Incoerência - BVIW
Lembro-me de, quando criança, envolvida na brincadeira com os amiguinhos, ficar muito brava quando mamãe me dizia que era hora de voltar para casa. Eu queria sempre mais um pouco de diversão, mais um tempo, nada era suficiente. Mamãe costumava dizer: “amanhã também nasce o sol”, mas eu não entendi o porquê de esperar o sol de amanhã, se o de hoje ainda estava lá brilhando...
A idade me trouxe essa paciência da moderação. O exagero cansa. O prazer em excesso enjoa, vira tédio. Um pouco de cada vez é o melhor jeito de fruir as coisas boas da vida. Degustar cada gole, sem pressa. O sorvete que estou saboreando hoje, calmamente, pode ser repetido amanhã, porque o sol vai nascer novamente.
Mas não deixa de ser engraçado, até incoerente que, quanto menos amanhãs estejam à nossa disposição, menos vontade temos de viver como se ele não houvesse...
Tema: Como se não houvesse amanhã (Crônica)
Lu Narbot