DESVERGONHADA

Procuro alguém que não tenha vergonha de disparar o coração quando a pele foi roçada. Que não tenha vergonha de reconhecer algum feitio mal arrematado. Que não tenha vergonha de recuar diante do passo tosco. Que não tenha vergonha de chorar na cena extrapolada na dor ou alegria. Que não tenha vergonha de olhar abusando dos quereres, sentires, ancorares. Que não tenha vergonha de salpicar grãos de afetos nos chãos rudes. Que não tenha vergonha de voar sem perguntar a razão ou momento. Que não tenha vergonha de ser dissecada em vida pra extirpar becos sombrios. Que não tenha vergonha de deixar a alma desarmar, bagunçar, descambar, Que não tenha vergonha de arrancar sorrisos dos nãos e poréns. Que não tenha vergonha de escancarar medos, desatinos e travessuras. Que não tenha vergonha de usar o último fôlego pra dizer obrigada por tudo. E nada mais.

Oscar Silbiger
Enviado por Oscar Silbiger em 27/09/2024
Reeditado em 27/09/2024
Código do texto: T8160955
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