JARDINS

Desde sempre os vegetais exerceram forte influência sobre mim. Ainda criança cultivava cactos, depois canteiros, gramados, arbustos, árvores, hortinha, flores, bonsai...

São encantadores esses seres autônomos e autossuficientes que estão por aqui muitos milênios antes de nós e que, apesar de tudo ou qualquer coisa que fizermos, permanecerão quando não restar nem a mais vaga lembrança de que por aqui estivemos em algum tempo qualquer.

Elas sempre foram lindas e imponentes em minha casa.

Flamboyant, acácia amarela, pau brasil, nim, acerola, pitanga, os gramados desde a calçada ajardinada, entre os canteiros do jardim e no quintal, a hera medrando sobre o muro, o manacá, as rosas, orquídeas, margaridas e tantas outras flores, muitas flores convivendo com rabanetes, cenouras, cheiros e couves entre samambaias e avencas..., mas tudo isso ficou em Pernambuco.

Neste primeiro andar onde moro, apenas antúrio e avenca acenam, sob ação do vento, para os dias que passam, mas longe de ser tormento para mim, a falta das plantas é compensada pela consciência de que não há espaço para os seus desenvolvimentos e bem-estar, além de que eu não tenho mais os atributos físicos de outrora.

Mas isso não impede de me deliciar ao assistir os filminhos que o youtube disponibiliza com as atividades dos jardineiros daquelas paragens que nos acostumamos a chamar de primeiro mundo; a condenar as ações deles, quando não concordo com o que estão fazendo e, dizer a mim mesmo, se fosse eu, faria assim...

Talvez seja insanidade, mas me divirto com essa tolice.

Tanto lá quanto aqui, as plantas são complemento indispensável ao bem-estar psicológico dos seres humanos e esse fato é comprovado, quando lá fora, nas estações espaciais, os astronautas manifestam a necessidade de cultivar plantas para aliviar a mesmice do dia-a-dia galáctico.

É motivo de grata satisfação e orgulho para nós brasileiros, sabermos que a nossa EMBRAPA, expoente mundial em agricultura, está desenvolvendo o programa e definindo os métodos para sanar essa carência atual, além de fazer os experimentos para definição da viabilidade de espécies que serão cultivadas com os recursos que sabemos disponíveis na Lua e em Marte.

Mas o que melhor chama a atenção e é, enfim o objetivo desta crônica, é a evolução das ferramentas que são utilizadas na jardinagem, a facilidade do manuseio e a excelência dos resultados.

Via de regra, são elétricas, não mais aquele motorzinho malcheiroso e barulhento.

Os cortadores com fios de nylon continuam a exercer suas funções básicas, mas cederam espaço para as lâminas ninja, estreladas, com diversos níveis de corte.

Tesouras grandes e pequenas, serras e podões que antes nos enchiam de calos (bem-vindos, mas dolorosos) agora são acionados com o apertar de simples botão.

Gadanho, ancinho e vassoura foram substituídos por turbina de ar e a pá pelo aspirador que compacta as folhas ao mesmo tempo em que deixa o chão como se elas nunca tivessem passado por lá e os galhos, são transformados em pó de serra em segundos...

Seguindo o mesmo princípio das máquinas de cortar cabelo, as máquinas de podar possuem estrutura alongada, semelhantes a do peixe-serra, com dentes fixos e móveis que, praticamente, penteiam as plantas para ficarem com o desenho que se quer dar, cortando tudo com a urgência de um satanás irado.

E aquela trabalheira que ocupava integralmente os finais de semana, agora se faz em poucas horas.

Viva o progresso e os avanços dos dias atuais...