa o relógio ao trabalho.

O sapatinho de cristal, por sua vez, ao unir os dois espaços marca a individualidade e exalta a importância de Cinderela em detrimento das demais donzelas do reino.

Com efeito, a mensagem disseminada no filme é de que a moça que for “bem comportada” e seguir o padrão comportamental exigido pela sociedade será recompensada com o casamento. O sapatinho, assim como nos contos, é o símbolo também do matrimônio.

Por meio dessa constatação, podemos verificar que nos contos escritos, tanto de Perrault como dos Irmãos Grimm, não há a descrição específica da Cinderela. Pelo contrário, apenas há dados superficiais, dos quais remontaríamos uma imagem mental de acordo com a subjetividade de cada um.

Contudo, a versão cinematográfica da Disney apresenta a Cinderela de acordo com os padrões de beleza desejados pela ideologia patriarcal que permeava a sociedade dos anos cinquenta (a famosa Barbie loira, delicada, branca e de olhos azuis).

Como foi possível perceber, na versão “Deu a louca na Cinderela”, alguns desses padrões são desconstruídos e a Cinderela é descrita com cabelos pretos e curtos, porém as outras características permanecem.

sobre os padrões de beleza vigentes em nossa sociedade, Felipe e Guizo (2003) nos mostram que os meios de comunicação, em nosso caso os filmes infantis, assim como os brinquedos direcionados às crianças instituem controle sobre os moldes sociais desejados:

Se observarmos as propagandas de brinquedos dirigidas às meninas, também veremos que elas investem de forma importante na ideia de cultivo à beleza como algo inerente ao feminino, aliada sempre ao supérfluo, ao consumo desenfreado, ou seja, não basta ter apenas a boneca Barbie, Susi ou Polly, é preciso ter todos os modelos e variações da mesma boneca e seus respectivos acessórios. (FELIPE; GUIZZO, 2003, p.125)

Verifica-se que Cinderela não se conforma com o seu destino. Ou seja, se antes, na versão da Disney, somente o casamento com o príncipe bastava para se ter um final feliz, agora, no contexto de Ella, isso não é suficiente.

Além disso, cabe salientar que a Cinderela desta versão, diferente da Disney, possui atitude. Em um primeiro momento, Cinderela demonstra atitude em prol da sua própria defesa, contudo, ela não consegue se defender. Reafirma, desse modo, o discurso de mulher indefesa. Ella somente é salva quando Rick aparece, temos, então, a imagem masculina como provedora da proteção feminina.

Após as análises apresentadas, tendo em vista a figura do feminino, podemos observar que não houve mudanças expressivas no que concerne à representação da mulher nos objetos culturais analisados.

Apesar do filme “Deu a louca na Cinderela” mostrar uma estrutura social bem diferente dos contos e da adaptação feita pela Disney, notamos que o estereótipo feminino idealizado pela sociedade patriarcal e machista ainda permanece.

Com efeito, temos ao longo dessas narrativas a presença dos discursos machista e patriarcal que visam tão somente reforçar o estereótipo feminino da submissão e da dependência da mulher em relação ao homem, mas o século XXI vem progressivamente destituindo tal discurso.

 

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[1] A palavra seria uma junção de "cinder", que significa cinzas em inglês, com "Ella", o nome verdadeiro da jovem.

[2] O Complexo de Cinderela é um padrão psicológico em que uma pessoa, geralmente uma mulher, sente que precisa depender de outros, especialmente em relacionamentos românticos, para encontrar sucesso e felicidade. No complexo de Cinderela citado por Colette Dowling, a mulher deixa de fazer o melhor por ela mesma, por acreditar que algo venha de fora e transforme sua vida. Lembrando que isso também acontece ao homem.

[3] Charles Perrault (1628-1703) foi um importante escritor francês, autor de grande número de contos infantis, entre eles, A Bela Adormecida, O Gato de Botas, Chapeuzinho Vermelho e o Pequeno Polegar. Charles Perrault nasceu em Paris, França, no dia 12 de janeiro de 1628. Era filho de Pierre Perrault e de Paquette Le Clerc descendente de uma nobre família de Tours, cidade próxima a Paris. Em 1637, Charles ingressou no Colégio de Beauvais, onde realizou brilhante estudo literário. Em 1643, iniciou o curso de Direito, concluído em 1651. Foi um dos colaboradores para a fundação da Academia Francesa de Ciências e para a reconstrução da Academia de Pintura. Em 1671, com extensa publicação literária, entre elas, “O Espelho ou A Metamorfose de Orante” (1666), “Diálogo de Amor e Amizade” (1668) e “O Parnassus Conduzido a Extremos” (1669), foi eleito para a Academia Francesa de Letras. Na Academia Francesa, enfrentou uma longa disputa intelectual, chamada de “Querela dos Antigos e dos Modernos”.

[4] Lev Semionovitch Vigotsky, foi um psicólogo, proponente da Psicologia histórico-cultural. Pensador importante em sua área e época, foi pioneiro no conceito de que o desenvolvimento intelectual das crianças ocorre em função das interações sociais e condições de vida. Lev Semenovitch Vygolsky (1896-1934) nasceu em Orsha, pequena cidade perto de Minsk, a capital da Bielo-Rússia (região dominada pela Rússia que se tornou independente em 1991, com o fim da União Soviética, passando a se chamar Belarus), no dia 17 de novembro de 1896. Filho de uma próspera e culta família judia viveu um longo período em Gomel, também na Bielo-Rússia. Teve um tutor particular e se dedicou à leitura até ingressar no curso secundário, concluído aos 17 anos com excelente desempenho.

[5] Curiosidades do filme Cinderela da Disney: 1) O príncipe de Cinderela não tem nome;2) Uma atriz interpretou todas as cenas da Cinderela e depois elas foram criadas em animação; 3) A Fada Madrinha é inspirada em uma pessoa real.

[6] A Lei 8.069/90 também prevê crime relacionado aos maus tratos, ao prescrever, no art. 232, que “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento” é crime. O Código Penal prevê em seu artigo 136 o crime de “Maus - Tratos” que consiste na exposição a perigo da vida ou da saúde de pessoa sob a autoridade, guarda ou vigilância do agente, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando- A Lei 8.069/90 também prevê crime relacionado aos maus tratos, ao prescrever, no art. 232, que “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento” é crime. O Código Penal prevê em seu artigo 136 o crime de “Maus - Tratos” que consiste na exposição a perigo da vida ou da saúde de pessoa sob a autoridade, guarda ou vigilância do agente, para fim de educação, ensino, tratamento ou custódia, quer privando-a de alimentação ou cuidados indispensáveis, quer sujeitando-a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina. Por seu turno, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), descreve tipo penal muito semelhante em seu artigo 232, criminalizando a conduta de “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou constrangimento”. a a trabalho excessivo ou inadequado, quer abusando de meios de correção ou disciplina. Por seu turno, o Estatuto da Criança e do Adolescente (Lei 8069/90), descreve tipo penal muito semelhante em seu artigo 232, criminalizando a conduta de “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou constrangimento”.

[7] Os sapatos, assim como a roupa, estão ligados à persona, mostrando a classe social da pessoa. Com eles, mantemos os pés na terra, simbolizando a atitude da realidade, e podemos seguir um caminho e também pisar em alguém, mostrando o aspecto de poder do indivíduo. Portanto, Cinderela está em busca de uma realidade própria, sua autoafirmação na sociedade e no mundo exterior, sem seguir convenções e padrões. No filme, o sapato é de cristal. Cristal em grego é krystallos, que significa “gelo” e simboliza tudo o que é puro, espiritual, assemelhando-se ao diamante, uma pedra de uma dureza imensa capaz de cortar até o ferro. Ele seria uma indicação da luz divina.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 27/09/2024
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