MÓVEIS E UTENSÍLIOS
Dia desses publiquei a crônica - A Mesa - em que ressaltei a importância daquela peça, soberana noutras épocas, mas que caiu no limbo dos desnecessários na atualidade e num dos comentários, o confrade Osnir da Silva destacou a ausência de tais peças nos países a partir do médio oriente.
Claro que a minha hipótese carece de estudo aprofundado dos vetores sócio antropológico e ambientais para tal fato, mas podemos intuir que foram as condições ambientais e o nomadismo quem inibiu o uso das mesas por aqueles povos.
A maioria de nós, os ocidentais, em algum momento, mudamos de casa.
Para perto ou para longe, o transporte dos móveis sempre foi algo incômodo.
Existem até aqueles que fazem questão de alugar as casas já mobiliadas a fim de se poupar dessa tarefa inglória de arrastar móveis “caminhando por las calles sin parar, de arriba a abarro”(*).
Salvo em alguns pontos, onde vicejam florestas magníficas, o continente asiático é predominantemente desértico, montanhoso, varrido por ventos fortes e sol causticante sobre os solos férteis ao Sul, cristalinos no intermédio e congelados ao Norte, sendo por essa razão, carente de madeira além da necessária ao fogo doméstico para luz e calor, e que frequentemente é substituída pelo estrume de camelo, naturalmente secado ao sol.
A ocupação do continente remonta a período imemorial e 60% da humanidade de hoje vive por aquelas paragens.
Algumas dessas populações usam o nomadismo como alternativa para alimentação própria e dos animais que são os fornecedores da maior parte do material necessário para manutenção da vida simples que têm. Vivem nas tendas feitas com as peles dos animais que lhes serviram de alimento e que são facilmente transportadas quando precisaram buscar outros locais pelo esgotamento dos recursos naturais.
São exímios artesãos com fios de diversas origens, confeccionam tapetes que, de tão primorosos, já inspiraram lendas de que podem voar e é sobre essas peças cuidadosamente estendidas ao rés-do-chão, coloridas, com intrincados arabescos, contendo frases edificantes do Corão ou das histórias milenares, que as famílias se reúnem para as refeições, sentadas em almofadas ricamente decoradas.
São raros os talheres. O alimento é retirado da vasilha em torno da qual estão sentados, colocado no pão e saboreado com chá por todos os participantes, com satisfação e comunhão perfeitas.
No Leste do continente e nas ilhas oceânicas, o bambu e outras gramíneas deram origem aos tatames e pequenas mesinhas em torno das quais se realizam (ou realizavam) as cerimônias do chá.
Devemos levar em conta que, há pouco mais de mil anos, as refeições dos povos no Leste do Mediterrâneo (turcos, fenícios, gregos, egípcios, hebreus, etc.) eram feitas com as pessoas recostadas em cadeirões como se demonstram em filmes de épocas baseados nos afrescos romanos recém descobertos sob as cinzas e piroclastos expelidos pelo Vesúvio no ano 79 dC. sobre Pompeia e Herculano.
Em todo continente asiático, a mesa e seus anexos, tal como a conhecemos, só se tornou de uso obrigatório no império russo, talvez por influência das casas reais europeias que desde o Rei Arthur e seus cavaleiros, criaram a Távola Redonda.
CITAÇÃO
(*) = La Banda Borracha. Cúmbia de Rafael Sanches Molina, colombiano.