Cuidadora
Ela, com certeza, nasceu para que na segunda idade se transformasse em cuidadora de idosos. No título, escrevi apenas Cuidadora, sem o adjetivo de idoso, porque a vida toda ela cuidou de pessoas de todas as idades.
A irmã dela foi cuidadora de um casal por longos dez anos. Atenciosa, dedicada, ocupava-se com esmero dos descendentes de alemães que moravam à beira de um rio. A morada era um luxo. Pratarias antigas, sempre reluzentes, insinuavam um clima de realeza. Fora contratada quando trabalhara em hospital e dispendia carinho e atenção com os enfermos, principalmente anciões.
Ela trabalhava de ajudante de enfermeira, em um hospital. Os filhos de um casal ali internados, convidaram-na para trabalhar junto a seus pais. Família rica, ela recebia generosa remuneração. Quando o casal de idosos morreu, os filhos, com o intuito de recompensar os excelentes serviços como cuidadora, a presentearam com a casa, escriturada em seu nome, além de todo o mobiliário nela existente.
Meu pai, com o avanço da idade, tornou-se debilitado e passou a requerer auxílio. Somando-se a isto a terrível pandemia devido à proliferação do vírus batizado como Covid, meu pai não pôde mais desfrutar os prazeres que lhe agradavam: passear, cobrar o dízimo de porta em porta ou mesmo ir à missa.
Para completar, perdeu um genro que ele amava e que, diariamente, o acompanhava na oração do terço, mesmo que à distância, pelo telefone celular. Sem contar ter quebrado o pé, o impossibilitando caminhar sem ajuda de um andador ou bengala ou mesmo apoiado em alguém.
Contratamos uma cuidadora. Mas para melhor atender meu pai, eu e meus irmãos decidimos que cada um de nós, uma vez por mês, nos deslocaríamos até a casa do pai e passaríamos o final de semana junto a ele, permitindo um descanso a minha irmã e um irmão que cuidam dele a semana inteira. Minha esposa, Zélia, sempre me acompanhou nos finais de semana que eu estava incumbido de cuidar do pai.
Com o passar do tempo, Zélia concluiu ser muito pesada a carga para meus irmãos e decidiu aumentar nossa estadia: ao invés de dois, permanecíamos oito dias com meu pai. A partir daí tornou-se, sem querer, uma cuidadora. O que a difere das cuidadoras profissionais é o fato de cuidar de um parente idoso sem qualquer remuneração.
Zélia cuida de meu pai, que está com 96 anos, ministrando-lhe remédios, tratando da alimentação, da higiene, da segurança e, especialmente, do conforto e bem-estar do sogro.
Ela é paciente, compreensiva com as limitações dele, sempre o auxiliando da melhor maneira possível. O tratamento que ela dispensa a meu pai dá a sensação de que seria assim que gostaria de ser tratada se estivesse na mesma situação.
Em meu nome, em nome de meu pai e de meus irmãos, quero externar aqui o agradecimento por tudo que Zélia está fazendo pelo nosso pai.
Aroldo Arão de Medeiros
13/08/2021