A GULA, O JEJUM E SUAS CONSEQUÊNCIAS - Por José Geraldo de Paula

A gula, esse vício insidioso que nos atrai com seus encantos sedutores, muitas vezes nos conduz por um caminho de excessos e desequilíbrios que podem ter consequências devastadoras. Render-se aos prazeres da mesa de forma desmedida e voraz não só afeta o corpo físico, levando a um ciclo vicioso de excesso alimentar e obesidade, mas também impacta profundamente a alma, minando a essência humana com ganância e falta de contenção.

Enquanto nos entregamos à gula, perdemos de vista não apenas os limites do bom senso, mas também a conexão com o próximo e a empatia que deveriam reger nossas ações. O ato de se empanturrar até a obesidade mórbida enquanto outros sofrem com a escassez e a fome revela uma lacuna profunda em nosso entendimento sobre partilha e solidariedade. A gula, nesse contexto, não é apenas uma questão de excesso alimentar, mas um reflexo da falta de amor ao próximo e de uma desconexão com a realidade dos menos favorecidos.

Contrapondo a voracidade da gula, surge a prática do jejum e da abstinência como um antídoto para os males do excesso. O jejum, presente em diversas tradições religiosas e culturais ao redor do mundo, não apenas promove benefícios físicos, como a desintoxicação do corpo e a regulação metabólica, mas também nutre a espiritualidade e fortalece a disciplina mental. Ao abster-se temporariamente dos prazeres da mesa, o indivíduo é convidado a refletir sobre a própria relação com a comida, a cultivar a gratidão pela abundância e a praticar a moderação.

A prática do jejum nos recorda que a essência humana foi moldada na escassez e na parcimônia, não na busca desenfreada por prazeres fugazes e excessivos. Ao jejuar, reconectamo-nos com a simplicidade da existência, aprendemos a valorizar cada alimento como uma dádiva e a respeitar os ciclos naturais de saciedade e privação. Nesse processo de autoconhecimento e renúncia temporária, encontramos a oportunidade de reconectar não só com nosso próprio ser, mas também com o mundo ao nosso redor.

É fundamental ter em mente que o jejum não é apenas uma prática individual de purificação, mas também um lembrete da responsabilidade coletiva que temos para com os outros seres humanos. Enquanto nos deleitamos com banquetes opulentos, há aqueles que lutam diariamente pela sobrevivência, sem ter o pão e a água necessários para saciar a fome básica. O jejum nos convida a olhar para além de nossos próprios desejos e a estender a mão àqueles que mais necessitam, lembrando-nos de que a verdadeira riqueza reside na partilha e na compaixão, não na ganância e no esbanjamento.

Assim, ao refletirmos sobre a gula e suas consequências, contrastando-a com as positividades do jejum e da abstinência, somos instados a reconectar-nos com nossa essência mais profunda, a cultivar a moderação e a generosidade, e a lembrar que, como seres humanos, fomos forjados na escassez e na solidariedade, não na avidez e na indiferença.

ESCRITORES E CIA
Enviado por ESCRITORES E CIA em 26/09/2024
Reeditado em 26/09/2024
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