Do Caos à Reinvenção: Segurança e Educação no Planejamento Urbano do Futuro
Moacir José Sales Medrado[1]
O Brasil vive uma encruzilhada em suas grandes cidades. A cada eleição, somos inundados por promessas que abordam mobilidade, infraestrutura e habitação, mas questões centrais seguem sendo tratadas de forma fragmentada. A sensação de insegurança é um problema estrutural que afeta diretamente o desenvolvimento urbano, e sua solução não pode ser dissociada de um planejamento abrangente que também considere a educação. A verdade é que as políticas públicas que conectam urbanização, segurança e educação são não apenas viáveis, mas necessárias para que nossas capitais possam se transformar em metrópoles seguras e sustentáveis nas próximas três décadas.
Cidades seguras são aquelas que integram de forma eficaz os seus espaços públicos, proporcionando áreas bem iluminadas, transitáveis e ativamente utilizadas por seus cidadãos. Em locais como Tóquio, a combinação de tecnologias inteligentes e planejamento urbano focado na sustentabilidade também reforçou a segurança. Por exemplo, o projeto eSG Tokyo Bay, além de priorizar a sustentabilidade, emprega tecnologias de monitoramento que integram sensores em espaços públicos para melhorar a vigilância e a gestão urbana em tempo real.
Em Copenhague, o planejamento focado em áreas verdes e ciclovias também contribui para a segurança. A existência de espaços públicos ativos, combinada com uma infraestrutura eficiente de transporte, reduz as zonas abandonadas e melhora o policiamento de proximidade. O Brasil pode aprender com esses exemplos e implantar políticas de "desenho urbano preventivo", que integrem espaços verdes, iluminação eficiente e mobilidade acessível para tornar as áreas urbanas mais seguras e acessíveis.
Capitais globais, como Nova York e Londres, têm investido em tecnologias de cidades inteligentes para melhorar a segurança pública. Iniciativas como a implementação de câmeras de monitoramento com IA e o uso de análise de big data para prever e prevenir crimes estão em pleno funcionamento. Esses sistemas monitoram a atividade urbana em tempo real, permitindo respostas rápidas e prevenindo crimes antes que eles aconteçam.
No Brasil, onde o crime urbano é um dos maiores desafios, essas tecnologias poderiam ser aplicadas nas áreas mais críticas, combinando-se com políticas de inclusão social e urbanização inteligente. Sistemas de vigilância integrada e iluminação pública inteligente, como os utilizados em Pequim, poderiam ser adaptados para melhorar a segurança em bairros vulneráveis, contribuindo para a sensação de segurança e promovendo a ocupação saudável do espaço público.
A segurança urbana não se limita à implementação de tecnologias ou ao policiamento intensivo; ela também passa pela educação. As cidades mais seguras do mundo são aquelas que investem em uma educação pública de qualidade, que forma cidadãos conscientes, engajados e preparados para contribuir para a sociedade. Em países como o Japão, o sistema educacional está diretamente ligado à construção de uma cultura de respeito, responsabilidade e participação comunitária.
No Brasil, a educação pública precisa ser vista como uma ferramenta de transformação urbana. Propostas como a criação de escolas integradas a espaços comunitários, com áreas de lazer, bibliotecas públicas e centros de cultura, podem ajudar a reverter o ciclo de violência e exclusão. Cidades como Berlim, que promovem a educação ambiental e o engajamento cívico através de suas escolas, oferecem um modelo a ser seguido. Integrar as escolas ao planejamento urbano é essencial para formar gerações que valorizam e cuidam da cidade em que vivem.
Se quisermos que nossas capitais se transformem em cidades seguras e sustentáveis até 2050, precisamos adotar uma abordagem abrangente que combine urbanização, segurança e educação, tais como:
Cidades Inteligentes e Monitoramento Urbano: Adotar tecnologias de monitoramento inteligente, como aquelas em uso em Londres e Nova York, que utilizam inteligência artificial e big data para prever e prevenir crimes. Isso inclui câmeras, iluminação adaptativa e sistemas de emergência conectados.
Desenho Urbano Preventivo: Inspirados por iniciativas de Copenhague e Tóquio, devemos criar espaços públicos acessíveis, bem iluminados e conectados, que incentivem a presença constante de pessoas e dissuadam atividades criminosas. Zonas verdes e áreas de convivência são elementos-chave para tornar os ambientes mais seguros.
Escolas Integradas a Comunidades: Seguindo o exemplo de cidades como Berlim, as escolas devem ser parte integrante do tecido urbano, funcionando como centros comunitários de educação, cultura e lazer. Isso promove o desenvolvimento social e reduz a marginalização, contribuindo para uma cultura de paz.
Educação para a Cidadania e Sustentabilidade: Investir em currículos escolares que incentivem a educação ambiental, o engajamento cívico e o respeito aos espaços públicos. A educação de qualidade é a base para construir uma sociedade mais segura e justa.
Devemos ter claramente definido que a transformação das nossas cidades não pode ser alcançada apenas com discursos simplistas. É preciso pensar grande, integrando segurança, urbanização e educação em um plano estratégico de longo prazo. A falta de propostas profundas no atual ciclo eleitoral não reflete apenas uma desconexão com as demandas urbanas do presente, mas uma falta de visão para o futuro.
Enquanto o Brasil enfrenta desafios imensos, com políticos se propondo a resolvê-los na cadeirada, tem à sua disposição soluções inspiradoras de cidades ao redor do mundo que já estão em processo de transformação. O futuro de nossas capitais depende de uma mudança de mentalidade, onde segurança e educação sejam pilares centrais de um planejamento urbano sustentável e inclusivo. Que a próxima geração de líderes compreenda a importância dessa visão e seja capaz de transformar o caos atual em uma realidade mais segura e justa.
[1] Engenheiro Agrônomo (UFCE), Especialista em Planejamento Agrícola (SUDAM / SEPLAN – Ministério da Agricultura), Doutor em Agronomia (ESALQ / USP)